Capítulo 2

" Mas eu sou responsável! Eu trabalho! Minhas contas estão sempre pagas! Meu cachorro está sempre alimentado e minha casa está sempre limpa! Além disso quem vai cuidar do Billy quando eu tiver fora? " Digo tentando argumentar

" Isso não é ser responsável...isso é sua obrigação como ser humano!....Ava, já está decidido, já comprei suas passagens, você vai depois de amanhã e vai passar um mês lá. Nada de bebedeiras, nada de festas, nada de dormir com caras estranhos. Se eu souber de algo que esteja fazendo, você vai ser demitida, e eu duvido que alguém vai contratar você depois do show que deu. Além disso , Maddy e Josh podem ficar na sua casa pra cuidar do Billy." Ela diz séria.

Não conseguia argumentar com Tracy. Ela era mais do que uma irmã pra mim. Como ela é a mais velha, e eu a caçula, ela desempenhou um papel materno na minha vida, depois que nossa mãe nos abandonou....eu tinha 5 anos na época.... hoje eu estava chegando nos trinta, e tudo que Tracy queria era que eu construísse uma família.

Depois do que passei a última coisa que pensava era ter um relacionamento sério. Não acreditava mais em relacionamentos, ou amor ou qualquer outra coisa.

Dou as costas e saio bufando do restaurante pelas portas dos fundos.

Ligo meu carro e vou pra casa. Não tinha alternativa.

Em partes eu concordava com ela....eu queria ter uma coisa sólida no futuro....conseguir conquistar minhas coisas...mas não queria perder minha essência , sei lá.

Chego na garagem e desligo o carro.

Fico ali dentro do carro pensando por alguns minutos.

Talvez eu precisasse mudar....eu... realmente estava me destruindo....é só que sei lá....nada tinha mais sentido pra mim.

...****************...

O dia da viagem chegou, e Josh me trouxe até o aeroporto de Dallas....era o mais próximo da nossa cidade.

" Maninha...a gente só tá preocupado e pensando no seu bem...a gente quer o melhor pra você, você é uma pessoa incrível com um coração muito bom, só que você tá se destruindo......" Ele fala tirando a mala de dentro do carro " A gente te ama. Você é nossa emo revoltada favorita" Ele diz me abraçando.

" Eu também te amo..." Digo triste retribuindo o abraço.

Pego minhas coisas e vou pra dentro.

Faço o check in e vou até o portão de embarque.

Enquanto caminho, escuto um barulho atrás de mim, me fazendo virar. Era uma criança chorando.....

Quando olho pra frente novamente, esbarro em alguém que estava olhando no celular com a cabeça baixa. O impacto faz com que meu celular se espatifasse no chão.

Na verdade, parecia que eu tinha esbarrado em um armário de tão grande e duro que o cara era....

" Foi mal!" Ouço o cara dizer, enquanto me entrega o meu telefone, que ele havia pegado do chão

Uau....

Ele era alto, loiro, com o cabelo curto e a barba baixa,olhos verdes claros, e espalhava uma vibe bem caipira , típico da região, mas de uma forma extremamente sexy......

Resolvo parar de babar e voltar minha atenção pro meu telefone.

" Foi péssimo!" Digo olhando o celular. Tinha trincado quase a tela toda, mas ainda funcionava

" Eu posso pagar pelo concerto" Ele diz.

Eu também estava distraída, então não tinha por que por a culpa toda nele.

" Esquece....se o problema fosse só o telefone eu tava no lucro." Digo balbuciando e vou embora.

Apesar de não ser fã de viajar de avião, a viagem em si foi tranquila.

Chego no hotel que minha irmã reservou e faço o check-in.

Era simples mas muito confortável. Além de ser mais afastado do centro. Se tivesse um hotel no meio do deserto ela teria alugado, só pra mim ficar longe da farra.

Os dias vão se passando no verdadeiro tédio. Estava cumprindo as exigências de Tracy, pra ver se quando eu voltasse ela largasse do meu pé. Eu ia do evento pro hotel e do hotel pro evento.....

Graças a Deus tinha chegado o último dia do evento....

Era pra uma banda de country.

Aff..... Até aqui é perseguição

" O buffet tá incrível! O pessoal da banda vai amar!" Um dos produtores da banda fala comigo.

" Obrigada pelo feedback" Digo forçando um sorriso.

Abaixo a cabeça e volto a arrumar algumas coisas na mesa.

" Conseguiu consertar o celular?" Ouço uma voz masculina dizer.

