Capítulo 04 — Lara

...Meu dia foi tranquilo, eu me levantei da minha zona de conforto para ocupar a minha mente com algo em casa, para não ter que pensar novamente em John e nas coisas maravilhosas que poderíamos fazer se ainda fossemos um casal. Confesso que mesmo com tudo que aconteceu, eu sentia sua falta. Enquanto eu limpo a casa, estou aqui escutando uma música e chorando junto. Ele foi meu primeiro em tudo. E não é fácil terminar um namoro que durou um ano e meio. Tudo isso me dói na alma....

...Enquanto eu tentava manter a casa em ordem, a música ecoava pelo ambiente, servindo como uma trilha sonora para minhas emoções. Cada batida, cada letra parecia ressoar com a dor que eu sentia dentro de mim. Limpar os cômodos tornou-se um esforço para distrair minha mente, mas as lembranças de John continuavam a assombrar meus pensamentos....

...Ele foi meu primeiro amor, meu companheiro em tantas experiências. E agora, a solidão parecia preencher cada espaço vazio da casa que costumávamos compartilhar. Enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto, eu me permitia sentir a tristeza, aceitando que o processo de cura seria gradual e doloroso....

...Mesmo assim, uma pequena parte de mim ainda ansiava por sua presença, mesmo sabendo que não era saudável. O vazio deixado por sua ausência parecia insuperável, e eu me perguntava se algum dia seria capaz de superar tudo isso, e encontrar alguém que me valorize....

...O telefone interrompeu o meu momento de reflexão, trazendo-me de volta à realidade. Era Alicia, informando que não poderia comparecer ao trabalho devido à doença grave de sua mãe. Senti um aperto no coração ao ouvir sobre a situação difícil pela qual ela estava passando e prometi a mim mesma que faria o possível para ajudá-la....

...Após encerrar a ligação, concentrei-me em concluir minhas tarefas domésticas rapidamente. Preparei uma refeição simples para mim e, ao cair da noite, tomei um banho revigorante e me vesti para mais uma noite de trabalho....

...Chamei um táxi e me dirigi para o parque, onde eu seria responsável pela venda de pipocas doces e sorvetes. Ao chegar, percebi que o parque estava mais movimentado do que o habitual, com filas se formando em frente aos quiosques de comida e diversão....

...Com um suspiro resignado, preparei-me para enfrentar a agitação da noite, determinada a cumprir minhas responsabilidades e ajudar Alicia da melhor maneira que pudesse....

...À medida que eu me instalava no quiosque, a energia vibrante do parque parecia contagiar a todos ao meu redor. Crianças corriam animadas, casais passeavam de mãos dadas e grupos de amigos riam alto, criando uma atmosfera de alegria e descontração....

...Enquanto servia os clientes, observava as diversas pessoas que passavam por ali. Algumas carregavam sorrisos radiantes, enquanto outras pareciam carregar o peso do mundo nos ombros. Era fascinante como um lugar como o parque podia atrair tantas histórias diferentes, cada uma com sua própria complexidade e profundidade....

...No meio da correria do trabalho, encontrei momentos de calma e contemplação. Esquecendo por aquele momento, o canalha do John. No caso, eu estava tentando esquecer, porque ele ousou passar no meu quiosque com aquela baranga dele de mãos dadas....

...A presença inesperada de John e sua nova companhia no parque foi como um golpe inesperado em meu coração já ferido. Enquanto eu tentava me concentrar em minhas tarefas, não pude evitar sentir uma mistura de tristeza e raiva ao vê-lo ali fazendo seu pedido, como se eu não tivesse importância....

...Por que ele escolhera justamente o meu quiosque para comprar, quando havia tantas outras opções disponíveis? Aquela simples ação parecia uma provocação cruel, um lembrete doloroso de que ele seguira em frente enquanto eu ainda lutava para superar o término de nosso relacionamento....

...Com um esforço consciente, respirei fundo e tentei afastar os pensamentos perturbadores. Eu não permitiria que a presença de John me abalasse ou estragasse meu dia. Eu estava ali para trabalhar e seguir em frente, não para me torturar com pensamentos do passado....

