Ela só me vê como amigo

Melissa sentia-se pouco à vontade e pouco acolhida na casa da sua mãe e de seu padrasto, que a criara como pai desde os três anos de idade. Maria Fernanda era uma mulher branca de cabelos e olhos castanhos claros. Tinha estatura mediana, corpo ovalado, era extremamente impaciente e não se parecia em nada com Melissa.

       Maria Fernanda e Sérgio tinham um pequeno Hortifruti no bairro em que moravam. Para ajudar nas despesas Melissa teve que ajudar no comércio. As conversas eram curtas, Melissa sempre estava ocupada fazendo as tarefas de casa, trabalhando no Hortifruti, ou fazendo trabalhos externos.

       Sempre que possível ela falava com Marcos via mensagem de texto, pois sempre estava ocupada e não conseguia atender as chamadas de vídeo. Ela de sentia mal, a cidade era pequena e apesar de ninguém se lembrar dela, Melissa sentia vergonha de ter retornado sem nada grandioso na bagagem. A cobrança de seus pais era muito grande. Ela já estava entrando em desespero. Pensava: "Como vou sair daqui? Ter independência financeira novamente? E meus sonhos? Eu trabalho para meus pais por teto e alimentação. Nada mais justo, tenho quase 40 anos e ainda estou estacionada no tempo. Já não sei quem sou".

       Marcos tinha suas dúvidas sobre se o relato de Melissa era verdadeiro. Como aquela mulher economista, bonita, elegante, coberta de semijoias, ambiciosa, poderia estar trabalhando em um pequeno comércio, por teto e comida?

        Marcos perguntava via mensagem de texto se ela estava o evitando. Ela dizia que não, só estava sobrecarregada e que sentia saudades dele e do tempo que passaram juntos.

        O tempo foi passando e já era 25 de outubro. Marcos então decidiu fazer uma surpresa para Melissas. Naquela noite ela estava muito cansada após um dia intenso de trabalho.  Chegou em casa, ajudou a mãe com o jantar e foi tomar banho. Quando ela saiu do banheiro, sua mãe e padrasto já estavam sentados à mesa jantando. Ela pediu desculpas pelo atraso e sentou- se. Então Sergio disse:

       - Melissa sua mãe e eu estamos te ajudando, mas já é tempo de você resolver sua vida e nos deixar.

       - Mas pai... Eu estou tentando...

       - Melissa você já tem 40 anos, não casou, não exerce a profissão, ainda bem que não arrumou filhos. - Disse sua mãe.

      - Eu estou enviando currículos online, estou indo às agências quando estou fazendo os trabalhos externos do Hortifruti. Vou conseguir algo logo eu sei. - Disse Melissa engolindo a raiva misturada com choro e desapontamento.

       Eles jantavam na sala de jantar que ficava próximo à porta de entrada da sala de estar. Como o bairro era calmo, eles tinham o costume de deixar o portão encostado. Mal imaginavam que alguém estava em pé do lado de fora da porta e ouvira toda a conversa.

        Após a conversa a pessoa bateu à porta e disse:

         -Família Gomes!!

       Melissa estava atordoada e foi abrir a porta. E para sua surpresa era Marcos. Ela então disse:

       - Marcos! Oque faz aqui? Nossa! Que surpresa... Boa.

       - Vim conhecer seus pais. E eu também estava com saudades.

       - Entre por favor. Jante conosco! - Disse Melissa apreensiva quanto a reação dos pais.

        A casa tinha seis cômodos e dois banheiros, tinha uns 400 metros quadrados ao todo. Os móveis eram antigos, estilo vitoriano, a maioria de cor branca, Marcos observou discretamente cada detalhe, era uma casa aconchegante.

       O casal Gomes percebeu que o homem era muito elegante, vestia alfaiataria distinta. Ele usava um relógio de maraca muito cara. Em uma mão ele segurava uma caixa que tinha o logotipo da Confeitaria mais cara da cidade. Na outra mão ele carregava um lindo buquê de astromélias.

       - Mamãe, papai, este é Marcos Freire meu... Amigo e advogado. Marcos, esses são meus pais Maria e Sérgio. - Disse Melissa um pouco perdida.

         Prontamente o casal se levantou e o cumprimentou. Pediram que ele se sentasse. Marcos então disse:

         - É um prazer conhecê-los. Essas flores são pra senhora Dona Maria.  E a torta holandesa é para o Seu Sérgio. A Melissa comentou que ele ama doces.

         Os pais de Melissa estavam encantados com aquela presença, Melissa colocou outro lugar a mesa. Todos jantavam e conversavam. Então o padrasto dela perguntou:

        - Marcos, quais são suas intenções com a Melissa?

        - As melhores. Eu gostaria de namorá-la, mas ela só me vê como amigo.

        - Você atua em que área do direito? - Perguntou Sérgio curioso.

        -Tenho doutorado em direto tributário- fiscal, trabalhei dezesseis anos na mesma empresa de Contabilidade. Agora estou abrindo minha própria empresa.

        - Marcos, a nossa Melissa é formada em economia. Vocês formam um belo par. Tenho certeza que ela vai repensar. - Disse Maria entusiasmada.

        Após uma conversa agradável, onde Melissa quase não teve voz ativa. Eles comiam a deliciosa torta holandesa. Marcos convidou os pais de Melissa para conhecer sua casa. Passar um fim de semana respirando ar puro no campo. Eles prontamente aceitaram. Marcos disse a eles que havia vindo à cidade de serviço de táxi aéreo e que havia alugado um carro. Disse que estava hospedado em um determinado hotel. Os pais de Melissa ficaram de boca aberta, pois era um hotel não muito acessível a pessoas com uma vida modesta. Marcos pediu permissão para levar Melissa para um passeio de carro. Os pais prontamente autorizaram.

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