Oceano
"Diz-se que, mesmo antes de um rio cair no oceano, ele treme de medo. Olha para trás, para toda a jornada, os cumes das montanhas, o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre. Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência. Você pode apenas ir em frente. O rio precisa se arriscar e entrar no oceano. E somente quando ele entra no oceano é que o medo desaparece. Porque apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano." - Osho
Recife, 1915.
A cidade sentia os impactos da Grande Guerra, ainda que distante, especialmente em seu movimentado porto. Recife, um centro comercial estratégico, estava envolvido nas exportações brasileiras para a Europa, e o conflito trazia incerteza às rotas mercantes, com submarinos alemães patrulhando os mares.
Madalena, uma mulher de beleza rara, fitava-se no espelho de seu quarto adornado. Seus cabelos ondulados, de um ruivo intenso, desciam por seus ombros, emoldurando seu rosto delicado de pele clara e realçando seus expressivos olhos verdes. No entanto, mesmo cercada de luxo e joias, a mulher que ela via era apenas uma sombra da jovem sonhadora que um dia fora. Alfredo, seu marido, um empresário bem-sucedido e um dos homens mais ricos de Recife, lhe proporcionava tudo o que o dinheiro podia comprar, exceto o que mais desejava: liberdade e amor verdadeiro.
"Madalena, você precisa dar um herdeiro a Alfredo. Ele merece um filho. A família dele espera por isso." A voz de Regina, sua mãe, ressoava pela casa imponente, cada palavra como uma faca perfurando os sonhos de Madalena. Regina, uma mulher de presença forte e olhos verdes igualmente penetrantes, não via alternativa para a filha, senão cumprir com seu "dever" como esposa.
Alfredo, com seus olhos azuis frios e pele clara, era a personificação do homem de negócios. Alto e elegante, ele parecia mais preocupado com suas finanças e os impactos da guerra no comércio do que com sua esposa. Ele falava incansavelmente sobre as rotas comerciais afetadas pelos submarinos alemães, sempre com um olhar calculista, como se a vida ao seu redor fosse apenas mais uma negociação a ser fechada. Para Madalena, sua presença na cama ao lado dela era uma constante lembrança do peso do casamento e da falta de afeto.
Mas naquela manhã, o destino lhe apresentaria algo diferente. Rafael, o primo distante de Alfredo, estava de volta à cidade. E com ele, trouxe um sopro de vida, algo que ela há muito tempo não sentia.
Rafael era tudo o que Alfredo não era. Seu corpo másculo, moldado pelos anos no mar, contrastava com a rigidez quase robótica de Alfredo. Seus cabelos castanhos bagunçados pelo vento e seus intensos olhos verdes carregavam histórias de tempestades, lutas e sobrevivência. Ele tinha uma presença magnética, com uma postura confiante, algo que despertava um lado de Madalena que ela havia enterrado.
No jantar de boas-vindas, organizado por Regina, Madalena mal conseguia disfarçar a curiosidade. Rafael, envolvido nas perigosas rotas de guerra no Atlântico, havia sido um herói silencioso, navegando em mares infestado de submarinos alemães. Ele contava suas histórias com um brilho nos olhos, um brilho que Madalena reconheceu imediatamente como liberdade.
"Há algo nos mares de guerra que muda um homem," ele dizia, seus olhos se encontrando com os dela por um breve instante. "Você nunca sabe se o próximo dia será o seu último. Mas isso faz você valorizar cada segundo."
Essas palavras ecoaram na mente de Madalena. Ela, que vivia aprisionada em um casamento vazio, sentiu algo despertar. Algo que ela havia perdido para sempre... ou assim pensava.
Vanessa, a meia-irmã de Madalena, assistia a tudo com seus olhos astutos. Esbelta, de longos cabelos loiros lisos, Vanessa sempre soube manipular seu charme. Desde que Madalena, movida pela compaixão, a trouxera para viver com eles, Vanessa fazia questão de se mostrar grata, mas o ressentimento crescia em seu peito. Criada longe dos luxos que Madalena sempre tivera, ela via Alfredo como uma oportunidade de ascensão. No entanto, com a chegada de Rafael, seus olhos se voltaram para ele, enxergando uma nova chance.
Os dias seguintes trouxeram encontros inevitáveis entre Madalena e Rafael. Ele falava sobre o mar, sobre a incerteza de cada viagem e o perigo constante de não voltar para casa. Falava também da liberdade que sentia, algo que Madalena almejava desesperadamente.
"Sabe, viver à beira da morte faz a gente reconsiderar o que realmente importa," ele dizia com o olhar fixo nela. "Lutar por algo... ou por alguém."
As palavras de Rafael se cravaram fundo no coração de Madalena. Ela sabia que ele falava mais do que aventuras no mar. Havia algo nascendo entre eles, algo que ela não podia mais negar.
E Rafael, por sua vez, estava preso por um desejo crescente. A guerra o havia transformado, e ele sabia que não podia deixar passar a chance de viver algo verdadeiro com Madalena. Estar perto dela fazia com que todas as aventuras no mar parecessem insignificantes.
Madalena, então, se viu diante de uma escolha impossível. Permanecer no seu casamento sem amor, sufocada pelas expectativas da sua família e pela frieza de Alfredo, ou se arriscar no oceano de incertezas que Rafael representava. Como o rio que não pode voltar, ela sentia que a única forma de seguir era se jogar nesse oceano, enfrentando os medos e buscando a liberdade que sonhara sempre .
Madalena:
Rafael:
Alfredo:
Vanessa:
Regina:
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Atualizado até capítulo 33
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