Capítulo 2: O Peso da Realidade

**27 de Março**

Uma semana se passou desde que voltei do Rio, e a realidade do nosso relacionamento à distância começou a se manifestar de maneira que eu não havia previsto. Escrevo aqui, no silêncio do meu apartamento em São Paulo, onde as paredes parecem mais apertadas do que nunca. O que parecia um sonho tão promissor agora enfrenta o peso da rotina, da solidão e da distância.

Roberto e eu continuamos a trocar mensagens todos os dias. A princípio, era suficiente para manter o entusiasmo vivo. Nossas conversas eram longas, detalhadas, e cheias de risadas. Ele me contava sobre o trabalho, sobre a conferência que tinha participado, e eu o atualizava sobre minha vida, meus colegas, meus projetos. A distância parecia uma inconveniência temporária, algo que poderíamos superar com um pouco de esforço e boa vontade.

Mas, com o passar dos dias, comecei a perceber algo que antes estava escondido na euforia inicial: a realidade de viver um relacionamento sem a presença física do outro. Eu sempre soube que seria difícil, mas agora a dificuldade está se revelando de maneira mais tangível.

As noites são as piores. Durante o dia, o trabalho mantém minha mente ocupada. Mas quando chego em casa, sozinha, o silêncio se torna ensurdecedor. Tento preencher o vazio assistindo séries, lendo livros, ou ligando para amigos, mas nada parece realmente funcionar. Sinto falta de Roberto de uma maneira que eu não esperava. Não é só falta das conversas ou das mensagens; é a ausência dele aqui, ao meu lado. A ausência do toque, do olhar, do riso compartilhado.

Pior ainda é a incerteza que começa a surgir. Fico me perguntando como Roberto realmente se sente. Será que ele sente o mesmo que eu? Será que ele está tão comprometido com isso quanto eu? É fácil dizer que estamos dispostos a tentar, mas o que isso realmente significa? Como será possível sustentar um relacionamento apenas através de palavras digitadas em uma tela ou de vozes distantes ao telefone?

Outro dia, tive uma pequena crise de ciúmes. Estava no escritório, tentando me concentrar em uma tarefa quando recebi uma notificação. Era uma foto de Roberto em um evento social. Ele estava cercado por colegas de trabalho, todos sorrindo, parecendo tão próximos e conectados. Havia uma mulher ao lado dele, loira, atraente, e claramente confortável ao seu lado. Não pude deixar de sentir um aperto no coração.

Eu sei que é irracional. Roberto nunca me deu motivos para desconfiar dele. Mas, naquele momento, o medo de perder o que ainda nem tive completamente tomou conta de mim. A distância amplifica tudo – as inseguranças, os medos, as dúvidas. É como se cada pequena coisa se tornasse um grande obstáculo.

Mas não deixei que ele soubesse. Engoli meu ciúme, apaguei a foto, e continuei meu dia como se nada tivesse acontecido. Não quero parecer insegura, ou pior, carente. Quero que Roberto veja em mim a mulher forte e independente que eu me esforço tanto para ser. Mas a verdade é que, por dentro, estou desmoronando.

Quando finalmente falamos naquela noite, tentei agir normalmente. Perguntei sobre o evento, sobre seus colegas, e ele me respondeu com a naturalidade de sempre. Mas eu percebi algo em sua voz, uma leveza que não estava lá antes. Será que ele estava começando a se acostumar com a ideia de que eu não estava por perto? Será que ele já estava se adaptando à vida sem mim, enquanto eu ainda me agarrava desesperadamente a cada palavra sua?

Roberto me disse que estava pensando em visitar São Paulo no próximo mês. Meu coração disparou de alegria com a ideia, mas imediatamente, uma nuvem de dúvidas se formou. E se ele vier e as coisas não forem como esperamos? E se a química que sentimos no Rio não se traduzir para a nossa vida real? Essas perguntas me assombram, mas tento afastá-las, focando apenas na ideia de vê-lo novamente.

Hoje, durante uma de nossas conversas, perguntei a Roberto como ele estava lidando com tudo isso. Ele hesitou por um momento antes de responder. Disse que estava bem, mas que também sentia a minha falta. Mas havia algo na maneira como ele falou que me deixou inquieta. Ele parecia distante, como se houvesse algo mais que ele não estava me contando. Tentei ignorar essa sensação, mas ela persistiu.

Mais tarde, naquela noite, recebi uma mensagem de uma amiga minha, Renata. Ela queria saber como estava indo o "namoro de férias", como ela chama. Disse a ela que estava tudo bem, que estávamos nos falando todos os dias e que Roberto talvez viesse me visitar. Mas mesmo enquanto escrevia aquelas palavras, percebi o quanto estava me enganando. "Tudo bem" não era exatamente a verdade. O que estávamos fazendo era sobreviver a cada dia, lutando contra a distância e as incertezas.

Renata, sempre direta, me perguntou: "Você realmente acha que isso pode funcionar? Vocês mal se conhecem e já estão a mil quilômetros de distância um do outro. Isso não é vida real, Andressa. Isso é fantasia."

Suas palavras me atingiram em cheio, como uma verdade dura que eu estava tentando evitar. Talvez ela estivesse certa. Talvez o que Roberto e eu tínhamos não fosse real. Talvez fosse apenas uma ilusão criada pela magia do Rio de Janeiro, pela beleza de uma nova conexão em um cenário perfeito. Mas, ao mesmo tempo, eu não queria acreditar nisso. Eu queria acreditar que o que sentimos um pelo outro era real, que poderíamos superar qualquer coisa.

Hoje, enquanto escrevo este diário, sinto um peso no meu coração. Estou dividida entre o desejo de fazer isso funcionar e o medo de que tudo desmorone. Não sei o que o futuro reserva para nós. Não sei se Roberto e eu somos fortes o suficiente para lidar com as dificuldades que vêm com um relacionamento à distância. Mas uma coisa eu sei: quero tentar. Quero acreditar que, de alguma forma, vamos encontrar um jeito.

Estou me preparando para uma montanha-russa emocional. Sei que haverá altos e baixos, momentos de dúvida e de esperança. Mas estou disposta a enfrentar isso, porque acredito que Roberto vale a pena. E, enquanto isso, continuarei escrevendo aqui, colocando em palavras tudo o que estou sentindo, na esperança de que um dia, quando olhar para trás, tudo isso faça sentido.

Por agora, a única coisa que posso fazer é continuar, um dia de cada vez. E esperar.

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