Um dia após o beijo

Ai Deus ,o que eu fiz!? Eu não consegui resistir a atração que estava sentindo por Cassie,ela estava tão linda naquele vestido preto, fica tão engraçada e bonita quando mente, as bochechas ficam vermelhas e ela se torna mais graciosa ainda. Não resisti ao calor do seu corpo junto ao meu, ao cheiro doce do seu perfume e aconteceu... simplesmente aconteceu! Só espero que ela não desista de trabalhar aqui, se bem que eu acho que será difícil...Como iremos nos olhar amanhã, no dia seguinte?

Vou me deitar pensativo e o sono custa a vir ,tive vontade de bater no quarto do Noah e pedir desculpas ou pedir para ela me beijar novamente...Espanto os pensamentos e fecho os olhos.

Na manhã seguinte, não saí do quarto, o corpo estava dolorido,acho que estou gripado.

—Como está se sentindo, meu menino?

—Bem...bem mal!

—Oh,que exagero! Vocês homens são frouxos, é só um resfriado!

Susan me trouxe uma bandeja com sopa de abóbora bem quente, já que acordei quase ao meio-dia.

—Como está o meu filho? - pergunto

— Aprontando todas lá em baixo! Estamos loucos com ele,agora ninguém o segura.

—Todos já voltaram?

—Sim, menos o motorista,pois trabalhou ontem.

—Hum...e...a Cassie?

—Ela foi para casa.

Quase pulo da cama.

—Ela se demitiu?!

—Não, ela também trabalhou ontem e amanhã é a sua folga,vai emendar dois dias de descanso.

—Melhor assim...

Me recosto na cama para poder tomar a minha sopa.

—Por que é melhor assim?- pergunta Susan,desconfiada.

—Não... é que o Noah está muito apegado a ela, e isso não é bom.

—Ele já choramingou sentindo falta dela, mas conseguimos distraí-lo. - ela segura a minha mão - Nick, sei que você amava muito a Adriely, na verdade, não sei se era amor o que você sentia, era quase doentio,uma obsessão... enfim, você é jovem e...

Não espero que ela complete a frase.

—Já sei o que vai dizer, que devo me casar novamente. Mas tudo tem o seu tempo Susan, e sinceramente não estou pensando nisso agora.

—Eu sei meu menino, só não quero que você se feche. Lembro que era um rapaz tão alegre , cheio de amigos, hoje o único amigo que tem e vê com constância é o Michael.

—E você não gosta dele, que eu sei!

— Não gosto mesmo! - Ela olha para o alto como se soubesse de alguma coisa.- Ele não é confiável, eu já lhe disse isso!

— Por que fala com tanta certeza?

—Por nada, é só uma intuição!

......................

Não consegui dormir direito pensando naquele beijo, só pode ter sido o vinho. Perdi a vergonha na cara e beijei o meu patrão na noite de Ano Novo!

Assim que amanheceu e Susan chegou ,corri para casa, não queria encontrar com ele, sei que não posso fugir para sempre e terei que vê-lo mais cedo ou mais tarde,mas, não hoje, não agora em que as minhas emoções e sentimentos estão aflorados e eu posso trocar os pés pelas mãos.

— Como foi a noite filha?

— Ótima ,mãe. Dormi junto com o bebê.

Odeio mentir para os meus pais, mas como poderia contar para eles que bebi uma garrafa de vinho caríssimo sozinha, escondido do meu patrão e ainda o beijei? Eles irão chamar o reverendo Carl aqui em casa na mesma hora e falar que estou possuída pelo espírito de Jezabel!

—Os Millers nos convidaram para almoçar com eles, por que não vem conosco ?

—Ah não, vou ficar aqui, quietinha dentro de casa.

— Eu não fiz comida,não tem nada aí e você e as panelas não são melhores amigas...

Sem opção e sem a mínima vontade de cozinhar para mim mesma, acompanho os meus pais até a casa dos meus vizinhos. Ainda bem que não estavam recebendo ninguém de fora, éramos somente nós, o casal de idosos, os dois filhos a nora e os dois netos.

— Cassie,você está cada dia tão mais bonita, minha filha! Esse emprego tem feito bem a você, estou te achando com o rostinho mais iluminado. Parece até que está apaixonada!

Fico sem graça e senti o meu rosto pegar fogo.

— Impressão sua ,senhora Miller! Eu não estou apaixonada, a não ser pelo meu garotinho, o Noah é um bebê muito lindo e especial..Sinto falta dele quando estou de folga, às vezes parece até que ele é o meu filho!

— Mas não é , ele é filho do Senhor Nicolas ,e você deveria arrumar um bom homem para se casar e ser mãe dos seus próprios filhos! - diz minha mãe

— Só falta esse bom homem aparecer...

— Às vezes ele já apareceu, mas você não consegue enxergá-lo.

Dylan diz a frase no meio da mesa do almoço, os pais dele e os meus se olham e sorriem de canto. Eu olho para Peggie, a cunhada dele,que sorri pra mim.

—Quem sabe? - respondo

Após o almoço, acompanho Peggie brincando com os filhos na neve, que caiu na noite anterior. Enquanto eles fazem guerra com bolinhas e constroem castelos ou bonecos,nós conversamos.

— Meu cunhado está completamente apaixonado por você é nítido! Ele conversou com meu marido, disse que vai pedir a você para se conhecerem intimamente.

— Mas eu não gosto dele não dessa forma!

— E de quem você gosta? Cassie, tem alguém no seu coração?

Não respondo nada e fico em silêncio, nem mesmo eu sei se há alguém no meu coração. Será que eu estou apaixonada pelo Nicolas ou é apenas carência misturada ao desejo e a convivência diária que estamos tendo? E mesmo se eu estiver apaixonada por ele, qual o futuro teríamos juntos? Existe um abismo entre nós. Eu, uma mulher divorciada, que passou por abandono sem perspectiva de futuro, tentando me reerguer da maneira que eu posso e um homem traumatizado, quebrado e muito rico! São realidades distintas que nos separam.

—Sinceramente, Peggie? Eu não sei ! E tenho medo de saber !

— Por que não dá uma chance ao Dylan? Ele é um bom rapaz, você formaria uma família linda com ele, eu acho que vale a pena você olhar para o meu cunhado com mais carinho.

Eu o vejo brincar com os sobrinhos e o irmão na neve, começo a pensar no futuro. O Dylan daria um bom pai, um bom marido, a minha vida seria essa aqui ,no subúrbio. A vida de uma mulher casada com um militar do exército. Será que é isso que eu quero? Não seria uma vida ruim, mas seria essa vida que me faria feliz de verdade?

Antes de ir embora, ele me procura.

— Não esqueci que você prometeu tomar um café comigo.

— Eu não esqueci, só não tive muito tempo com essas festas de final de ano, o trabalho...

—Eu sei...que tal amanhã,assim que sairmos do culto dominical? Podemos ir até centro da cidade patinar no Rockefeller Center, almoçar em algum lugar, dar uma volta no Central Park...

—Um encontro?

—Sim.Um encontro,oficial!

Penso por alguns segundos, resolvo aceitar, eu não vou alimentar a ilusão dentro de mim, prefiro viver a realidade, não quero me arriscar para sofrer novamente.

—Combinado! Amanhã após o culto!

Vou para casa o deixando com um sorriso no rosto e uma expectativa de estar fazendo a coisa certa.

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