Olivia tentou se mexer, mas seu corpo estava pesado, sua visão turva. Ela sentia um nó na garganta, o coração batendo forte, e o som de seu próprio ofegante fôlego parecia ecoar em seus ouvidos.
Com um esforço doloroso, ela tentou se levantar, mas a dor a fez se encolher. Ela olhou ao redor, tentando localizar Zack ou Letícia, mas o avião estava em silêncio. As luzes de emergência piscavam, e o cenário era desolador. Restos de poltronas, partes da estrutura do avião.
Com muito esforço, ela se soltou do cinto e começou a rastejar pelos corredores escuros e escombrosos, ouvindo gemidos e suspiros de dor. O silêncio foi opressor, mas Olivia sabia que a luta pela sobrevivência estava apenas começando.
Olivia: Zack! — O viu caído no meio do corredor.
Ela se levantou e foi até ele, o balançou na esperança de que ele só estivesse desmaiado, ao perceber que ele estava morto procurou por Letícia, que estava com o corpo lançado na frente do avião. De longe se via que ela também estava morta.
Olivia: Alguém me ouve?
Responda por favor!
O silêncio era quebrado apenas pelos estalos das chamas que começavam a consumir o avião.
Olivia: Alguém? Por favor responda!
Precisamos sair daqui. — Seus olhos percorriam procurando algum sinal de vida.
Roberto: Aqui! Preciso de ajuda!
O cinto emperrou.
Ela seguiu a voz do homem e foi até ele, com as mãos trêmulas tentava desemperrar o cinto. Enquanto ela o ajudava, continuou gritando, buscando por mais alguém. Ela escutou de longe um choro de criança, ela procurou e, no fundo do avião viu um menino sacudindo os seus pais.
Olivia: Ei, pequeno... Precisamos sair daqui.
Davi: Não, eu quero ficar com os meus pais!
Olivia: Meu anjinho, nos estamos correndo perigo! Confia em mim.
Davi: Não! Eu quero ficar com os meus pais! Por que eles não acordam?
Olivia sentiu um aperto no coração, mas não havia tempo. A janela ao lado da criança estourou com o calor do fogo, espalhando cacos de vidro pelo chão.
Olivia: Meu anjinho, confia em mim, precisamos sair daqui agora!
Ela o pegou no colo, enquanto ele se debatia, se agarrando aos pais.
Davi: Não quero ir!
Roberto: Tem mais alguém aqui? — Gritou.
Lorena: Socorro! Minha perna tá presa!
Roberto: Onde você está?
Lorena: Aqui na frente!
Olivia coloca Davi no chão e pega algumas mochilas de emergência na cabine. Roberto soltou a perna de Lorena e correram para onde estava Olivia.
Roberto: O que faremos?
Olivia: Precisamos sair daqui! Esse avião vai explodir!
Eles saltaram pelas janelas e correram. Após alguns segundos o avião explodiu e foram lançados pro chão.
Roberto: Estão todos bem?
Davi: Minha mamãe! — Gritou indo em direção à explosão.
Roberto: Cuidado! — Puxou o menino e em seguida aconteceu outra explosão e uma parte da asa quase os atingiu.
Olivia: Você tá bem?
Davi: Eu quero os meus pais! — Chora.
Ela ajoelhou de frente a Davi, puxando-o para seus braços enquanto ele chorava desesperadamente. A fumaça no ar tornava a respiração difícil, e os estalos das chamas do avião destruído criavam uma trilha assustadora ao fundo.
Olivia: Eu sei, meu anjinho, eu sei... — Sussurrou, tentando acalmá-lo enquanto suas próprias lágrimas começavam a cair.
Mas agora precisamos ser fortes, tá bom? Seus pais iam querer que você ficasse seguro.
Roberto, ainda ofegante, olhou ao redor, avaliando o cenário desolador. A densa floresta que cercava o local do acidente parecia infinita. Ele limpou o suor da testa e se virou para Olivia.
Roberto: Precisamos sair daqui o quanto antes
É perigoso, pode acontecer mais explosões ou até... Atrair animais.
Lorena, com o rosto sujo de fuligem e ainda mancando por causa da perna ferida, concordou.
Lorena: Ele tem razão. Mas para onde vamos?
Estamos no meio do nada!
Olivia se levantou, mantendo Davi próximo a ela, e olhou ao redor, procurando algo que pudesse orientar o grupo. Ela sabia que precisava tomar a liderança naquele momento, mesmo que estivesse completamente perdida e com medo.
Olivia: Vamos para dentro da floresta. É arriscado, mas pelo menos ficamos longe das explosões e da fumaça e também vai ser mais fácil encontrarmos água.
Roberto: E precisamos fazer um abrigo.
Olivia: Sim, esse é o principal.
Eu consegui pegar essas duas mochilas de emergência antes da explosão.
Roberto ajudou Lorena a se levantar, apoiando-a com o braço em volta da cintura dela. Davi segurava firme na mão de Olivia, ainda soluçando, mas sem forças para protestar.
Eles começaram a caminhar, tentando abrir caminho entre as árvores densas e os galhos que pareciam agarrá-los. Cada som na floresta parecia amplificado, o canto distante de pássaros, e o estalar dos gravetos sob seus pés ecoavam como se fossem ameaças iminentes.
