02. Talvez eu tenha trombado com o assassino.

Taehyung
Taehyung
— Ah... Com isso não poderá mais dar entrevistas para a TV, mas ao menos ainda podemos ir à festa a fantasia da escol‐
Jungkook
Jungkook
— A-aí! — em reflexo, desferi um tapa na mão de Taehyung antes ocupada em cuidar do corte de minha bochecha, o que resultou em um tapa de retorno enquanto olhos repreensivos me fizeram baixar a cabeça. — Acho que prefiro me livrar de alguns vermes no RPG.
Taehyung
Taehyung
— Ah, Jun... Vamos, por favor...
Eu não queria, juro que não, mas sempre que ele fazia aquela cara: sobrancelhas tortas em um "N" ofuscando no meio, bochechas magras, lábios estendidos e o olhar de cachorro pidão, um único cachorro pidão que faz meu coração dolorido vibrar, sempre cedo.
Em um piscar de olhos, depois que eu cedi e concordei, um Taehyung todo animado dançava ao som de "Paint The Town Red" fantasiado de Coringa, o da nova versão do Esquadrão Suicida, enquanto colocava uma capa preta nos meus ombros, pois — por escolha totalmente sua e cedi por livre e espontânea pressão — eu seria a Morte.
Segui a atenção ao carpete rosa escuro do seu quarto, a fileira de sapatos bem organizada na última prateleira de seu armário de roupas, alguns ursos fora de uma caixa ao lado de sua cama que sempre indicaram o que eu sempre soube: Ele ainda dormia com tudo aquilo, mesmo que não admitisse, e nunca permitiria que seus pais jogassem fora nem mesmo o ursinho daquele treco com asas azul que anda junto de um filme aí da Barbie que ele me obrigou a assistir uma vez.
O seu favorito.
Um toque suave no meu queixo, quente, me faz levantar a cabeça quando nem percebi que abaixei. Olhos azuis fazem meu coração acelerar com tudo, sorrio para sua expressão acolhedora me analisando.
Taehyung
Taehyung
— Falta apenas uma coisa... — disse, afastando meus longos cabelos apenas na franja para trás da orelha.
A volta que deu foi no ritmo, rebolando sutilmente e se inclinando com o apoio de um pé só até a cama, retornando como se estivesse fazendo um passo de balé, com um lápis preto entre os dedos.
Jungkook
Jungkook
— De jeito nenhum você vai passar isso em mim.
Taehyung
Taehyung
— Fique quieto!
Ele passou. E me convenceu sutilmente, apenas pelo fato de ter ficado próximo, confundindo meus pensamentos demais para me fazer pensar, mas não o suficiente para impedir minha imaginação furtiva, arrastando-se pelas brechas do bloqueio emocional que eu deveria ter para me fazer pensar como seria encurtar um passo de distância e me embriagar ainda mais em seu hálito de cereja por conta do doce que ainda agora estava chupando.
Percebo que seus lábios estão cobertos por um gloss brilhante e um batom vermelho que se estende até suas bochechas. Seu rosto está todo branco de maquiagem e seus olhos estão fortemente delineados com sombra preta, que cobre toda a pálpebra até as sobrancelhas.
Taehyung
Taehyung
— Seus olhos são bonitos. — disse ele.
Pisquei os olhos várias vezes, processando aquilo por um tempo excessivo. Dou uma risadinha discreta.
Jungkook
Jungkook
— Nunca me disseram isso antes.
Taehyung
Taehyung
— Não entendo o porquê. Eu gosto deles.
Umedeço meus lábios, e Taehyung fazer o mesmo me causa um frio na barriga. Balanço a cabeça.
Jungkook
Jungkook
— Costumam dizer que tenho um rosto sério... Olhos frios, pálpebras baixas como se estivesse sempre cansado, é só isso. Mas soa sexy…
Sua risadinha atingiu partes que eu nem sabia que ainda tinham vida em minhas pernas. Arregalei os olhos enquanto seu corpo balançava no ritmo da nova música "Thriller", de Michael Jackson. Completamente apropriado para uma noite de Halloween.
Jungkook
Jungkook
— Você já bebeu? — ergui uma sobrancelha segurando a cintura quando questionei. Ele abanou a cabeça em negação.
Taehyung
Taehyung
— Não, mas espero ficar bêbado o suficiente para não querer perguntar novamente por que seu rosto está todo fodido.
