Capítulo 5 — A Armadilha

A floresta amanheceu mais silenciosa do que o habitual, como se pressentisse o perigo iminente. O cheiro úmido da terra parecia carregar um aviso, e até mesmo o canto dos pássaros era tímido, abafado pela tensão que pairava no ar. Zé da Mata e Rosa Morena caminhavam lado a lado, atentos a cada som, a cada sombra que dançava entre as árvores.

— Eles não vão desistir fácil, Zé — disse Rosa, sua voz baixa, mas carregada de convicção.

— Eu sei — respondeu ele, apertando os punhos. — Mas também não vamos.

Os dois haviam se afastado do abrigo de Mestre Bento para buscar informações e, talvez, traçar um caminho mais seguro pela mata. Sabiam que os capatazes não eram apenas cruéis, mas astutos. Sua vingança viria, e, como predadores famintos, não parariam até recuperar o que consideravam "seu".

Do outro lado da floresta, os capatazes se moviam como uma matilha organizada. Armados com facões, cordas e cães ferozes, espalhavam-se pela mata em busca de sinais de Zé e Rosa. O chefe do grupo, um homem de rosto severo e cicatriz na bochecha, ordenava que montassem armadilhas ao longo das trilhas mais usadas por fugitivos.

— Eles não vão longe. A floresta pode protegê-los por um tempo, mas nós somos mais espertos — disse ele, com um sorriso cruel.

Eles cavaram buracos e cobriram com galhos e folhas, colocaram cordas escondidas para prender tornozelos e espalharam rastros falsos para confundir — cada armadilha um lembrete do preço da liberdade.

Zé e Rosa avançavam cautelosamente, seus olhos atentos procurando pegadas, sinais de atividade humana, qualquer coisa que pudesse indicar perigo. Lembravam-se das lições de Mestre Bento:

— A floresta fala. Vocês só precisam aprender a ouvir.

Foi Rosa quem notou primeiro. Um amontoado de folhas no chão parecia... errado. Não havia galhos caídos, nem sinais de vento forte que pudessem justificar aquilo.

— Zé, espera — disse ela, segurando o braço dele.

Ele parou, inclinando-se para examinar o chão. Com um pedaço de galho, afastou cuidadosamente a folhagem, revelando um buraco fundo, com estacas afiadas no fundo.

— Quase que a gente cai nessa — murmurou ele, o rosto tenso.

— Eles tão por perto, Zé.

— Vamos dar a volta, Rosa. A gente precisa sair daqui.

Mas antes que pudessem se mover, o som de latidos ecoou pela mata, vindo de várias direções.

O casal começou a correr, os pés batendo contra o chão macio da floresta. O som dos cães ficava mais próximo, acompanhado pelo grito dos capatazes.

— Ali! Vão pra esquerda! — Zé gritou, apontando para uma trilha que parecia mais segura.

Mas, ao pisar nela, sentiu algo puxar seu tornozelo. Uma corda escondida esticou-se de repente, prendendo-o. Ele caiu no chão com força, o ar escapando de seus pulmões.

— Zé! — gritou Rosa, voltando-se para ajudá-lo.

Ela cortou a corda com a faca que carregava, mas o som da queda havia alertado os capatazes.

— Eles tão aqui! Rápido!

Rosa puxou Zé, e os dois começaram a correr novamente, mas os capatazes estavam perto demais. Um deles surgiu entre as árvores, empunhando um facão.

— Parem aí! — gritou, com um sorriso cruel nos lábios.

Zé e Rosa pararam, mas não por medo. O treinamento com Mestre Bento havia ensinado que, às vezes, a melhor defesa era esperar pelo momento certo para agir.

— Parece que a floresta não protege tanto assim, né? — zombou o capataz, avançando devagar.

Zé deu um passo à frente, bloqueando o caminho de Rosa.

— Quer a gente? Então vem buscar.

O capataz avançou, mas Zé estava pronto. Ele esquivou-se do golpe de facão com um movimento ágil, girando o corpo para desferir um rabo de arraia que acertou o homem na lateral do rosto. O capataz caiu no chão, atordoado.

Outro apareceu, vindo pela esquerda, mas Rosa o enfrentou. Com a faca curta em mãos, bloqueou o ataque inicial e, em seguida, usou a ginga para desequilibrá-lo.

— Bora, Rosa! — gritou Zé, puxando-a pela mão.

Os dois correram novamente, agora mais resolutos do que nunca.

A fuga parecia um jogo interminável de vida e morte. A cada passo, sentiam o perigo respirando em seus calcanhares. Mas a floresta, como um velho aliado, parecia abrir caminho.

— Por aqui! — Zé puxou Rosa para uma passagem estreita entre duas rochas, coberta de raízes.

Os capatazes, mais corpulentos, tiveram dificuldade em segui-los. Um deles tentou passar, mas ficou preso nas raízes, xingando alto.

— A floresta tá do nosso lado, Zé — disse Rosa, quase sem fôlego.

— Sempre esteve, Rosa. A gente só precisa continuar confiando.

Após horas fugindo, Zé e Rosa finalmente encontraram um lugar para descansar: uma caverna pequena, escondida por galhos e pedras. Sentaram-se no chão, os corpos exaustos, mas os olhos ainda brilhando com a adrenalina da fuga.

— Eles tão ficando mais espertos, Zé. — Rosa quebrou o silêncio.

— Eu sei. E isso só significa que a gente precisa ser mais esperto que eles.

— A gente só conseguiu hoje porque Mestre Bento ensinou como se mover na floresta.

— É. E agora é nossa vez de usar o que aprendemos pra continuar livres.

Rosa encostou a cabeça no ombro de Zé, o coração ainda acelerado.

— Não importa o quanto eles tentem, Zé. A gente vai continuar lutando.

Ele passou o braço ao redor dela, apertando-a contra si.

— E vamos vencer, Rosa. Porque a liberdade deles é feita de medo, mas a nossa é feita de coragem.

Enquanto descansavam, Rosa lembrou-se das palavras de Mestre Bento:

— A capoeira é mais do que uma luta. É um grito de liberdade, uma história contada com o corpo.

Eles não eram mais apenas fugitivos. Eram guerreiros, filhos da terra, da resistência e da esperança. E, enquanto houvesse vida em seus corpos, continuariam lutando.

Lá fora, a floresta os cercava como uma fortaleza viva, sussurrando promessas de proteção.

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