Capítulo V

...Ibrahim🔥...

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Após conversar com o meu pai, fico um tempinho há mais na sala, até que eu acabo indo para o jardim, e peço para que uma das funcionárias a chame. Assim que eu a vejo, o meu coração logo dispara. Ela está linda, uma verdadeira princesa. Ela está elegante, e o hijab caiu perfeitamente nela.

Ela se aproxima de mim, e eu vou sentindo o meu coração batendo de forma descompassada. Eu ainda não entendo toda a bagunça que está aqui dentro de mim, mas só sei dar sorrisos bobos, olhando para ela.

Lila: Olá!

Ibrahim: Olá! Você está linda.

Lila: Obrigada! Confesso que tudo é muito novo para mim, mas eu estou amando.

Ibrahim: Essa roupa caiu bem em ti, principalmente o hijab.

Lila: Eu sempre achei muito lindo o véu. Nas poucas vezes em que eu pude sair, vi algumas mulheres usando, e sempre tive muita vontade de usar.

Ibrahim: Não saia muito? Por que?

Ela abaixa a cabeça, e cuidadosamente levanto o seu rosto, segurando suavemente o seu queixo. Os nossos olhares se encontram, e ela faz com que eu me perca completamente. Os seus olhos verdes me fazem viajar para outra dimensão, formando uma imensa confusão dentro de mim, e e ao mesmo tempo, me trazem conforto, paz, e ao mesmo tempo me fazem querer protege-lá do mundo.

Lila: Eu fui criada num prostíbulo. Eu não conheço os meus pais, nem de onde eu vim, nem o motivo deles terem me deixado ali. Eu não sei se eu fui deixada para trás por alguma mulher que trabalhava naquele bordel, e por mais que eu buscasse as respostas, eu jamais encontrei.

Ibrahim: Eu sinto muito, querida... eu imagino que você tenha passado, e sei que não deve ter sido nada fácil, mas eu estou aqui, tá? Eu estou aqui para cuidar de ti, e vou lhe proteger. Pode confiar em mim, ok? Aqui, ninguém poderá lhe fazer mal algum.

Lila: Eu confio, porque o senhor salvou a minha vida e tem sido muito bom comigo.

Ibrahim: Pode me chamar apenas de você, ok? — Dou um sorriso. — Quer me contar o motivo de estar correndo tanto?

Lila: Ok... eu fui mantida presa num prostíbulo, como já lhe disse, mas eu nunca fui obrigada a me prostituir. Eu sempre estranhei muito o fato de terem me preservado, e eu não poderia nem respirar tranquila quanto a isso, porque sabia que algo muito pior viria, pois eles não eram as melhores pessoas desse mundo. Até que eu acabei ouvindo uma conversa dos seguranças, onde diziam que eu era a garantia do lugar, caso fossem a falência. Esse tempo todo eu era exibida, aumentando o desejo dos homens, para que quando precisassem, pagassem o que fosse necessário para poder me ter.E, soube também que eu fui vendida por um preço muito maior que eu estava valendo atualmente. E então, eu acabei planejando fugir dali com uma amiga, mas ela acabou não aguentando toda a pressão, a saudade da família, que achava que ela vivia uma outra vida, afinal, haviam sido enganados pelo sistema do tráfico de pessoas, ela acabou se suicidando. Quando eu sai de lá, eu a vi, sabe? Ei a vi ainda mais linda, mais feliz, sorridente, iluminada, e me guiou para fora do lugar. Foi como se todos estivessem completamente cegos, ou eu estivesse invisível, e consegui sair dali. Comecei a correr como nunca, que nós nos conhecemos.

Ibrahim: Nossa! Isso é chocante! Como ainda existem pessoas que se acham no direito de traficar pessoas, sonhos, brincando com pessoas, que buscam por uma vida melhor? As pessoas perderam a noção, o amor pelo próximo! Eu sinto muito pela sua amiga. É muito triste perder a vida desse jeito, tendo os sonhos interrompidos. Mas, como lhe disse, você agora não estará mais sozinha, e logo, as moças desse lugar também estarão, porque vamos dar um jeito nisso, tá bom?

Ela assinte em afirmação, e eu a puxo para um abraço apertado. Ela é bem menor que eu, mas se encaixa perfeitamente no meu abraço. Ficamos alguns minutos assim, e para falar bem a verdade, eu não sinto vontade de larga-lá, nem por um instante.

Ibrahim: Está com fome?

Lila: Um pouco...

Ibrahim: Vem, vamos comer alguma coisa, tá?

Lila: Tá...

Ela dá um sorriso tímido, e entramos em casa. Ela se senta, e uma funcionária começa a nós servir. A Lila começa a comer um pouco sem jeito, mas logo noto que ela estava faminta. Os seus olhinhos brilham, e eu a admiro sem ao menos que dar conta do tempo que está passando. Os meus pais descem, e o meu pai então pode conhecer a Lila.

Hassan: Olá, Lila! Seja muito bem vinda. Eu me chamo Hassan.

Lila: É um prazer lhe conhecer, senhor. Muito obrigada!

Shadia: Eu lhe disse que ela é um doce, querido!

O meu pai sorri, e a Lila cora. Eles se sentam na mesa e começam a conversar conosco, e a Lila aos poucos vai se soltando, dando risada das histórias do meu pai, e eu somente continuo observanso o seu sorriso, o seu jeitinho, que me cativa. Mesmo sofrendo tanto na vida, ela ainda sorri, e carrega consigo uma essência linda, uma pureza que irradia, uma doçura me ganha mais a cada instante. Os nossos olhares algumas vezes se cruzam, e eu sinto um calor gostoso percorrendo todo o meu corpo.

Shadia: Bom, vamos nos deitar, querido?

Hassan: Vamos sim, amor. Masa' u Al-Khair.

Shadia: Masa' u Al-Khair.

Lila/Ibrahim: Masa' u Al-Khair.

Os meus pais sobem,e ficamos sozinhos na sala.

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