Kyera respirou fundo, decidida a manter a compostura e ignorar a presença dele, mesmo com as lembranças dolorosas e o turbilhão de emoções que sua aparição provocava. Ela conheceu Lews Hart durante uma das corridas clandestinas. Embora não fosse um corredor, Lews era um espectador frequente, sempre cercado por uma aura de charme e confiança. Foi com seu magnetismo e popularidade que ele se aproximou de Kyera, e, eventualmente, conquistou-a. Ele foi o primeiro.
Certa manhã, ao chegar ao galpão onde ele costumava se reunir com outros corredores, Kyera se deparou com Lews vangloriando-se, diante de seus amigos, por ter conseguido dormir com a “corredora mais implacável da cidade”. Foi ali que ela descobriu que todo o encanto e o esforço dele para conquistá-la não passavam de uma estratégia para vencer uma aposta.
Humilhada, Kyera se fez presente naquele momento apenas para que ele soubesse que ela sabia da farsa. Com um sorriso que exalava desprezo e clareza, ela virou as costas e se foi. Nos dias seguintes, Lews tentou de todas as formas se reaproximar, enviando mensagens e fazendo ligações pedindo uma conversa, dizendo sentir muito a sua falta. Todas as tentativas foram ignoradas por Kyera. Mas o orgulho de Lews não aceitava a derrota, e ele começou a persegui-la, assediando-a de todas as maneiras possíveis, inclusive no trabalho.
— O que vai beber? – perguntou em tom sério, mantendo-se firme em uma postura profissional.
Lews riu com desprezo antes de soltar sua cantada habitual.
— Que tal um pouco da água dessas belas lagoas que você carrega nos olhos?
Kyera revirou os olhos e fez uma careta de desagrado.
— Suas cantadas são tão ridículas quanto você, Lews. – rebateu com rispidez. – E, além disso, estou ocupada. Então peça algo ou vá embora, de preferência, da cidade.
Lews, no entanto, parecia se divertir com a provocação e continuou, com seu tom repleto de arrogância.
— Você realmente se acha a rainha do pedaço, não é mesmo? Mas é só mais uma, Kyera. Mais uma que não consegue resistir aos meus encantos.
Kyera respirou fundo, mantendo a calma. Ela sabia que Lews estava tentando provocá-la, e ela se recusava a cair em sua armadilha.
— Lews, caso você não tenha percebido, o único que não se cansa dessa brincadeira de cão e gato é você. – Ela segurou o queixo dele, aproximando seu rosto com um olhar desafiador. – Por que você não me deixa em paz? Caso contrário, eu chamo a polícia.
Ao empurrá-lo, tentando se afastar, Lews reagiu rapidamente, agarrando o braço de Kyera com força. O sorriso desapareceu de seu rosto, substituído por um olhar sombrio.
— Não se atreva a dar as costas para mim, Kyera! – rosnou ele. – Ninguém ignora Lews Hart. Muito menos você.
A tensão aumentou rapidamente, e Kyera puxou o braço com força, tentando se soltar.
— Tire suas mãos de mim!
Ela gritou, mas o som da música abafava sua voz. Quando tentou se desvencilhar, Lews agarrou seu cabelo e o puxou brutalmente. Kyera estava pronta para usar suas habilidades de autodefesa, mas então viu, pelo reflexo no espelho atrás do bar, o brilho de um canivete na mão dele. Seu corpo congelou por um instante, o medo percorrendo sua espinha.
Antes que Lews pudesse fazer qualquer coisa, um dos colegas bartenders de Kyera interveio, desferindo um soco no rosto dele. Lews cambaleou para trás, colidindo com um cliente que, irritado por ter sido derrubado junto com sua bebida, começou uma briga. A confusão rapidamente tomou conta da boate, com gritos e empurrões se espalhando pelo salão.
Os seguranças lutavam para conter o tumulto, mas logo a situação ficou fora de controle. A polícia foi chamada, e Lews, junto com outros clientes envolvidos na confusão, foi preso. Enquanto isso, Kyera, ainda em choque, foi levada para um canto pelos colegas, que tentavam acalmá-la.
Passava das três da manhã quando as coisas finalmente se acalmaram na Mambo Five. Lilla, a namorada de Philipp, estava furiosa com Kyera, insistindo que ela fosse demitida por “causar problemas”.
