Capítulo 3

Kai entra na cafeteria com uma cara de poucos amigos, e uma pose imponente....

O ego desse cara deve ser tão grande que provavelmente precisaria de uma segunda porta, só para entrar em qualquer lugar.

"O que você tá fazendo aqui?", Pergunto quando ele se aproxima do balcão

" Eu? Vim tomar café.." Ele diz com um leve sorriso, mas não o tipo de sorriso feliz....tá mais pra um sorriso debochado de quem tá aprontando alguma coisa

" Porque?" Pergunto seca

Ele olha em volta

" Pensei que tivesse entrado em uma cafeteria.." Ele debocha enquanto senta nas cadeiras de frente o balcão " É  aqui que as pessoas tomam café não é? Na CAFETERIA" ele diz a última palavra com ênfase

Eu olho pra ele com cara de tédio

" Conta outra....você não é do tipo que faz algo sem um propósito" Digo

" Ah, então você conhece o meu tipo...e vem cá , o que mais pessoas do meu tipo gostam de fazer?" Ele pergunta  me dando um olhar desafiador

Esses caras amam um joguinho...

" Me diz você " Murmuro

"Bem, geralmente gostamos de manter as coisas interessantes, causar um pouco de caos aqui e ali... E às vezes, dar uma visitinha aos lugares que nos interessam." Ele diz com um sorriso malicioso

" Que clichê...." Digo

"Clichê?"

" É! Clichê! Vocês são todos  iguais. Amam viver no limite, tudo que interessa pra vocês são joguinhos de manipulação, e mostrar quem é que manda na parada. Como eu disse: clichê... Só que eu não tenho paciência pra toda essa encenação e toda essa pose de cara mal, então ou você me fala logo o que tá fazendo aqui, ou eu vou te enxotar de novo" Digo

Ele me olha levemente surpreso, então respira fundo antes de responder.

Vejo seu semblante ficar sério

"A partir de hoje, vou ter que estar por perto, e te escoltar até em casa. É uma questão de segurança". Ele diz

Minhas sobrancelhas se franzem quase virando uma só

"Segurança? De quem? A sua?" Digo

Ele revira o olho

" Claro que é a sua! Eu não preciso de segurança ", ele responde com um tom de confiança. "Mas você, por outro lado, precisa de alguém  forte, invencível, que pode te proteger  de qualquer coisa que apareça no seu caminho. " Ele diz com um sorriso convencido

" E quando essa pessoa vai chegar?" Eu digo e ele ele franze a sobrancelha em raiva

" É claro que sou eu! Você é idiota por acaso?"

" Você? Você é o cara forte e invencível? E você vai me proteger do que? De janelas de vidro?" Debocho rindo um pouco e ele me olha com cara de tacho

" Aquilo foi apenas um mal dia...não é assim na maioria das vezes" Ele murmura  "Confie em mim, Yuna. Você vai precisar."

Eu solto um suspiro irritado

" Por que você simplesmente não me deixa em paz? Eu fiz o que pediu e seu braço está bom, então por que simplesmente não sai daqui e vai esfregar a cara no asfalto?" Digo sem paciência

" Por que querendo ou não, algumas pessoas me viram aqui e viram você cuidando de mim, e apesar de eu ser quem eu sou eu não posso deixar um civil inocente....bem nem tão inocente assim...se ferir sem ter culpa" Ele diz

" Pra um mafioso você é cheio de princípios" Debocho

" Se tem uma coisa que nós nos apegamos na máfia, são os princípios" Ele diz orgulhoso de si mesmo

" Tá e por que eu devia confiar minha segurança logo a você?  Até onde eu sei, você é um fora da lei, assassino, ladrão, lunático, tarado-"

" Eu não sou um tarado!" Ele diz como se eu tivesse o ofendido

" De tudo, essa é a única coisa que você vai negar?" Pergunto " Olha eu tenho mais o que fazer e eu sei me defender sozinha, então seu serviço por aqui está feito..."

Ele me olha mas não dá nenhum indício de que vai embora

" Querendo ou não, você está nessa...você se meteu nessa"

" Eu me meti nessa?" Pergunto incrédula " Você me ameaçou com a droga de uma arma!" Argumento

" A qual você não estava nem um pouco intimidada se eu me lembro bem. Você poderia ter me expulsado daqui, assim como fez no outro dia, mas não fez...então você continuou por que quis" Ele diz

Eu reviro o olho e bufo sem acreditar

" Fala sério...." Murmuro

" Acredite também é um fardo muito grande pra mim. A minha vida é muito ocupada e agora eu tenho que me preocupar com uma simples barista que..." Ele me olha de cima a baixo " Nem é tão interessante assim" Ele diz com um sorriso sínico

" Continua com isso que a única pessoa que vai precisar de proteção é você...." Digo organizando as coisas no balcão

" Já que está aí, bem que poderia fazer um café pra mim "

