capítulo 10

O Arrependimento de Kauê

A lua cheia iluminava a alcateia da Lua Crescente, mas havia uma escuridão que envolvia Kauê. Sentado no topo de uma colina, ele olhava fixamente para o céu, sem conseguir encontrar paz. Os uivos dos lobos ao longe pareciam ecoar suas angústias, e Mikael, seu lobo interior, estava mais agitado do que nunca.

Desde que rejeitou Melisa, nada parecia estar certo em sua vida. A escolha de afastá-la havia sido feita com a cabeça, e não com o coração. Ele queria uma companheira forte, alguém que pudesse levar a alcateia ao poder junto com ele. Mas, ao escolher outra loba uma que ele achava ser mais adequada para o papel de Luna as coisas não saíram como planejado.

A ligação com sua nova companheira não foi consumada. Mikael, seu lobo, se recusava a aceitá-la. Mesmo nos momentos em que tentavam acasalar, o corpo de Kauê parecia travar, e Mikael rugia em frustração. Era como se seu próprio lobo estivesse punindo-o por ter rejeitado sua verdadeira companheira, Melisa.

Kauê: "Por que não consigo seguir em frente, Mikael? Eu escolhi o melhor para a alcateia!"

Mikael rosnava em resposta, sua voz carregada de raiva e arrependimento.

Mikael: "Você escolheu errado, Kauê. Rejeitou o que era nosso por orgulho. Melisa era nossa verdadeira companheira. A deusa Lua nos deu uma chance e você a jogou fora."

Kauê esfregou o rosto, sentindo o peso do arrependimento. A loba que ele havia escolhido era tudo o que ele achava que queria: forte, destemida, com uma presença impressionante. Mas, ao contrário de Melisa, ela não fazia seu coração bater mais forte. Não havia a mesma conexão, não havia amor... e, mais importante, Mikael a rejeitava completamente.

Kauê: "Eu precisava que a alcateia fosse forte... como posso ser um alfa sem uma Luna forte ao meu lado?"

Mikael rosnou novamente, a dor de seu lobo transbordando em sua voz.

Mikael: "Força não é tudo, Kauê. Melisa era forte de outras maneiras, mas você era cego demais para ver. Agora, você está preso com uma companheira que nunca poderá completar sua alma. Você falhou... e está pagando o preço."

Kauê sentiu o peito apertar. Era verdade. A alcateia estava enfraquecida. A ausência de uma união verdadeira entre ele e sua nova companheira estava impactando a força dos lobos, a harmonia do grupo estava quebrada. Havia um desequilíbrio que ninguém conseguia entender, mas Kauê sabia. Ele sabia que tudo isso era consequência de sua escolha impensada de rejeitar Melisa.

A alcateia, que antes parecia inabalável, agora enfrentava dificuldades. Os lobos mais jovens estavam confusos, os treinamentos não fluíam da mesma forma, e até mesmo as caçadas pareciam menos coordenadas. Os outros alfas começavam a questionar sua liderança, e alguns lobos já começavam a falar sobre a antiga lenda das Lobas Brancas.

Kauê: "A lenda... eu devia ter escutado. Melisa era a chave."

Ele se levantou, a mente fervilhando com arrependimentos. Havia cometido um erro que poderia custar a paz e a força de sua alcateia. Agora, ele sabia que não podia voltar atrás. Melisa tinha ido embora, e ele a havia rejeitado de uma forma que talvez fosse irreversível. O orgulho que o guiou naquela decisão parecia agora uma armadilha, e ele estava preso nela.

Mikael: "Você pode tentar buscar redenção, Kauê. Mas eu te aviso... será tarde demais. Melisa já está seguindo outro caminho, e talvez a deusa Lua já tenha outro destino para ela."

As palavras de Mikael foram como uma punhalada no peito de Kauê. A ideia de que Melisa pudesse estar com outro lobo... outro alfa... o enchia de um ciúme e raiva que ele mal conseguia controlar. Mas ele sabia que não podia culpá-la. Foi ele quem a rejeitou. Foi ele quem quebrou a ligação.

Kauê: "Eu... não posso perder tudo, Mikael. Se eu puder... vou tentar fazer as coisas certas."

Mas Mikael, sempre sincero e direto, respondeu com um tom frio.

Mikael: "Você já perdeu, Kauê. E agora, vai ter que enfrentar as consequências."

