Capítulo 3

— Não é que ele não tenha se banhado, jovem mestre — tentou explicar a senhora Rosa a Cassian —. O nome dele é Elliot. Tem a mesma idade que você… e o sangue dele é negro.

— Negro? — murmurou Cassian, franzindo a testa com incredulidade.

— Por favor, aceite Elliot como seu novo servo pessoal, jovem mestre. Nesta mansão já não restam mais candidatos — pediu a senhora Rosa com seriedade.

Cassian exalou com frustração. Não tinha paciência para lidar com servos incompetentes, mas também não queria complicar as coisas para Rosa, então, a contragosto, aceitou.

— Está bem — disse com desinteresse.

— Obrigado, jovem mestre — respondeu a senhora Rosa, dando um tapinha no ombro de Elliot como quem diz para ele trabalhar bem.

Elliot não disse nada, apenas assentiu em silêncio, sentindo o olhar do alfa sobre ele.

A senhora Rosa se retirou, deixando-os sozinhos na enorme biblioteca.

— Há algo que o jovem mestre precise? — atreveu-se a perguntar Elliot, mantendo a cabeça baixa.

Cassian voltou a se concentrar em sua leitura, folheando um grosso livro de negócios.

— Nossa, parece que você sabe falar — comentou com um toque de zombaria.

Elliot apertou os lábios, incomodado.

— Então ficarei calado.

Cassian arqueou uma sobrancelha.

— Sente-se. Essa é sua primeira tarefa.

Elliot obedeceu de imediato e sentou-se em uma cadeira perto dele, atento a qualquer instrução. No entanto, o esgotamento o venceu. Não havia comido nem dormido bem em dias e, antes que percebesse, acabou adormecendo, seu corpo incapaz de resistir mais.

.

.

Passaram-se várias horas. Quando Elliot acordou, sentiu algo macio sob seu corpo. Piscou várias vezes, confuso. Já não estava na cadeira de antes, mas sim em um sofá da biblioteca.

— Jovem mestre…? — chamou em voz baixa, mas Cassian já não estava.

O pânico se apoderou dele.

— Será que me meti em problemas por adormecer? Será que me despedirá? —

Assustado, decidiu procurar a senhora Rosa para explicar o sucedido, mas a mansão era demasiado grande e acabou se perdendo nos intermináveis corredores.

— Como volto para a zona dos servos? — murmurou para si mesmo, sentindo-se como se estivesse em um labirinto.

Enquanto isso, a senhora Rosa, ao notar sua ausência, revisou as câmeras de segurança para localizá-lo.

— Elliot… — suspirou a mulher ao encontrá-lo. Ele havia terminado em um corredor pouco transitado, perto do armazém.

Quando Elliot a viu, correu até ela.

— Senhora… acho que cometi um erro. Certamente o jovem mestre me despedirá!

— Quem te disse isso? O jovem mestre não disse nada — respondeu Rosa com calma —. Vamos, volte para o seu quarto. Deve se preparar para o jantar.

Elliot assentiu e começou a se afastar.

Na família Lancaster, era tradição que todos os membros se reunissem para jantar.

— É suposto que eu o alimente? — murmurou Elliot, ainda sem entender completamente seu papel como assistente pessoal.

"De qualquer forma, devo me desculpar por ter adormecido", pensou Elliot, decidido a não se render.

Em seu quarto, encontrou um uniforme de servo e algumas peças de roupa de reserva. Trocou de roupa, agradecido pela ajuda de Rosa, e prometeu fazer o seu melhor.

Quando chegou a hora do jantar, Elliot recebeu sua primeira tarefa: ir buscar o jovem mestre.

Outro servo o guiou até o quarto de Cassian.

— Bata na porta e anuncie-se — indicou o companheiro.

— Obrigado — respondeu Elliot com um leve aceno.

Respirou fundo e bateu na porta.

— Jovem mestre, sou eu…

— Entre.

A voz de Cassian ressoou desde o interior, grave e autoritária.

Elliot abriu a porta com cautela.

O quarto era amplo e luxuoso, com um design europeu clássico que o lembrava dos palácios da realeza que havia visto na televisão.

Cassian estava aplicando perfume após ter saído do banho e trocado de roupa.

Elliot lembrou-se do sucedido na biblioteca e baixou a cabeça.

— Perdoe-me, prometo que não voltarei a adormecer — disse com humildade.

Cassian observou-o com indiferença.

— Não importa. Embora eu tenha pedido que você se sentasse, acabou adormecendo — comentou sem dar muita importância.

O Alfa aproximou-se e parou mesmo em frente a ele, seu aroma impregnando o ar.

Elliot engoliu em seco, sentindo-se algo intimidado pela presença dominante de Cassian.

— Sinto muito, jovem mestre. Por favor, não me demita.

Cassian olhou-o fixamente.

— Não tenho intenção de demiti-lo porque você tem uma qualidade especial.

Elliot ergueu o olhar com surpresa.

— Uma qualidade…?

Cassian inclinou-se levemente para ele, seus olhos escuros brilhando com um vislumbre de diversão.

— Sua única qualidade é que você é feio, ômega.

Elliot piscou, confuso.

— Ah? Isso é um elogio ou um insulto, jovem mestre? — Disse enquanto inclinava a cabeça.

...

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