Levanto a cabeça e meu olho arregala.

" Você!" Digo.

O cara tinha um rosto inconfundível Era um gato, não posso negar.....

" Como você sabe que fui eu?" Pergunto

Ele aponta pro meu cabelo.

" Não esbarro muito em pessoas que parecem um marca texto" Ele diz

" Hehe, muito engraçadinho, moço do equipamento " Digo debochando.

" Moço do equipamento?" Ele pergunta

" O termo correto é Técnico né?" Respondo

" E o que te faz pensar que eu sou um técnico?" Ele pergunta

" Sei lá...só acho que seja. Geralmente os cantores e o pessoal da banda não vem muito pro buffet, é mais as pessoas que ficam nos bastidores" Digo

" Hmm...faz sentido...." Ele diz pegando algumas coisas.

Voz no rádio: Bem diante de tantos notícias e rumores sobre o vocalista da banda Wood, o melhor mesmo seria ele quetar um pouco , até a poeira abaixar. Será que vai chegar o dia em que o vocalista vai cansar dos dias de farra...

"Aff" Digo desligando o rádio e revirando o olho.

" Não gosta dessa estação?" Ele pergunta

" É patético as pessoas darem tanta importância pra esse tipo de notícia. Além disso, é simplesmente mais do péssimo gosto musical que domina hoje em dia.... " Digo

" Não curte country?" Ele pergunta

Teve uma época em que eu curtia...mesmo tendo um gosto musical diferente da minha família, eu curtia ouvir com meu pai e cantar com ele nos churrascos em família. Mas agora não....não tinha boas recordações, e McKinney simplesmente era tomado pela cultura country. O que só piorava tudo.

" Não inventaram uma palavra mais forte que ódio, pra definir meu gosto por esse estilo" Digo rindo

" E qual estilo que você curte, Gatinha?" Ele diz.

Gatinha?...Meio pra frente ele...

Gostei....

" Acho que tá bem óbvio que eu gosto de música clássica, não?" Pergunto apontando pras minhas roupas e rindo.

Ele da uma leve risada.

"E então moça do telefone, você tem nome ?" Ele pergunta

" Ava" Digo

" Apenas Ava?" Ele diz

" Sem sobrenomes... é bom manter o mistério no ar. Além disso eu nem te conheço, e se você estiver me perseguindo pra me dar um golpe ?" Digo, o que faz ele rir

" Legal...Ava sem sobrenome. Prazer Tyler, e não, eu não estou querendo te dar um golpe " ele diz estendendo a mão com um sorriso torto

Eu aperto. A mão dele era quentinha. Sem soltar minha mão, ele se aproxima um pouco...perto o suficiente pra mim sentir o cheiro do seu perfume....Sinto um leve arrepio.....

" Tyler tá na hora " Um cara surge na porta falando com ele.

" Bem, tá na sua hora Técnico...Você tem que trabalhar o show inteiro ?" Pergunto

" Sim..." Ele diz com um olhar levemente chateado.

" Que pena. Quem sabe a gente se esbarra por aí" Digo dando uma piscada e saindo em direção a cozinha.

Começo a organizar as coisas junto com os outros funcionários.

Tinha sobrado muita comida. Dava pra alimentar um multirão. Penso no orfanato que eu fazia trabalho voluntário. Era um dos lugares que mais precisava de ajuda naquele fim de mundo. Eles recebiam muitas crianças de outros lugares....meu coração aperta lembrando.

Só que como eu disse...eu fazia. Por que depois do escândalo que fiz na frente de casa, eles pediram pra mim não ir mais lá.....

Todo mundo já me achava meio esquisita. Isso foi o suficiente pra eles tirarem a conclusão.

Escuto a música começar, e era extremamente alto. Resolvo colocar os fones pra ver se abafava o barulho. Funciona um pouco.

Depois de organizarmos a maioria, fica faltando apenas organizar alguns pratos e talheres.

Resolvo dispensar os funcionários e terminar aquilo sozinha. Eles estavam me acompanhando todos os dias, deviam estar mortos de cansados....

" Vocês trabalharam muito hoje pessoal, aproveitem pra descansar , podem tirar o resto do dia de folga e passear pela cidade" Digo e eles agradecem.

Coloco o fone de novo. Entre uma organizada e outra balançava um pouco a cabeça e me sacudia no ritmo da música.

Acabo me empolgando e dançando um pouquinho demais.

Quando me viro, vejo Tyler parado na porta com os braços cruzados e um sorriso travesso.