Ele diz

Eu olho pra ele

" 500 ienes" Eu digo

" No cardápio está escrito que custa apenas 100" Ele diz

" O preço muda de acordo com a minha paciência " Debocho

" Okay" Ele diz pegando a carteira e colocando 1000 ienes em cima do balcão " Mas dessa vez eu quero o café doce"

Eu reviro o olho, começo a preparar um capuccino e entrego pra ele

Ele olha pra xícara

" Bem que você podia ter feito um coração com a espuma....Na concorrência eles sempre fazem pra mim"

" Exatamente, na concorrência" retruco  secando os copos

Ele pega a xícara e com o canto de olho eu observo sua reação

Ele bebe e arregala o olho de leve

" Caramba...." Ele diz surpreso e olha pra mim " Uma verdadeira porcaria" Ele diz rindo e eu reviro o olho

Então ele continua bebendo o capuccino

" Falta muito pra você fechar?" Ele diz apontando pro relógio

Faltava apenas 5 minutos

Que se dane, eu tô morta de cansada

Pego minhas coisas e vou apagando as luzes

" Ei, eu nem terminei de tomar meu café" Ele resmunga

Eu coloco a mochila em cima da mesa e dou a volta no balcão

Pego um copo pra viagem e pego a xícara dele , colocando o capuccino no copo

Tampo e entrego pra ele

" Eu acho que você tem capacidade pra beber e andar "

Pego a xícara e lavo ela rapidamente

Pego a mochila e vou até a porta

Kai vem junto

Tranco a porta e então vamos andando

" A gente pode ir de carro " Ele diz

" Eu moro a duas quadras daqui, além disso preciso passar em um lugar antes de ir pra casa" Digo e vou andando sem esperar por ele

Ele da alguns passos rápidos ficando ao meu lado

Vamos andando em silêncio.

" E onde é que precisa passar?" Ele pergunta

" Aqui" Digo apontando pro beco logo a frente

Ele me olha confuso

" Não sabia que comprava drogas" Ele diz em um tom brincalhão e da um gole no café

Eu reviro o olho

" Aqui não é ponto de drogas...." Digo

Assim que eu chego perto o mesmo gatinho de sempre vem em minha direção

" Oi garotaaao....sentiu minha falta?" Eu pergunto fazendo carinho nele

Eu entro um pouco chamando os outros e eles vem correndo

" Seis tão bem?" Digo fazendo carinho neles com a voz mais doce " Eu também senti falta de vocês...cadê os nenéns mais lindos? Seis tão com fome?" Pergunto fazendo vozinha pra eles

" É sério que a gente veio a pé pra você dar comida pra esses pulguentos?" Ele pergunta e eu olho pra ele o fuzilando com raiva

Ele desvia o olhar

Pego a ração da minha bolsa e coloco pra eles

" Até amanhã pessoal" Digo pra eles e volto a andar

Voltamos pra rua e eu percebo um sorriso travesso nos lábios de Kai

" Uau, sua voz muda completamente quando está com esses bichanos. Até parece que você tem sentimentos" Ele brinca

" Gatos conseguem ser melhor que muita gente" Digo olhando ele de cima a baixo  com desprezo

Voltamos a andar em silêncio e então chegamos até a porta do meu prédio

"Chegamos" eu digo subindo os degraus e colocando a chave na porta a abrindo

" Por mais que você queria eu não vou poder entrar, tenho assuntos a resolver, mas-"

Antes que ele terminasse de falar eu entro e fecho a porta na cara dele.

Vou andando até o elevador e aperto o botão.

Olho pra porta de vidro e vejo que ele ainda está ali

Eu abano a mão fazendo sinal pra ele ir embora e entro no elevador

Assim que eu entro no elevador eu escoro minhas costas na parede e suspiro

Mas que droga!

É sério isso agora?....

Sim... é sério...até demais....os dias que se passam são dessa forma....

Kai aparece no final do meu expediente, me importuna, eu fecho a cafeteria, andamos até o beco, damos comida pros gatos e eu entro no prédio....

Ele disse que minha rua é perigosa e ainda pra minha surpresa ainda não pertence a nenhum clã...então eu estava correndo perigo...

Baboseira...

E mais um dia estou aqui, prestes  a fechar a cafeteria.

Assim que a porta se abre, meu estômago se aperta, sabendo que a encrenca está a caminho.

Lá está Kai, com seu sorriso convencido de sempre.

Eu apenas o ignoro enquanto arrumo a cafeteria pra fechar

" Não demora muito, por que eu tenho planos" Ele diz me fazendo revirar o olho

" Se tá com pressa pode ir embora " murmuro

Enquanto coloco as cadeiras em cima da mesa, Kai começa a andar pela cafeteria, fuçando em tudo.

Quando me dou conta , ele já está atrás do balcão, mexendo nas coisas.

" O que é isso?" Ele pergunta com o dedo próximo a alavanca da máquina de grãos

" Não mex-"

Antes que eu terminasse de falar ele mexe na alavanca, fazendo com que um monte de grãos de café se espalhem pelo chão.