Kauê desceu a colina com o peso do mundo em suas costas. Cada passo que dava parecia ecoar sua falha. A alcateia estava em risco, sua liderança estava sendo questionada, e ele estava com uma companheira que nunca poderia ser verdadeiramente sua. Agora, ele começava a entender que o destino não pode ser moldado pelo orgulho, e que algumas escolhas têm consequências irreparáveis.

Dentro de seu coração, a dor de ter rejeitado Melisa só crescia, mas Kauê sabia que não havia volta. A única coisa que lhe restava era tentar evitar que a alcateia caísse... e aceitar o fardo de sua própria arrogância.

Valentina caminhava com passos firmes pelo salão da alcateia da Lua Crescente. Seus olhos, de um tom âmbar feroz, brilhavam com arrogância, e cada lobo que cruzava seu caminho abaixava a cabeça em respeito ou talvez em medo. Ela era conhecida por sua força e destemor, mas também por seu temperamento implacável.

Desde o momento em que Kauê a escolheu como companheira, ela assumiu uma postura de superioridade. Sempre acreditou que merecia estar ao lado de um alfa e comandar uma alcateia poderosa. Contudo, algo nela estava profundamente quebrado. Apesar de todo o poder que emanava, ela sabia que, no fundo, havia sido apenas uma segunda opção. Essa realidade a consumia, criando dentro dela uma raiva silenciosa e uma inveja ardente, especialmente contra Melisa, a loba que ela nunca havia conhecido, mas que já odiava.

Valentina não suportava a ideia de ser rejeitada, mesmo que indiretamente. Ela sabia que Kauê, apesar de ter a escolhido, não a desejava de verdade. As tentativas frustradas de acasalamento deixaram isso mais do que claro. Havia um abismo entre eles, um vazio que Valentina não conseguia preencher, e ela sabia exatamente o motivo: Melisa.

Valentina (pensando): "Quem é essa loba insignificante para ter sido a escolhida de Kauê? Como ousa ser a primeira opção, enquanto eu sou deixada de lado? Eu sou mais forte, mais bela... e eu deveria ser a única ao lado dele!"

O orgulho de Valentina era inabalável. Ela sabia que, em termos de força física e habilidades de combate, superava muitas lobas. Sua destreza nos treinamentos era indiscutível, e ela frequentemente provava ser uma adversária feroz. No entanto, a rejeição invisível de Kauê era como uma ferida aberta que nunca cicatrizava, uma lembrança constante de que, apesar de toda a sua força, ela nunca seria a primeira escolha do alfa.

Seus pensamentos se voltavam sempre para Melisa, mesmo sem conhecê-la. Para Valentina, Melisa representava tudo o que ela desprezava: uma loba que foi vista como fraca, mas que, de alguma forma, ainda conseguiu ser o par legítimo de Kauê. A ideia de que Melisa carregava uma conexão especial com o alfa a enchia de ódio.

Valentina (pensando): "Se eu tivesse a oportunidade... eu mostraria a ela o que é ser verdadeiramente forte. Ela nunca deveria ter cruzado meu caminho."

Ela caminhou até o quarto que dividia com Kauê, mas ele não estava ali. As noites eram sempre solitárias para Valentina, o que só aumentava sua frustração. Desde a rejeição não consumada, o relacionamento deles estava repleto de tensão. Havia um silêncio gritante entre eles, uma ausência de afeto que ela não suportava.

Quando ela se olhou no espelho, viu a imagem de uma loba destemida, mas por dentro... havia algo faltando. A inveja que sentia por Melisa crescia dia após dia, alimentada pelo fato de que Kauê nunca se entregou completamente a ela.

Valentina: "Eu vou provar que sou a única digna de ser a Luna desta alcateia. Eu vou destruir qualquer lembrança dessa loba insignificante... e Kauê será meu, de corpo e alma."

Apesar de suas palavras carregadas de convicção, Valentina sabia que o caminho à frente seria árduo. O vínculo entre Kauê e Melisa, mesmo quebrado, ainda assombrava sua relação. Ela, por mais forte que fosse, não podia ignorar o fato de que, no fundo, Kauê nunca seria completamente dela.

Ainda assim, Valentina era persistente. Seu orgulho e sua natureza competitiva a impediram de desistir. Se havia uma coisa que ela sabia fazer, era lutar. E ela lutaria até o fim para conquistar o coração de Kauê — e destruir qualquer um que ousasse ficar em seu caminho

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