cap 03
Sexta-feira. Eu só queria sobreviver à aula de história sem dormir em cima do caderno. Mas, como sempre, o universo tem planos especiais pra mim.
E por “universo”, eu quero dizer minha boca grande.
Tudo começou quando a professora pediu silêncio e alguém (que definitivamente não fui eu, mas que estava na minha boca no exato momento) soltou um comentário baixo:
—Isso aqui é mais chato que tutorial de impressora.
Ela parou. Olhou diretamente pra mim.
Aryan
— Sala dos professores. Agora.
perguntei, incrédulo, de pé na frente da coordenadora.
— Você vai ajudar o professor de educação física na organização do treino do time de basquete por uma semana — ela respondeu, como se estivesse me dando um prêmio.
Isso não é castigo, isso é uma sentença de morte!
Saí de lá sentindo que estava prestes a viver uma daquelas montagens clássicas de filme adolescente em que o protagonista tropeça no apito do professor e vira alvo de bolas voadoras.
Cheguei no ginásio, e com a camiseta do uniforme e uma expressão de sofrimento tão intensa que o faxineiro me desejou “força” só de me ver entrando.
E lá estava ele: Riker. Suado. Brilhando. Tipo… muito.
Ryker
Olha só quem veio se entregar voluntariamente à humilhação pública
disse ele, girando a bola nos dedos com aquele ar de “sou bonito e sei disso”.
Fui condenado, na verdade
rebati, tentando não olhar demais para os braços dele. Ou o sorriso. Ou o suor. Socorro.
O treinador, um senhor com cara de ex-militar e zero paciência, me entregou uma prancheta e um cronômetro.
Treinador Carlos
Anota os tempos, ajuda na contagem dos passes e tenta não desmaiar.
Treinador Carlos
Não me chama de senhor. Me faz sentir velho. Me chama de… sei lá… Carlos.
Ryker
Você vai ser ótimo nisso, Aryan. Vai dar tempo de sobra pra ficar me admirando da arquibancada.
Aryan
Quem disse que eu te admiro?
Ryker
Seus olhos disseram. Ontem. E hoje. E agora, inclusive.
Corei. Tentei disfarçar olhando pra planilha na prancheta como se ela estivesse escrita em elfico.
Durante o treino, Caleb quase me atropelou tentando pegar um rebote, Jasper tentou me ensinar a girar a bola no dedo (falhei miseravelmente), e Jonh me chamou de “nerdzinho bonitinho” e saiu andando como se não tivesse acabado de destruir minha estabilidade emocional.
Mas no fim, foi Riker quem ficou até depois do treino, me ajudando a guardar o material.
Aryan
Você não precisava ficar
falei, empilhando cones coloridos.
Ryker
Eu quis. Além disso… você é engraçado. Gosto disso.
ele respondeu, simples assim.
Aryan
Sério? Eu sempre achei que fosse só inconveniente.
Ryker
Inconveniente também. Mas de um jeito… legal.
Silêncio. E um silêncio esquisito. Daqueles que você sente o ar mudar. Daqueles que parecem pedir um beijo ou um surto.
Aryan
mas ainda tá muito cedo pra isso
ele continuou, pegando mais uma bola
Ryker
se quiser vim aqui no treino, mesmo sem castigo… você pode.
Aryan
Você tá me chamando pra ver você suar de novo?
Ryker
Tô te chamando pra ver se você continua tropeçando em mim ou começa a tropeçar… por mim.
Meu cérebro travou. Congelou. Deu tela azul.
ele disse, piscando pra mim antes de sair do ginásio.
E lá fiquei eu. No meio do chão do ginásio. Com cones espalhados e o coração fazendo slam dunk dentro do peito.
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