Capítulo 4 -
Clara acordou no meio da noite, o suor frio escorrendo pela testa, a respiração ofegante e o coração acelerado. A escuridão do quarto a envolvia, mas algo parecia diferente. Ela sentia uma pressão no ar, uma sensação de que não estava sozinha, como se as sombras ao seu redor estivessem observando. O silêncio da noite, que normalmente a acalmava, agora a sufocava. Algo a incomodava, algo que ela não conseguia identificar.
Ela se sentou na cama, os olhos fixos no vazio, enquanto tentava entender o que havia acontecido. O sonho... Era isso que a estava atormentando. Ela se lembrou dele com clareza, como se tivesse acabado de viver aqueles momentos. O pesadelo não a deixava em paz. Ela sabia que não era só um sonho comum, algo o tornava real de uma maneira que ela não conseguia explicar.
No sonho, ela estava em uma floresta densa, coberta por uma névoa espessa que a cegava. O ar estava pesado, como se a própria natureza estivesse respirando junto com ela. O som dos seus passos na terra úmida era abafado pela densa vegetação, mas ela podia sentir algo a observando. Algo que se movia nas sombras, sempre à distância, mas nunca distante o suficiente para não ser notado. Clara não sabia por que estava ali, mas sabia que tinha que continuar andando. Algo, ou alguém, a chamava.
A floresta estava em completo silêncio, exceto pelo som do vento que parecia arranhar as árvores. Cada vez que ela se virava, as árvores pareciam mudar de lugar, criando um caminho novo, como se estivessem se reorganizando ao seu redor. Ela estava perdida. A sensação de não saber para onde ir era esmagadora, mas algo a impulsionava a seguir em frente, como se houvesse uma verdade esperando por ela.
O cheiro de terra molhada e folhas podres preenchia suas narinas, e, quando olhou para o chão, notou que o solo estava coberto por uma camada espessa de folhas secas. Mas, à medida que ela caminhava, os estalidos de cada passo pareciam mais altos, mais perturbadores, como se a própria floresta estivesse sentindo sua presença.
Então, ela ouviu.
Um som, fraco à princípio, mas crescente. Passos. Não os dela, mas de outra pessoa. Alguém a estava seguindo. O coração de Clara disparou, mas ela não conseguiu se mover. Seus pés estavam presos ao chão, como se a terra estivesse grudada nela, impedindo-a de fugir. O som dos passos ficou mais alto, mais perto, até que ela não pôde mais ignorá-los. Ela olhou para trás, mas não viu nada. A floresta continuava a mesma.
Ela tentou gritar, mas sua voz estava presa em sua garganta. O medo era tão intenso que mal conseguia respirar. O ar parecia se tornar mais denso a cada segundo, tornando-se quase impossível se mover. Mas, ainda assim, seus pés começaram a se arrastar, forçando-a a continuar a caminhada. O som dos passos continuava atrás dela, agora mais apressados, como se estivessem acompanhando o ritmo de seu próprio pânico.
Foi quando a neblina ao seu redor começou a se dissipar. Clara podia ver agora, finalmente. À sua frente, uma figura apareceu. Alto, imponente, com uma capa negra que parecia flutuar acima do chão. Não podia ver seu rosto, mas sentia os olhos fixos nela, como se ele soubesse exatamente quem ela era. O medo a paralisou, mas a curiosidade a puxava para frente, como se algo a compelisse a se aproximar dessa figura enigmática.
A figura não disse uma palavra. Não precisava. O olhar penetrante, cheio de uma intensidade inexplicável, dizia tudo. Clara tentou dar um passo à frente, mas seus pés estavam pesados, como se estivesse tentando atravessar uma água densa. A figura fez um movimento, e, de repente, o chão ao seu redor se abriu.
Ela caiu.
O abismo abaixo de ela parecia interminável. Clara não sabia se estava caindo ou se estava sendo puxada para baixo. O medo tomou conta de seu corpo, mas não havia nada que ela pudesse fazer. Ela estava sendo arrastada para a escuridão, sem poder gritar, sem poder lutar. O vazio a consumia. A sensação de que o tempo havia parado, que não havia fim para a queda, fez com que ela perdesse a noção de si mesma.
E, então, a queda parou. Clara aterrissou com um impacto suave, sem dor, mas com um sobressalto que a fez abrir os olhos. Ela estava em um novo lugar. O cenário era diferente, mas a sensação de inquietação permanecia. Ela estava em um corredor estreito, iluminado por velas tremeluzentes. As paredes eram feitas de pedra fria, e o ar estava pesado, como se o lugar fosse carregado de uma história sombria. Ela não sabia o que fazia ali, mas sabia que não deveria estar.
O corredor parecia se estender infinitamente à sua frente, mas não havia caminho de volta. Ela olhou para os lados, tentando encontrar uma saída, mas os espaços entre as paredes estavam fechados. Ela estava presa. E, à medida que olhava para o final do corredor, uma figura surgiu diante dela. A mesma figura que a observava na floresta.
Ela não podia ver seu rosto, mas sabia que ele estava ali para algo. Algo que estava além do que ela entendia. Ela tentou se mover, mas, novamente, seu corpo estava preso. A figura deu um passo em sua direção, e, no momento em que seus olhos se encontraram, Clara sentiu como se fosse arrancada de dentro de si mesma.
A sensação de ser puxada para aquele olhar era insuportável, como se o próprio tempo estivesse se dobrando, se distorcendo, e ela estivesse prestes a ser consumida por algo muito maior do que ela poderia compreender. A figura estendeu a mão em sua direção, e, sem saber como, Clara estendeu a sua também. Mas, antes que pudesse tocá-la, a figura desapareceu em um flash de luz branca, deixando Clara sozinha no corredor, o vazio consumindo-a uma vez mais.
Ela acordou com um sobressalto, os olhos arregalados, e o corpo suado. O quarto estava silencioso, as sombras da noite ainda estavam ali, mas o pesadelo continuava em sua mente. Clara não conseguia tirar a imagem da figura da cabeça, nem o sentimento de que o corredor estreito e escuro ainda estava à sua frente. Como se tivesse sido transportada para aquele lugar, como se tivesse tocado o impossível.
O que significava aquele sonho? E por que ele a estava perseguindo?
O som do vento lá fora trouxe-a de volta à realidade. Mas, ao olhar para o relógio, Clara soube que nada seria o mesmo a partir daquele momento. O que ela havia visto, sentido e vivido naqueles poucos minutos de sono não era apenas um sonho. Era um aviso. Mas de quem? E o que significava tudo aquilo?
O quarto estava silencioso, mas em sua mente, os ecos do sonho ainda ressoavam.
...
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Atualizado até capítulo 30
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