Davi: Estou cansado, minhas pernas já estão doendo.
Roberto: Ajuda ela! Eu carrego ele.
Olivia concordou e foi ajudar Lorena, Roberto põe Davi no cangote e seguem a longa caminhada. De repente, ele parou abruptamente e ergueu a mão para que os outros fizessem o mesmo.
Roberto: Escutaram isso?
Olivia: O quê? — Sussurou.
Roberto: Água!
Tem um riacho por perto. Ouçam.
Com os ouvidos atentos, os quatro podiam ouvir o som suave de água corrente à distância. A esperança brilhou por um instante no olhar de todos.
O grupo apressou o passo, ignorando a exaustão e a dor, movidos pelo instinto de sobrevivência. Ao chegar ao pequeno riacho, eles caíram de joelhos, aliviados.
Olivia: Precisamos ficar aqui por enquanto...
Temos água e isso é o mais importante agora.
Amanhã, tentamos encontrar ajuda ou alguma forma de nos comunicar.
Davi se sentou ao lado de Olivia, abraçando o próprio corpo enquanto tremia. Seus olhos, arregalados de medo, mal piscavam. Olivia passou a mão suavemente pelo cabelo sujo de fuligem do menino, tentando acalmá-lo.
Olivia: Ei, meu amor, respire fundo.
Vamos ficar bem. Eu prometo.
Ele ergueu o olhar, ainda com lágrimas escorrendo pelo rosto.
Olivia: Qual é o seu nome?
Davi: Davi.
Olivia sorriu com gentileza, tentando criar uma conexão.
Olivia: Que nome bonito! Sabe... eu quase dei esse nome ao meu filho? Ele tem mais ou menos a sua idade.
Davi: Sério?
Olivia: Sério. Acho que é um nome forte, de alguém muito corajoso.
Mas no final escolhemos Lucca.
O menino deu um sorriso tímido, o primeiro desde o acidente, mas logo voltou a olhar para o vazio.
Davi: Eu nunca mais vou ver os meus pais...
Ela sentiu o coração apertar. Aquelas palavras, ditas de forma tão simples, carregavam um peso que ela sabia que ele não deveria suportar.
Olivia: Vamos cuidar de você, tá bem? Eu sei que é assustador, mas você é muito forte, Davi. E seus pais iriam querer que você ficasse seguro agora.
Davi assentiu, mas não disse mais nada. Enquanto isso, Roberto e Lorena, sentados perto deles, tentavam organizar os pensamentos. Roberto tinha um corte feio no braço, e Lorena pressionava o tornozelo inchado, claramente com dor.
Olivia: E vocês, como se chamam?
Roberto: Roberto.
Lorena: Lorena. Você é a comissária, certo?
Olivia: Sim, sou Olivia.
Houve um momento de silêncio, quebrado apenas pelo som distante das árvores balançando.
Roberto: É uma tragédia o que aconteceu.
Tantas vidas... Perdidas em questão de segundos.
Olivia abaixou o olhar, sentindo o peso de suas palavras.
Olivia: Eu... Em todo o tempo que trabalho com aviação, nunca passei por algo assim. O máximo foi uma turbulência ou um pouso forçado.
Mas ver uma turbina pegar fogo... Sentir o avião despencar daquele jeito...
Lorena: Parece um pesadelo, mas não dá pra acordar. — Disse olhando ao redor.
Roberto: E não sabemos nem se alguém vai nos encontrar tão cedo.
Olivia olhou ao redor. A área era cercada por mata fechada, e a fumaça da explosão ainda subia para o céu.
Olivia: Não podemos perder a esperança. Temos que nos organizar. Eu trouxe kits de emergência nas mochilas.
Roberto: Eu posso ajudar a montar algo para fazer sinal de fumaça. Quem sabe um helicóptero nos veja?
Olivia: Boa ideia. Mas primeiro, vamos cuidar dos ferimentos de todos.
Ela abriu a mochila de emergência e começou a distribuir o que encontrava: curativos, mantas térmicas e água. Enquanto isso, Lorena observava Davi, que não soltava Olivia.
Lorena: Ele perdeu os pais, não é? — Sussurra.
Olivia: Sim. Ele ainda não absorveu a informação.
Lorena assentiu, tentando conter as lágrimas.
Roberto: Então vamos fazer o que der para sobreviver.
Olivia olhou para ele e depois para Davi, que ainda a abraçava.
Olivia: Sim, eles vão nos encontrar. Mas, enquanto isso, somos uma equipe agora. Vamos cuidar uns dos outros.
As palavras dela ecoaram no grupo, trazendo uma fagulha de determinação. O medo ainda estava lá, mas agora havia algo mais, uma esperança frágil, mas suficiente para continuar.
Olivia: Posso ver seu corte?
Roberto: Sim!
Olivia: Vou limpar e enfaixar sua ferida, vamos torcer pra não infeccionar...
A noite começava a cair, e a escuridão da floresta trouxe um novo peso ao grupo. Eles precisariam lutar contra o medo, a fome e a incerteza, mas pelo menos estavam vivos. E isso, naquele momento, já era o suficiente.
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Comments
Cecilia geralda Geralda ramos
emocionante e muito triste.
2025-01-15
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Pedro Miguel
Muito bom Autora
2024-12-28
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