Ele descruza os braços e bate palmas .

" Bis" Ele diz com um sorriso travesso

" A quanto tempo você está aí?" Pergunto morrendo de vergonha.

" Tempo o suficiente" Ele diz rindo um pouco.

Que vontade de sumir do planeta.

"E então eu vou ter bis, Gatinha?" Ele pergunta sorrindo.

" Paga uma cerveja primeiro " Digo

" Ótima ideia.... Sabe o que seria uma outra excelente ideia? Se a gente saísse pra curtir a noite. Topa?" Ele pergunta se aproximando

" E o que me garante que você não vai me matar? Apesar de muito tentador, é um pouco suspeito. E além disso meus dias de farra, meio que chegaram ao fim" Digo com um sorriso triste

" Por que?" Ele pergunta

" Por que muita gente tá no meu pé pra amadurecer, crescer e parar de me meter em problemas. Por isso eu fui forçada a está aqui. O que deixa tudo mais um saco" Digo frustrada.

" Então você é uma fora da lei? " Ele diz em um tom brincalhão

" Quase" Digo rindo" É só que...a vida as vezes machuca, e tem uma hora que você simplesmente para de se importar e faz o que quer fazer, quando quer fazer, e quer que o resto se exploda.... e também, as vezes a adrenalina de não saber o que vai acontecer daqui a um segundo deixa tudo um pouco mais emocionante.." Digo.

" Parece que eu tô me olhando no espelho...Bizarro" Ele diz rindo.

"Por que?" Pergunto

"Assim como você , tem muita gente pegando no meu pé também, pra pisar o pé no freio e sossegar... " Ele diz um pouco triste.

FIcamos um pouco em silêncio e então algo vem em minha mente.

"E se... a gente for pra uma última aventura? Tipo uma despedida dos dias de farra. Que tal?" Pergunto

"Gostei" Ele diz com aquele sorriso travesso.

"Okay, vou pegar minhas coisas. Há! E eu tenho spray de pimenta , então não tente nada" Digo e ele dá uma risada.

Vou até a dispensa da cozinha pegar minhas coisas.

Quando volto ele está olhando pro telefone com uma cara chateada.

"Tá tudo bem?" Pergunto, fazendo ele levantar a cabeça e me olhar.

"Tá....mais ou menos...é só que eu não posso sair do prédio agora...é um pouco complicado" Ele diz

"Alguém tá te perseguindo?" Pergunto.

"Mais ou menos..." Ele diz triste.

Penso um pouco.

Coloco minhas coisas perto da porta e vou até a dispensa, pego alguns aperitivos e vou pra geladeira pegando duas cervejas e coloco as coisas em cima do balcão.

" A gente espera até a barra ficar limpa" Digo me sentando no balcão e abrindo uma cerveja.

" Tem certeza?Não vai ser um tédio pra você?" Ele pergunta.

"Tenho sim! Além disso, é uma ótima oportunidade pra gente se conhecer e você me provar que não é um serial killer" Digo rindo, e ele ri também .

Ele me olha por alguns segundos, e se senta do meu lado. Ele pega a cerveja e a abre.

Estico minha garrafa , e brindo de leve na dele.

"Um brinde aos dias de aventura" Digo sorrindo.

"Tim tim" Ele diz

" E então, Técnico. Por que você tava no aeroporto de Dallas?" Pergunto .

" Tinhamos um show lá" Ele diz. " E você?"

" Estava vindo pra cá. O aeroporto de lá é o mais próximo da minha cidade" Digo

"É? Onde você mora" Ele pergunta.

Solto uma leve risada.

"Vai ter que fazer por merecer pra conseguir minhas informações pessoais, Técnico" Digo

"Desafio aceito, Gatinha" Ele diz sorrindo.

"E então....Você gosta do seu trabalho?' pergunto

"Gosto muito...na verdade é minha paixão" Ele diz com brilho nos olhos.

"Seu chefe é legal com você?" Pergunto

Ele ri um pouco e diz" É sim....pelo menos eu acho que ele é legal".

"Menos mal...gente famosa geralmente tem muito ataque de estrelismo....ás vezes eu acho um pouco patético pessoas idolatrarem outras, tipo é normal você gostar do cantor ou cantora , e apreciar a música, mas tem gente que é muito fora da casinha, e faz umas coisas que até deus duvida" Digo que faz com que ele ria um pouco.

" E por que você detesta country?" Ele pergunta

"Por que minha cidade é tomada por esse estilo musical...além de me trazer sentimentos, e lembranças ruins" Digo.

