O apartamento da minha mãe é afastado do centro aqui em Paris, consequentemente fica longe de onde estou morando.
Sebastian exigiu que eu morasse perto da Beautymore, no centro, então, não visito minha mãe com frequência.
Moro em um flat porque o aluguel é bem caro naquela região, foi o que consegui pagar. Ganho extremamente bem no trabalho, mas faço investimentos com meu dinheiro porque quero ter uma boa reserva para o futuro. Não quis alugar nada mais caro.
Hoje é sábado e acordei bem cedo, quero passar o dia com minha mãe se não acontecer nenhum imprevisto.
_ Oi filha, senti saudades. Moramos na mesma cidade e nos vamos tão pouco _ ela fala, me abraçando apertado quando chego na sua casa.
_ Oi mamãe, também sinto saudades, mas você sabe que o meu trabalho me ocupa muito _ respondo.
_ Sei sim, seu chefe é quase um carrasco. Entra que coloquei a mesa de café. Fiz as panquecas que você tanto gosta.
_ Obrigado, estou mesmo faminta.
Seguimos para a cozinha e logo me sento para apreciar os quitutes da minha mãe. Ela sempre cozinhou divinamente bem. Foi muito difícil para mim sair de casa. Meu pai morreu em um acidente de carro quando eu tinha seis anos, ela trabalhava em uma confeitaria, me criou com a ajuda da minha avó paterna, que também já faleceu. Sinto muitas saudades da nona. Cuidava de mim como uma filha enquanto minha mãe estava trabalhando.
Não me lembro do meu pai direito, tenho vagas recordações. Na época que ele se foi, frequentei um psicólogo, parece que minha mente se esqueceu de momentos com ele como uma forma de me proteger de sofrer.
Quando minha avó morreu, eu ainda cursava ensino médio e foi muito difícil. Sou filha única, então ficamos eu e minha mãe, quando comecei a trabalhar para a Beautymore me mudei e senti muita falta dela comigo. Tive seu incentivo para que eu fosse e seguisse em frente. Criei minha filha para o mundo, ela disse para mim.
Agora já me acostumei, torço para que minha mãe encontre alguém. Ela ainda é nova e bem bonita, está com 50 anos, mas parece ser mais jovem.
Tem um vizinho aqui, que anda arrastando asa pro lado dela.
_ Mãe está uma delícia. A cada vez que como suas panquecas elas ficam melhores. Como pode isso?
_ Não exagera _ Ela reclama, mas sei que gosta de receber o elogio. _ E você Ana, como está?
_ Bem mãe _ Respondo firme. Se demostrar alguma coisa ela não vai me deixar em paz até descobrir o meu segredo.
_ Quando vai me apresentar para o seu namorado?
_ A senhora sabe que não tenho nenhum _ Ela joga verde para colher maduro. Muito astuta essa dona Áurea.
_ Como que pode isso? Você é jovem e bonita. Qualquer homem aceitaria namorar com você? Então qual é o problema?
O problema é que o homem que eu quero já tem dona. Penso.
_ Não tem problema algum. Apenas não encontrei alguém que me atraiu ainda _ falo enquanto como mais um pouco. Não sei quando vou voltar aqui, então aproveito.
_ Você gosta de mulher, é isso?
Eu engasgo quando escuto o que ela fala. Ela me passa um copo com água e bebo logo.
_ Se você for lésbica fala logo _ Ela continua nervosa pela minha reação. Ela deve estar louca, só pode.
Eu me recupero e não aguento ficar séria. Solto uma enorme gargalhada.
_ Não mamãe, eu gosto de homem sim.
Ela me olha desconfiada
_ Estou falando sério mamãe. Sei que a senhora se preocupa comigo, mas estou bem do jeito que vivo. Quando conhecer alguém eu marco e apresento para a senhora. Mas minha vida é tão corrida que não tenho muito tempo para namorar _ Falo. Ela nem sonha que eu saio quase todos os fins da semana e que não namoro porque não quero. Só vou apresentar para ela a pessoa certa.
_ Isso é verdade, esse seu chefe é muito narcisista filha. Ele tem família e nem assim te dá descanso _ Ela reclama.
_ Ele está enfrentando muitos problemas com uma filial no Brasil mamãe _ o defendo.
_ Todo mundo enfrenta problemas minha filha, se matar de trabalhar não resolve nada. Muito pelo contrário, se ele tirasse um tempo para descansar ficaria com a mente tranquila para ter respostas para os problemas. Não acha?
_ Sim eu acho, mas ele não _ faço um biquinho com a boca, Sebastian não deve nem dormir direito, coitado. Ontem ele estava uma fera pela reunião de quinta feira com os brasileiros. Fez um inferno do meu dia. Até a comida que levei para ele, reclamou que estava ruim.
Em outra época eu ficaria irritada, agora nem respondo quando ele começa a xingar. Fico calada e continuo a trabalhar, preciso do emprego. Permaneço contente quando lembro que ele vai tirar uns dias para passar com a família. Vai ser um descanso para mim.
_ Ele ainda vai aprender que nem tudo na vida é trabalho _ minha mãe fala com sabedoria. _ Espero que quando isso acontecer, ele repense suas escolhas.
Ela fica triste, deve estar lembrando do meu pai. Ele sempre colocava o trabalho em primeiro lugar, minha avó me contou inúmeras histórias de como ele era ausente comigo e com mamãe. No dia do acidente, ele estava em alta velocidade porque estava atrasado para uma reunião. Ele era advogado em uma grande empresa. Estava chovendo e o carro deslizou batendo de frente com um poste. Ele morreu na hora porque na pressa de chegar rápido nem o cinto de segurança colocou.
