Desejo em Cham

Desejo em Cham

Capítulo 1 – O Encont

Capítulo 1 – O Encontro

O som suave dos sinos da porta indicava a entrada de mais um cliente na livraria de Isabel. Ela olhou rapidamente por cima dos óculos e sorriu, como fazia com todos que passavam por ali. A livraria, com suas prateleiras de madeira escura e o cheiro de páginas envelhecidas, era seu refúgio, o lugar onde ela se sentia segura e no controle. O movimento era constante, mas as vendas não eram a principal razão para ela manter o negócio. Era a paixão pelos livros, pelas histórias que, de alguma forma, preenchiam o vazio de sua vida pessoal.

Naquele dia, tudo parecia igual. Até que ele entrou.

Gabriel. Ele não se encaixava ali. Alto, cabelos negros levemente despenteados, usando um terno sob medida que destacava seu físico atlético. Seus olhos, de um tom profundo de castanho, pareciam analisar cada detalhe ao seu redor, como se estivesse a procura de algo... ou de alguém. Havia uma aura de mistério em torno dele, algo que Isabel não conseguia ignorar. Quando ele parou em frente ao balcão, a energia entre eles mudou, o ar pareceu carregar uma eletricidade silenciosa.

— Posso ajudar? — Isabel perguntou, sua voz saindo mais firme do que esperava, embora o calor subisse em seu peito.

Ele sorriu, e o sorriso foi como uma faísca, acendendo algo dentro dela. Um sorriso que parecia saber exatamente o que causava.

— Eu estou procurando algo — disse ele, sua voz grave e com um sotaque levemente estrangeiro, algo que a fez prestar ainda mais atenção. — Algo... envolvente.

Isabel ficou em silêncio por um momento, sem saber se ele se referia a um livro ou a algo mais. Aquela troca de olhares, aquele sorriso... Era uma sensação estranha, quase como se estivesse sendo puxada para ele, sem escolha. Ela respirou fundo, tentando se recompor.

— Algum autor em mente? — perguntou, se forçando a manter o tom profissional.

Gabriel aproximou-se do balcão, apoiando as mãos fortes na madeira polida. Havia algo no modo como ele a olhava, seus olhos fixos nos dela, como se conseguisse ver algo além da fachada que Isabel mantinha cuidadosamente.

— Estou aberto a sugestões — ele disse lentamente, com uma intensidade na voz que fez o corpo dela se arrepiar. — Acho que você sabe exatamente o que me recomendar.

Isabel sentiu o rosto esquentar, e não era apenas pelo calor repentino que tomou conta do seu corpo. Havia uma tensão entre eles que ela nunca experimentara antes, uma sensação de perigo e desejo, misturados em uma combinação irresistível. Ela puxou um livro aleatoriamente da prateleira ao lado, mais para desviar o olhar e tentar recobrar o controle de si.

— Esse... é um clássico, O Amante, de Marguerite Duras — disse ela, colocando o livro à sua frente.

Gabriel pegou o livro com delicadeza, seus dedos roçando os dela por um breve segundo, mas o suficiente para fazer o coração de Isabel disparar. Ele leu a contracapa, mas parecia mais interessado nela do que nas palavras impressas.

— Um romance... ousado — disse ele, com um sorriso no canto da boca. — Perfeito.

Isabel engoliu em seco, tentando ignorar o quanto a presença dele a afetava. Ela deveria se sentir incomodada com a intensidade daquele encontro, mas ao invés disso, sentia-se magneticamente atraída, como se estivesse sob um feitiço.

— É uma leitura fascinante — respondeu ela, tentando soar neutra.

Gabriel colocou o livro sobre o balcão, mas em vez de se afastar, ele a encarou por mais alguns segundos que pareceram se alongar no tempo. Isabel percebeu que mal respirava, presa naquele olhar, até que ele finalmente falou novamente, com a voz rouca.

— Aceitaria me encontrar para discutirmos mais sobre essa leitura? Digamos, esta noite?

Ela sabia que deveria dizer não. Ele era um completo estranho. Mas o calor que percorria sua pele, a excitação crescente que ela sentia simplesmente por estar perto dele, tornavam impossível recusar.

— Sim, eu... sim, eu aceito — respondeu, surpreendendo até a si mesma.

Gabriel sorriu, um sorriso que prometia mais do que apenas uma conversa sobre livros. Ele pegou o livro e caminhou até a porta, mas antes de sair, olhou por cima do ombro e disse:

— Às oito, no restaurante ao lado. Não se atrase.

E então, ele desapareceu pelas ruas da cidade, deixando Isabel sozinha no balcão, com o coração batendo acelerado e uma sensação de que sua vida acabava de tomar um rumo que ela jamais esperaria.

Fim do Capítulo 1

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