O Rei dos Cães Estou indo mijar

O primeiro dia de treinamento foi marcado por horas intermináveis de exercícios físicos para fortalecer os músculos dos mais fracos. E afiar os músculos dos mais fortes. Ninguém chegou a pegar em uma espada, mas os dedos calejaram por conta de inchadas para capinar os lotes da Principia, martelos para quebrar pedras para reformar a muralha que mantinha a Floresta separada da cidade e baldes e mais baldes de água apanhada do rio. Quando a noite chegou todos estavam exaustos e sequer tinham passado por treinamento militar. E se quisessem jantar teriam que terminar a noite cortando batatas.

Octavio

— Estou indo mijar.

Octavio tinha passado duas horas descascando batatas antes de encontrar um oportunidade de atrair Vênus para fora da cozinha.

Estou indo mijar era seu código.

Ele estava com o pau para fora, no fundo da construção de pedra rústica que era a cozinha, regando a base do muro.

Venus

— Realmente tem fimose, que fofinho, parece um capuz.

Octavio

— Eu ainda vou te matar por causa dessa brincadeira idiota. Juro pelos deuses bons e pelos ruins.

Venus

— Credo, por que esse mau humor? Não conseguiu mostrar seu Fragelão para a Mãe dos Ossos?

Octavio

— Não, nem tive a chance. Aquela mulher sabia tudo sobre mim, sabia sobre nosso plano.

Venus

— Como assim??

Octavio

— Exatamente assim. Não duvido que ela saiba que o Pretor comeu seu cu.

Venus

— Isso é ruim. Isso é muito ruim, nós vamos morrer. Vão arrancar nossas cabeças e pendurar nas estacas dos portões.

Octavio limpou as mãos na capa vermelha.

Octavio

— Não acho que vão nos matar. Ela disse que deveríamos continuar, que queria ver onde isso iria nos levar.

Venus

— Sim, vai nos levar direto para a espada da Pretora. Foi isso o que ela quis dizer.

Vênus apertou as mãos com tanta força que se feriu com as próprias unhas. O sangue escorreu pelas palmas e pingou no chão.

Octavio

— Para com isso, você está se machucando.

Octavio segurou as mãos dela e fez com que aliviasse a pressão. Os olhos castanhos com um brilho de preocupação.

Venus

— Isso é muito ruim. O que vamos fazer?

O rapaz secou o sangue de Vênus com a capa. Era evidente o cuidado que tinha com sua amiga.

Octavio

— Não podemos desistir. Não agora. Vamos fazer o que planejamos e lidamos com o problema que criamos quando ele nos confrontar.

Venus

— Eu não quero morrer. Eu não quero morrer assim. Vim de muito longe para morrer aqui.

Octavio

— Não posso dizer o mesmo. Até porque já faz tempo que eu morri.

Eles ficaram em silêncio ali, no frio da noite. Aproveitando a companhia um do outro. Até que a voz de Vênus quebrasse o silêncio.

Venus

— Você disse que a Mãe dos Ossos sabia da sua vida. Como? Como ela poderia saber? Você escondeu muito bem seus rastros.

Octavio

— Eu não sei. Ela disse que era intuição, mas há um limite para o que as pessoas conseguem adivinhar com a inteligência.

Venus

— Então como? Pense.

Octavio

— Talvez ela tenha pesquisado, ou existam informantes que trabalham para a Pretoria. Eu não sei.

Venus

— São informantes, Octo. Dizem que a Mãe dos Ossos tem olhos e ouvidos por todas as Cidades Seguras. Pode ser isso. Conhecimento é poder e os Pretores são poderosos.

Octavio

— Sim, mas e daí? Isso seria só mais um problema para nós. Se tiverem mesmo informantes, então nós estamos mais encurralados do que pensávamos.

Venus

— E daí que podemos usar isso ao nosso favor. E daí que esse cenário é perfeito para nós dois.

Octavio

— Você enlouqueceu? Como isso poderia ser bom para nós?

Venus

— Volte até a Pretora. Conversem outra vez. Ela já deve saber a verdade e está só jogando com a gente, então não faz diferença ficar se escondendo. Conte tudo para ela, nosso plano. Consiga a confiança dela de outra forma.

Octavio

— E aí veremos tudo dar errado e morreremos do mesmo jeito.

Venus

— Você é inteligente. Se não pode usar seu pau encapuzado, use então essa sua cabeça raspada. Se ofereça para ser um informante dela, na pior das hipóteses ainda vai estar recebendo informações.

Octavio esfregou o queixo, parecendo pensar em todos os motivos que tinha para não seguir aquele plano. E eram muito muitos.

Octavio

— Mas e se -

Foi quando ouviram o som de um estrondo vindo do Norte, onde ficava o portão da Muralha.

E ao longe alguém gritou.

Os Cães estavam atacando.