"Desilusão amorosa?" Ele pergunta.

Paro um pouco olhando pro nada....

"Digamos que foi uma série de eventos..." Digo e dou um gole na cerveja, sem querer dar mais detalhes.

Conversamos mais um pouco. Tinhamos muitas coisas em comum, até riamos das mesmas idiotices... Tyler era um cara legal, pé no chão, mas ainda sim com um espírito aventureiro.

Já estávamos na cozinha a um bom tempo.

" E então acha que a barra tá limpa?" Pergunto.

"Acho que sim" Ele diz

Desço do balcão e ele faz o mesmo. Vou até a porta e pego minha mochila do chão. "Vem" Digo saindo da cozinha. Ele vem em seguida.

Quando viro em outro corredor , vejo uma pessoa vindo.

Tyler me puxa de volta.

" O que foi?" Pergunto confusa

"Tem outra saída?" Ele pergunta assustado e um pouco afobado.

"T-Tem...Vem por aqui" Digo pegando a mão dele e voltando um pouco pelo corredor e entrando em outro.

Abro uma porta que dá pra um lance de escadas e descemos correndo .

Abro a porta e entramos no estacionamento interno. Puxo ele até o carro que eu tinha alugado.

Abro o porta mala.

"Entra" Digo

"Que?! Por que eu tenho que entrar no porta mala?" Ele pergunta.

"Olha eu não sei do que você tá fugindo, e nem quero saber, mas esse é o melhor jeito de se esconder. Vai logo! O porta mala é grande" Digo

Ele reluta e então entra.

Eu fecho o porta mala, entro no carro, ligo e saio do estacionamento.

A saída está cheia de paparazzis. Eles vêm correndo até meu carro, mas dão meia volta quando veem que não tem ninguém além de mim no carro.

Ando mais um pouco com o carro, chegando em uma parte mais isolada.

Paro o carro e abro o porta mala.

"Achei que eu que teria que usar spray de pimenta em você" Ele diz saindo do porta mala, me fazendo rir.

"Apesar de não ter saído durante os dias que estive aqui, sempre passo perto de um bar que é bem tranquilo. Tenho um óculos e uma touca no porta luva, vai servir" Digo indo pro porta do motorista. Ela fica um pouco surpreso, e então entra.

Chegamos no bar e sentamos em uma mesa mais isolada no canto. Pedimos duas cervejas.

"Por que está fazendo isso? " Ele pergunta.

"Não sei....só te achei uma pessoa interessante, além disso você não teve preconceito com minha aparência, o que é um ponto positivo" Digo.

" As pessoas te tratam mal? Sabe...por conta da sua aparência?" Ele pergunta meio sem jeito

"Ás vezes...não posso julgar, ás vezes até eu me acho esquisita" Digo sorrindo e ele ri de leve.

" Eu não te achei esquisita" Ele diz com um sorriso bobo

"Não?" Pergunto

"Na verdade te achei linda...você é...única, e inconfundível...." Ele diz se aproximando um pouco

"Tudo isso só por que eu te ajudei a fugir do bicho papão?" Eu digo e ele ri. Uma risada grossa que me causa arrepios.

"Talvez...." Ele diz um pouco baixo, olhando pros meus lábios.

Vamos nos aproximando, como se nossos corpos tivessem vontade própria.

Tyler coloca a mão no meu pescoço e me puxa pra um beijo.

Um beijo quente. Que me faz ter sensações únicas.......

...****************...

Me mexo um pouco, estava em uma cama confortável. Abro meus olhos e sou atingida pela claridade, me fazendo fechar os olhos com uma dor de cabeça.

Ressaca.....

Coloco a mão no rosto e sinto algo esquisito em meu dedo. Olho pra minha mão fazendo meu olho arregalar. Era um anel de brilhantes no meu dedo anelar.

Olho em volta. estava em um quarto de hotel que não era o meu.

Levanto o lençol e vejo que estava apenas com as minhas roupas íntimas.

Pulo da cama e saio vestindo minhas roupas.

Ava, que merda você fez?...

Olho para o cama e vejo um papel grande que me chama a atenção

Pego o papel e leio.

Era uma certidão de casamento. Fragmentos da noite passada vem em minha mente. Leio os nomes da certidão.

Ava Madison e... AI MEU DEUS!!!

Eu tava casada com TYLER WOOD?!!

Tyler sai do banheiro, vestindo apenas uma calça jeans.

"Ava...a gente tem um problema..." Ele diz

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