Cena no Parque

O sol já começava a se esconder atrás das árvores, tingindo o céu com tons de laranja e rosa. O parque estava tranquilo, com apenas o som distante de algumas crianças brincando e o sussurro das folhas dançando ao vento. Tiago estava sentado em um dos bancos de madeira, nervoso, ajustando pela décima vez o cavalete que segurava a tela branca. Ao lado dele, algumas tintas estavam dispostas com cuidado, e o alto-falante portátil aguardava silenciosamente para tocar a música que ele sabia que tinha um significado especial para Melissa.

Quando ele a viu se aproximando, seu coração acelerou. Melissa estava com o cabelo solto, e o vento gentil brincava com as pontas, dando-lhe um ar despreocupado que a fazia parecer ainda mais encantadora. Ela usava um vestido simples, mas elegante, e seu rosto refletia curiosidade e um toque de nervosismo. Ao perceber a montagem que Tiago havia preparado, ela parou por um segundo, seus olhos se arregalando levemente, antes de sorrir de forma tímida.

“Tiago, o que é tudo isso?” ela perguntou, enquanto ele se levantava e caminhava até ela, tentando esconder o nervosismo por trás de um sorriso confiante.

“Eu queria criar algo especial para você,” respondeu Tiago, com a voz suave, tentando controlar a ansiedade. Ele deu um passo para o lado, revelando a tela em branco e as tintas. “Você disse uma vez que gostava de se expressar através da pintura... então pensei que esse seria o lugar perfeito para você fazer isso.”

Melissa olhou para ele, surpresa. Ela se lembrava vagamente de ter mencionado sua paixão por pintura em uma conversa casual semanas atrás, mas jamais imaginou que Tiago prestaria tanta atenção. Aquele gesto parecia íntimo, cuidadoso... diferente de qualquer coisa que ela já tinha experimentado.

Tiago então caminhou até o alto-falante e, com um clique, começou a tocar a música favorita de Melissa. As primeiras notas suaves de piano preencheram o ar, e ele se virou para ela, observando cada mudança em sua expressão. Melissa mordeu o lábio inferior, segurando um sorriso, enquanto sentia uma onda de emoções inesperadas. “Você lembra dessa música?” ela perguntou, quase sem acreditar.

“Eu não poderia esquecer,” respondeu ele, a sinceridade em seus olhos refletida na luz suave do entardecer. “Quero que você pinte o que sentir, sem pensar, sem regras... apenas seja você.”

Ela ficou em silêncio por um instante, o olhar fixo na tela branca como se estivesse à beira de um abismo desconhecido, mas reconfortante. Sentindo-se inspirada e tocada pelo gesto, Melissa pegou um dos pincéis com a mão trêmula e se aproximou da tela, mergulhando-o delicadamente na tinta azul. A primeira pincelada foi hesitante, mas, à medida que a música avançava, ela foi se entregando ao momento.

Tiago não disse uma palavra enquanto observava, mas seus olhos não a deixavam um segundo sequer. Cada movimento que ela fazia, cada cor que escolhia, parecia carregar uma mensagem, algo não dito, mas sentido profundamente. Ele percebeu como Melissa relaxava, como seus ombros desciam e como a tensão lentamente se desfazia em cada pincelada. Era como se ela estivesse deixando partes dela mesma na tela, e ele estava ali, apenas como um espectador silencioso, mas presente.

Depois de alguns minutos, Melissa se virou para ele, com um sorriso iluminado que o deixou sem fôlego. “Isso... é incrível,” ela murmurou, e Tiago se sentiu aliviado, como se uma parte dele tivesse finalmente sido compreendida.

Sem pensar muito, ele se aproximou, seus passos lentos e cuidadosos, e estendeu a mão para ela. Melissa, sem hesitar, entregou-lhe o pincel. “Agora é a sua vez,” disse ela, sua voz suave e convidativa. Tiago, surpreso com o convite, sorriu de volta e, com um movimento rápido, mergulhou o pincel na tinta vermelha, fazendo uma linha direta sobre a tela que se misturava com as cores de Melissa.