...Ele pediu pipoca doce, e para ela, sorvete, o que fiz questão de preparar e jogar contra eles com um misto de amargura e ressentimento. O vestido caro dela, ficou manchado pelo chocolate do sorvete. Foi uma reação automática, impulsionada pela mágoa que sentia. Logo em seguida, ela fez um escândalo, enquanto ele me lançava um olhar enfurecido, segurando a mão dela e se afastando rapidamente. As lágrimas de raiva corriam pelo meu rosto quando fui surpreendida por uma voz potente e familiar que eu reconheceria a quilômetros de distância....

...— Então é assim que você trata seus clientes? Estou começando a ficar preocupado com o que me espera. — ele comentou com um tom de brincadeira, mas ainda assim, estava sério como eu me lembrava da última vez em que nos vimos....

...— Léo? — Minhas bochechas esquentaram instantaneamente....

...Nunca imaginei encontrá-lo novamente, especialmente não ali. Eu não queria vê-lo. Ele estava tão charmoso em trajes casuais para a noite, acompanhado por uma criança de seis anos. Ela era adoravelmente muito linda....

...Fiquei observando-o por um momento enquanto a pequena pedia sorvete de baunilha. Ele estava concentrado em sua carteira, procurando um cartão. No entanto, meu quiosque não tinha uma máquina para passar cartão, e estava com Alicia, então nem me lembrei de pegar....

...Léo parecia intimidador, sério demais até. Perguntei-me se ele nunca sorria, se sua vida era repleta de problemas que não lhe deixavam motivos para ao menos um sorriso....

...Decidi me concentrar em atender a pequena garota, preparando o sorvete de baunilha com cuidado. Enquanto isso, mantive um olho em Léo. Havia algo nele que atraía a minha atenção. Mas eu não tinha a intenção de me deixar levar por sentimentos, naquela noite, eu só queria beber e esquecer John, o que não deu muito certo....

...Depois de alguns momentos, a pequena chamada Eloá, pegou o sorvete com um sorriso radiante, parecendo completamente alheia à tensão que pairava entre mim e Léo. Ele finalmente se virou para mim, sua expressão séria ainda intacta....

...— Não temos máquina de passar cartão. — eu disse....

...— Desculpe por isso, não percebi que não havia uma máquina de cartão aqui. Pode me dizer o valor? — Ele falou com uma voz firme, mas educada....

...Eu hesitei por um momento, surpresa com sua polidez. Rapidamente, recuperei minha compostura e indiquei o preço....

...— Aqui está. — Ele me entregou o dinheiro, e pediu também um sorvete....

...Virei-me para preparar o sorvete que ele me pediu, e assim que preparei, dei a ele. Suas mãos mornas tocaram as minhas, me causando um arrepio na pele, algo que eu não queria ter sentido....

...Peguei a caixinha para passar o troco a ele, mas ele dispensou. Disse que não precisaria do troco, ficaria de gorjeta para mim....

...Eu agradeci, tentando não olhar muito diretamente para ele, apesar de sentir a intensidade de seu olhar sobre mim....

...Ele agradeceu pelo atendimento, e foi saindo....

...A possibilidade de Eloá ser filha de Léo pairava em minha mente enquanto eu os observava se afastarem. Poderia ser que ele fosse casado e estivesse apenas usando aquela mansão como um local para seus encontros discretos? Era uma possibilidade que não podia ignorar, dada a aparência intimidadora de Léo e sua atitude reservada....

...No entanto, uma parte de mim se recusava a acreditar nisso. Talvez houvesse uma explicação completamente diferente para a presença daquela criança ao seu lado. Talvez ela fosse uma parente distante ou até mesmo uma amiga da família. A verdade era que eu não sabia nada sobre a vida pessoal de Léo, e fazer suposições baseadas em meras especulações não me levaria a lugar nenhum....

...Decidi deixar esses pensamentos de lado por enquanto e me concentrar em meu trabalho. Afinal, eu não tinha como saber a verdade sobre a situação de Léo e a pequena garotinha de cabelos loiros, e minha prioridade naquele momento era atender os clientes que estavam esperando por mim....

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