Jungkook
Jungkook
— Talvez dessa vez eu não tenha escutado, e sim trombado, com o suposto assassino em série com a máscara do personagem do filme Pânico.
Taehyung
Taehyung
— Por favor, não brinque com isso! — seus braços me envolveram por cima dos ombros. Não retribuo, apenas guardo as mãos nos bolsos. — Você desapareceu por duas semanas dessa vez... Não faça mais isso, eu quase morro de preocupação.
Jungkook
Jungkook
— Hum.
Taehyung
Taehyung
— Hum, nada!
Kim Taehyung, era a única pessoa na Terra em quem eu podia confiar. Quando ando de ônibus ou estou em um ambiente social com meus fones de ouvido, que não tocam nada, apenas para ignorar qualquer um que tente falar comigo, tenho o hábito de olhar para as pessoas e imaginar como seria a morte delas e como seria se eu fosse o responsável por suas mortes.
Perguntas sem respostas giravam em minha mente enquanto eu articulava um plano de como faria isso dependendo do porte físico da vítima ou do gênero.
O que será que é mais doloroso? Perder para um acidente ou por assassinato?
Será mesmo que aquela pessoa não merece ser assassinada? Eu sempre escutei muito sobre Deus dentro de casa, pois Josh, quando não está bêbado, está pregando e rezando pelos cantos. Ele me bate desde que me pegou para criar e me força a fazer suas vontades em tudo, para depois se arrepender em um confessionário e tudo está resolvido.
Depois disso, ele irá para o céu? Se tiver arrependimento verdadeiro, mesmo Josh sendo tão ruim, ele irá para o céu?
Mesmo assediando meninas mais jovens com suas palavras hostis, me levando ao hospital diversas vezes por esquecer de algumas coisas a que eu tinha alergia quando pequeno, ou por espancamento…
Ele ainda irá para o céu?
Irá depois de ser um cuzão com a sua mãe que o trata tão bem e um puta mentiroso?
Se funciona assim, posso me arrepender um dia por ter matado o rapaz no hospital por pura curiosidade de como era a morte. Da sua temperatura e textura da pele. O desespero em volta, a sensação que seria tirar a vida de alguém e saber que causou sofrimento em outras pessoas, que agora não era só ele que estava sofrendo.
Não consigo controlar esses pensamentos às vezes, assim como não consigo controlar quando minha imaginação me leva à expressão de uma moça ou rapaz bonito morto. Ainda vão continuar irritantemente bonitos mesmo assim?
Penso que matar pessoas por serem bonitas é meio mesquinho demais até para mim.
E também…
Olho para a frente, e o azul me analisa com uma expressão curiosa, como se não conseguisse parar de se perguntar o que estou pensando. Matar pessoas bonitas envolveria Kim Taehyung. Então, estou definitivamente fora.
Taehyung
Taehyung
— Você sabe que pode contar comigo para tudo, não sabe? — ele perguntou.
Em que um menino rico poderia me servir levando a vida que levo?
Jungkook
Jungkook
— Você me ajudaria a matar alguém?
Taehyung riu alto demais. Sua mão foi para a barriga e seu corpo foi em direção à saída do quarto rapidamente, deixando uma mão balançar.
Taehyung
Taehyung
— Dentro do personagem demais, Jeon Jungkook. Vamos, mamãe fez biscoitos para a gente, e uma festa de arromba nos aguarda.
Jungkook
Jungkook
— "De arrasar" não é bem a melhor expressão. — suspirei desanimado, sendo ignorado por uma rabisca até que pálpebras tão afiadas como a ponta de um alfinete me perscrutaram, cada pedacinho. — Nunca vi um coringa vestindo rosa. — brinquei.
Recebo um dedo no meio em resposta, agora Taehyung some de minha vista, perdendo-se pelo próprio corredor, e sinto que finalmente posso respirar fundo. Sua cor predileta: rosa, mas, controverso ou não, esse rostinho bonito e coração gentil é fã de filmes de terror, documentários sobre casos criminais e ele tem um oija escondido de baixo da cama no qual sua mãe não pode nem sonhar.
Um pedaço dele, é estragado. Acho que me apaixonei por Kim Taehyung justamente quando senti o cheiro do mofo.
Dou um pequeno sorriso quando finalmente caminho até sua sala.
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