Atraídos pelo fogo

— Você Não consegue terminar 2 bolas e a casquinha. Talvez até as duas consiga comer, mas não a casquinha.

— consigo sim. Hoje eu consigo morro de fome.

— tudo bem. Mas é melhor você comer tudo.

Eu balanço o dedo para ela e falo se ameaça, o que a faz revirar os olhos e rir. Quanto a mim, vou pedir o de sempre: negresco com pedaços de limão e casquinha recheada.

Mia entra no drive- associação financeira e, enquanto esperamos a nossa vez, eu

digo :

— Aposto que não tem essa sorveteira na Espanha.

— Não deve ter mesmo- responde ela.

— Você só vai voltar aqui no Natal e Ano Novo.

Mia olha direito para a frente.

— Natal— corrige ela. O feriado de Ano Novo é curto demais para um voo tão longo, lembra?

Bela faz beicinho.

— O Natal vai ser um saco.

Eu fico silêncio. Nunca tivemos um Natal sem Mia. Ela sempre prepara o peru, os brócolos gratificados e as cebolas cremosas. Eu faço as tortas (de abóbora e de noz-moscada) e o puré de batatas. Bela experimenta tudo e arruma a mesa. Não sei assar peru. Além disso, as nossas duas avós estarão presentes, e Nana, a mãe do nosso pai, gosta mais de Mia. Ela diz que Bela a deixa exausta e que eu sou sonhadora demais.

De repente, entro em pânico e fica difícil respirar. Não dou mais a mínima para o gelado de morango com menta. Não consigo imaginar um Natal sem Mia Não consigo imaginar nem a próxima segunda-feira sem ela. Sei que a maioria das irmãs não se dá bem, sou mais próxima de Mia do que qualquer outra pessoa no mundo. Como poderemos ser as irmãs Ming sem Mia?

A minha amiga mais antiga, Violetta, fuma, fica com garotos que não conhece sido suspensa duas vezes. Em uma delas, teve que comparecer ao tribunal por evasão escolar. Eu nem sabia o que era evasão escolar antes de conhecê-la. Se quiser saber, é quando falta tanta aula fica muito encrencado.

Tenho certeza de que, se Violetta e eu nos conhecemos hoje, não seriamos amigas. Somos tão diferentes quando duas pessoas podem ser. Mas nem sempre foi assim. No sexto ano, Violetta gostava de papéis de cartas, festas do pijama e de pernoitar acordada vendo filmes da amarga robbie, como eu. Mas, no oitavo ano, ela começou a fugir depois que o meu pai dormia para se encontrar com garotos que conhecera no ‘centro comercial’. Eles traziam-na de volta antes do amanhecer. Eu ficava acordada a noite toda, morrendo de medo de ela não conseguir chegar antes de o meu pai acordar. Mas ela sempre voltava a tempo.

Violetta não é o tipo de amizade com quem se conversa todas as noites ou almoça diariamente. Ela é como um gato de reua, vem e vai quando quiser. Não fica presa a um lugar ou uma pessoa. Às vezes, fico dia sem ver Violetta, e de repente, no meio da noite, ouço uma batida na janela do quarto e é ela, empoeirada na magnólia. Eu já deixo a janela destrancada só por precaução.

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