"Oops", ele diz com um sorriso inocente, mas seus olhos brilhavam com malícia.

Eu fecho os olhos e respiro fundo

"Ótimo, agora limpa!"Digo irritada

"Eu? Limpar? Até parece! Amanhã você limpa" Ele diz me provocando como sempre.

Cruzo os braços, decidida.

"Então, acho melhor você cancelar os seus planos, por que eu não vou sair daqui até você limpar isso." Digo

Ele ri, parecendo se divertir

"Você é tão teimosa, Yuna. Mas tudo bem, eu limpo. Só porque eu sou um cavalheiro. Onde está a pá e a vassoura?" Ele pergunta

Eu vou até o depósito e pego.

Vou até ele e estendo

Ele pega e recolhe os grãos

" Onde eu jogo isso?" Ele pergunta

" Em um saco onde eu possa reaproveitar pra fazer o seu café" Debocho " Ali" Aponto pra lixeira

Ele joga fora e estende a vassoura e a pá pra mim

" Satisfeita?" Ele pergunta

" Só quando você sumir da minha vida " Digo pegando as coisas e indo até o depósito pra guardar

Quando eu volto vejo ele colocando as cadeiras sobre a mesa

Eu me aproximo olhando pra ele desconfiada

" Por que está fazendo isso?" Pergunto

" Pra ir mais rápido. Como eu disse eu tenho compromisso" Ele diz

Imagino que tipo de compromisso seja esse...

Terminamos e então vamos embora

Eu dou comida pros gatos e então vamos andando

O ar frio da noite corta meu rosto enquanto caminhamos em silêncio pelas ruas desertas.

De repente, Kai quebra o silêncio com um suspiro.

"Então... você sempre trabalha até tarde assim?"Ele pergunta

"Às vezes. Depende do dia." Respondo seca

"É um trabalho duro, mas alguém tem que fazer, não é?"

"Sim, alguém tem que fazer. E, surpreendentemente, esse alguém sou eu." Respondo, um pouco mais ácida do que pretendia.

Ele solta uma risada baixa.

"Tocou num ponto sensível, huh?"

"Não é sensibilidade, é realidade." Respondo e ficamos mais um pouco em silêncio

"Por que você sempre alimenta esses gatos?" Kai pergunta, sua curiosidade evidente em sua voz.

Olho para o longe  por um momento antes de responder, pensando sobre como explicar isso para alguém como ele.

"Eles precisam de comida e cuidado. A vida nas ruas não é fácil para eles, então eu faço o que posso para ajudar." Digo

"E por que você não  leva eles  para casa?" Kai questiona

" Por que eu não posso....eu já tenho uma gata que me dá muitas despesas. O proprietário do apartamento também só permite até dois animais...Além disso, eles são animais de rua, estão acostumados com essa vida...Só tento deixar ela um pouco menos sofrida" Digo

Ele parece pensar sobre o que falei  por um momento antes de responder.

"Entendo.....Quem diria que você teria um coração nobre" Ele diz e eu percebo que apesar da brincadeira, ele está sendo sincero

" Isso foi um elogio?" Pergunto

" Encare como quiser...mas é fato que não é qualquer um  que faz isso..."

Então chegamos na porta do prédio eu subo as escadas e abro a porta, mas ao invés de entrar eu me viro pra ele

"Obrigada, eu acho....Boa noite Kai" Digo um pouco sem jeito

" Boa noite Yuna" Ele responde e então se vira indo embora

Observo Kai se afastando pela rua escura, sua presença marcante contrastando com a quietude da noite. Ele caminha pela rua com uma confiança que beira a arrogância, sua postura reta e o olhar determinado denotam uma autoconfiança inabalável.

Seu sorriso de canto de boca carrega um toque de deboche, como se estivesse sempre um passo à frente de todos ao seu redor. Cada movimento é calculado, cada palavra proferida com a certeza de quem está acostumado a liderar

Entro no elevador pensando nisso...

Ele é o tipo de pessoa que não pensa duas vezes antes de dizer o que pensa,  e seu sarcasmo é sua arma mais afiada. Não há espaço para hesitação, apenas uma determinação implacável em alcançar seus objetivos, não importa o que esteja em seu caminho.

A  sensação de que ele é capaz de qualquer coisa paira no ar, alimentando uma aura de mistério ao seu redor. No entanto, por mais intimidante que ele possa parecer, percebo uma centelha de vulnerabilidade nos seus olhos.

Então eu começo a rir

Até parece!

O cara é um mané....

É o típico mafioso metido a besta  que tem tudo na mão, e a única coisa que o mantém intrigado é quando essa coisa não o pertence...

Ele apenas vive pela emoção da caça....depois disso, tudo se torna tedioso e ele quer sempre mais...

Por mais que tente parecer intimidante, não consigo levar a sério alguém que se comporta como se fosse o dono do mundo. Talvez seja só mais um daqueles caras que gosta de se exibir, mas no fundo não passa de um idiota querendo chamar atenção.

Como disse....um mané.....

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