Labaredas do passado

### Capítulo 4: Labaredas do Passado

Os dias em Riverside estavam cada vez mais cheios de cor e vida devido ao vibrante evento de arte que atraía visitantes de todos os cantos. Sophia sentia-se revigorada, como se cada pincelada em suas telas não só capturasse a essência da cidade, mas também a reconectasse com sua própria identidade. A rotina dela e de Lucas se tornara pontuada por encontros regulares, onde reviviam memórias da infância e exploravam novas dimensões de suas vidas.

Certa tarde, os dois decidiram caminhar pela trilha que seguia o curso do rio, um lugar que guardava muitas lembranças. Enquanto andavam lado a lado, Lucas olhou para Sophia e, com um sorriso no rosto, disse: "Lembra daquela vez em que construímos uma fogueira aqui e acidentalmente incendiamos a margem do rio?"

Sophia riu, o som leve e despreocupado como o de uma criança. "Como poderia esquecer? Achei que seríamos banidos de Riverside para sempre!"

"Eu também," Lucas respondeu, rindo. "Mas você sempre teve um jeito de apagar incêndios, mesmo aqueles que começamos juntos."

As palavras de Lucas carregavam um peso maior do que ele pretendia. Sophia percebeu e, por um momento, ambos ficaram em silêncio, observando o fluxo tranquilo do rio. Era como se as águas carregassem não apenas suas memórias, mas também os sentimentos não ditos que permaneciam entre eles.

"Lucas, sobre Sarah..." Sophia começou, hesitante. "Ela é maravilhosa. Fico feliz por você ter encontrado alguém assim."

Lucas suspirou, tentando encontrar as palavras certas. "Sarah é incrível, e eu a amo. Mas... às vezes, sinto que algo está faltando. Algo que não consigo identificar."

Sophia sabia exatamente o que ele queria dizer, mas não ousou expressar seus próprios sentimentos. Em vez disso, ela sorriu gentilmente e disse: "Talvez seja apenas nostalgia. Os tempos mudaram, e nós também."

Eles continuaram caminhando, deixando a conversa desviar para tópicos mais leves. No entanto, ambos sabiam que algo mais profundo havia sido despertado naquele dia. As labaredas do passado ainda queimavam, e era apenas uma questão de tempo até que enfrentassem as chamas diretamente.

Enquanto a tarde avançava, o sol começou a se pôr, pintando o céu com tons de laranja e rosa. Lucas e Sophia sentaram-se em uma velha árvore à beira do rio, onde tantas vezes haviam se reunido quando crianças. A tranquilidade do momento contrastava com a tempestade de emoções que ambos sentiam por dentro.

"Você já se perguntou como seria se tivéssemos seguido um caminho diferente?" Lucas perguntou, olhando para o horizonte. "Se tivéssemos ficado juntos em vez de seguir caminhos separados?"

Sophia refletiu por um momento antes de responder. "Sim, já me perguntei. Mas acho que nossas vidas seguiram os caminhos que precisavam seguir. Aprendemos, crescemos e agora estamos aqui, juntos de novo, mas de uma maneira diferente."

Lucas assentiu, concordando. "Talvez você tenha razão. Talvez precisássemos dessas experiências para nos tornarmos quem somos hoje."

Eles continuaram conversando até que as estrelas começaram a aparecer no céu. A brisa fresca do rio trazia um alívio para o calor do dia, e a companhia um do outro trazia um conforto que ambos haviam esquecido que podiam sentir.

Ao se levantarem para retornar à cidade, Lucas segurou a mão de Sophia por um momento. "Independentemente do que aconteça, quero que saiba que sempre terá um lugar especial na minha vida."

Sophia sorriu, sentindo uma mistura de alegria e tristeza. "E você na minha, Lucas. Sempre."

Com isso, eles caminharam de volta, cada um perdido em seus próprios pensamentos, mas unidos pela compreensão silenciosa do que compartilhavam. As labaredas do passado ainda queimavam, mas agora estavam mais preparados para enfrentar as chamas juntos, de uma maneira que respeitasse os caminhos que escolheram seguir.

Essa tarde à beira do rio marcou um ponto de virada na relação deles, um momento em que aceitaram o passado e começaram a olhar para o futuro com novos olhos. A amizade e o amor que compartilhavam eram complexos e profundos, e ambos sabiam que precisariam de tempo para entender completamente o que isso significava. Mas, por enquanto, estavam contentes em aproveitar a companhia um do outro, deixando as águas do rio levarem as dúvidas e trazendo à tona a clareza de suas emoções.

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