Kyera, ainda abalada pelo ocorrido, sabia que a situação com Lews estava longe de ser resolvida, mas, naquele momento, o mais importante era manter a calma e se recompor.
— Eu a quero fora daqui! – gritou Lilla, furiosa, sem se preocupar em disfarçar sua indignação.
Lilla era uma mulher exuberante, sempre vestindo roupas apertadíssimas que destacavam seu corpo esguio e seus seios fartos, resultado de implantes de silicone. Seus lábios preenchidos com botox e as lentes de contato azuis, somadas à maquiagem pesada, davam-lhe uma aparência quase artificial. E, infelizmente, Philipp parecia amar aquele projeto de perfeição plástica mais do que qualquer coisa.
— Lilla, bebê… – começou Philipp, tentando apaziguar a situação enquanto caminhava até ela no salão agora vazio.
Kyera, por sua vez, estava no bar, concentrada em contar as bebidas usadas e as remanescentes, tentando ignorar o escândalo da morena. Mas Lilla interrompeu Philipp antes que ele pudesse continuar.
— Sem “bebê”, Philipp! – ela disparou, levantando uma mão em sinal de impaciência. – Ela e o namorado dela já causaram prejuízos demais!
Kyera respirou fundo, porque sabia que Lilla tinha razão. Não era a primeira vez que Lews causava confusão ao ir atrás dela. O que Kyera não conseguia entender era por que Lews insistia em persegui-la, e naquela noite ele havia cruzado um limite, tentando matá-la.
— Mas, bebê… Entenda… – Philipp tentou argumentar. – A Kye é a melhor bartender que temos. Não podemos simplesmente demiti-la.
— Contrate outra! – Lilla vociferou, colocando as mãos na cintura. – Não é possível que só ela saiba fazer esse trabalho nesta maldita cidade!
Kyera observava ambos como se estivesse assistindo a uma partida de tênis, enquanto outros funcionários começavam a protestar em sua defesa. Mas Lilla, decidida, soltou sua ameaça final.
— Philipp, você escolhe! – Ela apontou para Kyera. – Ou ela sai, ou saio eu!
Com um último olhar frio em direção a Kyera, Lilla virou-se e saiu rebolando em direção ao escritório. Kyera suspirou, já prevendo qual seria a decisão de Philipp.
— Kye, eu…
— Está tudo bem, Phill. – Kyera o interrompeu, erguendo uma mão e forçando um sorriso. – Lews causou muitos problemas nos últimos dias e, esta noite, ele tentou me matar. Ele é um perigo, não só para mim, mas para todos aqui.
Philipp suspirou, antes de abraçá-la.
— Vou sentir sua falta, menina. – sussurrou ele.
Kyera assentiu, com lágrimas nos olhos, e deu-lhe um beijo rápido nos lábios. Ela ouviu Lilla grunhir ao fundo, como um porco selvagem, e não resistiu: ergueu o dedo do meio em direção à mulher, que ficou paralisada de choque. Com um sorriso de satisfação, Kyera atravessou o salão, se despedindo de cada um de seus amigos.
— O que vou fazer sem você? – Sophie exclamou, abraçando-a de forma dramática e exagerada.
Kyera soltou uma risada, afastando-se para encarar a amiga com um sorriso no rosto.
— Exagerada como sempre! – disse, revirando os olhos. – Você vai ficar bem, Soph. Não é o fim do mundo. Ainda seremos amigas, e você sabe onde me encontrar se precisar.
Sophie assentiu, abraçando-a novamente. Após se despedir, Kyera saiu da boate. Assim que pisou no beco, uma chuva fina começou a cair. O clima de Nova York era a única parte ruim de viver na cidade, ela pensou.
Kyera respirou fundo, levantando o rosto para o céu, permitindo que a chuva lavasse suas lágrimas. Tudo o que desejava naquele momento era descansar em sua cama, longe dos problemas e da confusão daquela noite.
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Atualizado até capítulo 73
Comments
Patricia Gomes
Perfeito
2025-01-13
1
Fenix
/CoolGuy//CoolGuy//CoolGuy/
2025-01-13
0
Didi Low
Adorável
2024-12-25
0