Han
Não sei se ele tem consciência do quanto fico nervoso, quando ele está aqui, e me observa de longe... Parece que perco o meu fôco, e começam-me a faltar ideias para novos passos. Esta coreografia é importante para a apresentação da nova música deles, e eu tenho que montar uma coreografia perfeita, mas com ele aqui, fica dificil...
Sei que ele não fáz ideia, do que a sua presença me provoca, e é bom que assim seja. Afinal, sou apenas o coreógrafo das suas danças e é esse o estatuto que tenho ou terei. Posso até tentar aproximar-me dele, e tornar-me seu amigo, mas até agora, ele não parece muito interessado nisso, ou sequer em mim. Sei que ele tem mais dificuldade do que os outros em encaixar à primeira os passos e a sincronização, e por isso perde mais tempo dentro desta sala, observando-me. Tento fazer tudo mais devagar, pois sei que ele tenta memorizar os passos. Admiro a dedicação dele. Admiro que ele não se deixe abater pelas dificuldades e que não desista, de sempre tentar fazer melhor... June, é o nome dele. Lembro-me do dia que o conheci, como se fosse hoje.
Podemos dizer que é possivel apaixonarmo-nos por uma voz? Porque acho que foi isso que me aconteceu naquele dia. Estava no estúdio, para ensaios com outra banda, quando na nossa pausa, numa ida à casa de banho, passei pela sala de gravações, que tinha a porta encostada, e de lá saia o som da voz mais bonita que eu já tinha ouvido na vida... Não consegui deixar de ficar ali, encostado na parede, a ouvir... O meu coração acelerou tanto, apenas com aquele som. E isso fez-me querer saber, quem era o dono daquela voz, e por causa disso, naquele dia não fui logo embora, após o ensaio, como era meu costume. Fiquei à espera que as gravações terminassem, para saber quem estava por detrás daquela voz. Sabia que havia uma nova aposta na agência, mas ainda não tinha conhecido nenhum dos meninos. Sabia também que estavam na fase de gravar as vozes individualmente primeiro, para ver o estilo que encaixava melhor a cada um.
Esperei, fazendo tempo na sala de ensaios, e acabei criando uma coreografia, toda inspirada naquela voz... Quando percebi que terminavam, fiz de conta que estava para ir embora e saí da sala, que era ao lado da de gravação. Mark, o agente da nova banda, estava cá fora, com um rapaz que vesitia um fato de treino preto, de camisola larga, com gorro. Tinha um ar descontraido, com uma pequena argola na orelha direita e um brinco preto, redondo, na esquerda, e o sorriso mais bonito que eu já vira na vida. Um arrepio percorreu o meu corpo inteiro, exatamente como no momento que o ouvira cantar...
" - Oh, Han!! Ainda bem que estás aqui, queria mesmo falar contigo!" - Cumprimentou-me Mark, animado.
Parei ao lado deles, pedindo interiormente que ninguém reparasse como eu tremia...
" - Olá Mark, como vais?" - Tentei soar o mais casual possivel.
" - Estou ótimo. Queria apresentar-te o June. Ele fáz parte da banda nova, que vai estrear no verão, os Bluies."
Eu olhei para June, e ele continuava a sorrir, de olhos brilhantes. Estendi a minha mão, mais uma vez implorando a mim mesmo que não tremessem...
" -Olá, June. Sou Han, prazer..."
Ele devolveu-me o cumprimento, entusiasmado:
" - Olá! Espero que nos demos bem.."
Aquela voz... Senti por momentos que ia levitar do chão. O meu estômago dava voltas e sentia um formigueiro dentro dele...
" - Han, queria mesmo falar contigo, pois tu foste selecionado para a equipa de coreógrafos dos Bluies..." - Mark informava-me agora.
O meu coração disparou ainda mais... O quê? Eu ia ser o coreógrafo deles? Eu ia estar, a partir daquele momento, práticamente todos os dias com June? Eu mal cabia em mim, de tanta alegria que senti por dentro, mas claro que tinha que manter a calma e não dar a entender a euforia que sentia no peito.
" - A sério?? Claro!!! Sabes que para mim é sempre um prazer..." - Repondi, tentando manter o meu lado mais profissional.
" - Eu sabia que não me falhavas..." - Foi a resposta aliviada de Mark.
E foi assim, que de há 3 anos para cá, eu passei a ser o coreógrafo principal, dos Bluies. E de todas as vezes que ele vem sózinho, horas antes dos outros meninos, eu ainda me sinto exatamente da mesma forma... Nervoso, inquieto, com medo de errar os passos que eu próprio criei.
Consegui estabelecer uma grande ligação com todos eles, mas no que toca ao lado pessoal, ele foi o único que não me deixou entrar no seu mundo. Ficámos próximos, claro, mas não tanto como com os outros membros, que já me consideravam mais um amigo, que um mentor.
Ás vezes eu ficava triste com isso, mas por outro lado, achava que era melhor mantermo-nos assim, afinal, eu tinha medo que a admiração que sentia por ele, escalasse para outros campos, e isso só iria complicar a minha vida, mais ainda....
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Atualizado até capítulo 35
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