capítulo 11

André

Ela saiu dos meus braços, me olhou com os olhos marejados.

- Melhor eu ir embora, a gente não deveríamos mais fazer isso André, melhor ficarmos longe um do outro.

Como assim, cara? Ela pensa que só foi ela que sofreu, é isso?

Eu morri um pouco por dentro a cada palavra que ela dizia, saber o que ela sofreu e como foi difícil toda a adolescência dela, foi a morte pra mim.

Mas sabe de uma coisa? Eu também sofri.

Eu estava indo pra um país totalmente desconhecido e extremamente racista e elitista, sem saber falar a língua deles, sem saber seus ritos e costumes. Estava longe dos meus pais, do meu irmão, de toda a minha família, eu estava completamente sozinho e longe de casa.

Os japoneses me maltratavam muito, me tratavam como um estranho, apenas um estrangeiro qualquer, ninguém me respeitava, ninguém acreditava em mim ou me ajudava, eles simplesmente me toleravam.

Eu tive que me esforçar o dobro dos alunos japoneses, tive que aprender sozinho a língua e os costumes deles.

Os vizinhos me hostilizavam, chegavam a jogar coisas em mim, e alguns diziam que eu estava ali para roubar a oportunidade dos filhos deles.

Eu quase me matei de estudar e trabalhar pra provar que era capaz, nem sei quantas vezes dormir chorando com vontade de desistir de tudo e voltar pra casa, pro colo dos meus pais. Eu só passo a ser respeitado quando viram que eu realmente tinha talento.

Quando os quadrinhos que eu ajudei a criar fizeram sucesso, a personagem que eu criei era considerada a favorita pelo público, mesmo assim eu não senti nenhum carinho ou afeto por parte deles, eles ainda me olhavam com soberba e orgulhoso, como se eu fosse apenas um verme pequeno e insignificante.

Sai de lá um desenhista premiado, mas ainda sim uma pessoa indesejada por eles.

Sou um homem bem sucedido, tenho um bom salário e uma carreira de sucesso, sou estável financeiramente, mas ainda me sinto fracassado no amor, rejeitado pela única pessoa que já amei na vida.

Não consigo entender porque ela não me apoiou na minha decisão de ir, poderíamos continuar ajudando um ao outro mesmo à distância.

Eu sei que o apoio da Lua no tempo que passei longe faria toda a diferença, saber que eu era amado por ela, poder ligar pra ela quando estivesse triste, pode mandar mensagem pra ela e não me sentir tão sozinha, com certeza isso faria toda a diferença na minha vida. Eu poderia mostrar Tokio pra ela, as paisagens os pontos turísticos, sempre que eu via algo que me lembrava dela, ei desejava que ela pudesse estar lá comigo. Se ainda estivessemos juntos provavelmente eu não teria aceitado os trabalhos que aceitei e teria voltado pra casa mais cedo pra poder ficar com ela.

Eu poderia ter ficado do lado dela também,ajudado ela a lidar com as mudanças no seu corpo.Dizer a ela ontempi todo como ela é linda, perfeita e amada por mim. Eu estaria lá pra ouvir ela, pra chorar com ela, sorrir com ela. Eu seria seu porto seguro, seria sua rocha ...

Mas ela não quis, ela preferiu me deixar, preferiu me dar as costas pra mim, dar as costas pra tudo que a gente viveu, pras nossas promessas e pro nosso amor.

E eu preciso superar, preciso seguir em frente e esquecer aqueles olhos lindos como a lua.

Segurei o nosso anel, aquele anel feito de resino com flores vermelhas dentro que a Cata fez quando a gente tinha 12 anos, o anel que sempre mantive comigo como uma maneira desesperada de ter um pedacinho dela comigo.

Estava parado ali olhando o anel , sem saber que ela também olhava pro dela, e chorava as mesmas dores que eu, ela sem saber como eu me sinto, e eu sem saber o que ela pensa.

Que merda heim destino?!

Lucas

Aquele cara!! me fez dormir com a porta arrombada, tive que dormir no sofá pra poder ficar vigiando a porta. Nunca vi bicha mais sem classe.

Ele disse que ia me conquistar e me deixar de quatro. Porra tá funcionando...

Ontem eu vi ele indo pro baile, ele tava uma delícia, shortinho jeans curto camisa rosa aberta na frente e um tênis branco. Aquele short deixava a bunda dele ainda maior , e deixava as coxas grossas à mostra, a barriga definida, e com o cós do shorts baixo, dava pra ver claramente as entradas no seu quadril levando meus olhos pro volume na frente da sua calça.

Ele vem fazendo isso há duas semanas, tá me usando roupa provocante, se escorando no balcão do bar e empinando aquela bundinha perfeita na minha cara, as vezes ele ponha o dedinho na boca, me fazendo suar, as vezes ele bebe algo e deixa escorre pela boca pescoço e tudo mais

Esse neginho tá me deixando louco e eu não sei mais o que fazer pra esconder dele como ele me afeta.

Muita coisa mudou pra mim nesse primeiro mês morando aqui, aprendi mais sobre as pessoas daqui, sobre como elas sofrem injustiças e desigualdades, mas não para de sorrir e de sonhar, o baile funk que antes eu detestava hoje eu sei que é um pouquinho de felicidade pra essa vida dura que vivemos. Eu chego tão cansado em casa todas as noites, minha vida se resume a trabalhar e dormir, as poucas vezes que eu saio durante a semana é pra ir no bar da Bete tomar uma cerveja, e é uma mesmo porque só tenho dinheiro pra uma mesmo. São nessas vezes que vejo o Dino, ele sempre aparece lá quando eu tô, na verdade ele sempre aparece em qualquer lugar que eu tô, seja andando do meu lado quando tô indo trabalhar, ou parado mostrando aquele sorriso lindo quando tô parado esperando o ônibus.

A questão é que, eu também estou aqui ansioso esperando o final de semana chegar pra ir no baile também, poder dançar bebê e me distrair da vida dura.

Não está sendo fácil recomeçar, mas estou aprendendo a ser um homem melhor.

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