Eu sei que minha mãe o amava muito, talvez ainda o ame, mas ver que ela se entristece quando lembra dele me deixa chateada.
_ Agora me fale da senhora. Quando vai dar uma chance para o senhor Giorgino? _ Mudo de assunto propositalmente.
_ Não começa Ana. Você sabe que eu já estou muito velha para pensar nessas coisas _ reclama.
_ Que velha o quê? A senhora é linda e ainda tem tanto para viver, tem anos que ele está atrás da senhora. Mamãe, dá uma chance e depois vê se dá certo. Acredito que a senhora está deixando sua felicidade passar.
_ Minha felicidade é você. Encontre um namorado e me faça feliz, está bom?
É lá vem ela de novo com esse assunto. Sou salva de responder pelo toque do meu telefone. Peço silêncio para minha mãe e atendo meu chefe.
_ Pois não senhor Sebastian.
_ Vem no escritório na minha casa agora _ ele fala e desliga.
Acha que fico surpresa? Não, apenas suspiro.
_ Mamãe, aconteceu alguma coisa, eu preciso trabalhar_ falo, tomo o resto do café e vou saindo.
_ Como assim trabalhar. É fim de semana, seu chefe não pode fazer você trabalhar igual ele. É desumano _ vem atrás de mim reclamando.
_ Ele pode mamãe, me paga bem por isso mesmo. Até outro dia, prometo que não vou demorar.
_Esta bem. Tome, leve essas mini tortinhas de chocolate que fiz _ Ela me entrega uma generosa vasilha, pego e saio quase correndo.
A mansão que Sebastian mora fica em um condomínio fechado, da alta elite. Me identifico e sigo até ela.
O mordomo já me espera na porta como sempre. Pela sua cara, as coisas não estão boas hoje.
_ Porque demorou tanto? _ Mal passo do hall de entrada e meu chefe já rosna para mim. _ Depressa, não tenho o dia todo _ fala e vai andando rápido para o escritório. Eu o sigo resignada. Ele está com os cabelos despenteado e sem o casaco, a gravata frouxa e alguns botões da camisa abertos. Meu coração salta no meu peito. Agora nao Ana. Penso. Esse jeito bruto me leva a pensar em como é a pegada dele. Jesus. Foco Ana, foco.
_ Analisa esses papéis depressa _ Ele me entrega um monde de folhas fora de ordem. Coloco minha bolsa no sofá que tem próximo à janela e me sento em frente à mesa dele. Aliás, está tudo uma bagunça, contratos caídos no chão, papéis rasgados e espalhados. _ O que está olhando? Analisa isso logo.
Começo a fazer o que ele exige e depois de quase uma hora vejo o problema.
_ Os números não batem _ afirmo.
_ Exatamente. O que aqueles incompetentes na filial do Brasil pensam que estão fazendo com a minha empresa? _ Ele está possesso de raiva.
_ Um problema como esse precisa ser resolvido pessoalmente. Alguém de confiança _ digo e penso que ele pode enviar seu primo, o Jack.
_ Sim, estamos indo para lá amanhã _ Ele fala e eu não acredito no que ouço.
_ É.....
_ Compre as passagens no primeiro horário que tiver, separe esses papéis, vamos analisar juntos assim que chegarmos lá, agende uma reunião e não deixe que eles saibam que sou eu que estou indo encontrá-los, cheque todos os meu e-mails e responda para mim. Vamos ficar lá dois dias, entre em contato com Mary e adie a minha agenda, o que não puder esperar transfira para Jack. Pressione ele para que não cometa nenhum erro na minha ausência, repasse os contratos novos e me entrega um relatório.
Assinto com a cabeça, vou até minha bolsa, pego meu celular e anoto tudo antes que me esqueça.
Passamos horas ali, ele entretido com os números e eu trabalhando.
Escuto alguém bater na porta. Ele não responde. Eu suspiro e vou atender, é uma funcionária da casa.
Cumprimento ela e a deixo entrar.
_ Senhor, o almoço está servido.
_Não vê que estamos trabalhando? Fora daqui _ ele fala.
_Mas, a senhora Serkan disse que está esperando o senhor e que não vai comer se o senhor não estiver à mesa _ explica nervosa.
_Diga que estou ocupado. Agora saia _ Ele nem mesmo olha para ela ao responder. Ela sai quase correndo.
Coitada da Clara, está com menos de duas semanas para ganhar a bebê e agora esse problema na empresa. Não deve estar sendo fácil conviver com Sebastian.
_ O que está fazendo parada aí? Volte ao trabalho _ Ele me repreende olhando nos meus olhos. Desvio os meus e fecho a porta voltando a me sentar para continuar a ler os contratos.
Não passa muito tempo e me lembro das tortinhas que minha mãe me deu. Vai ser minha salvação. Meu estômago já está doendo de fome.
Pego a vasilha e volto, coloco ela na mesa, distraída começo a comer enquanto continuo o trabalho.
Em dado momento quando vou pegar mais uma, minha mão encosta em algo quente e involuntariamente eu estremeço.Levanto os olhos e vejo que é a mão de Sebastian que também estava pegando das tortinhas. Nossos olhos se encontram, eu recolho minha mão como se tivesse levado um choque elétrico. Não sustento o olhar dele e me escondo atrás dos papéis fingindo ler.
Se acalme, se acalme. Penso como um mantra. Esquece a reação de seu corpo, esquece daqueles olhos negros. Lembra de Clara, da filhinha Cloe e seu trabalho. Funciona e logo estou concentrada de novo.
Passamos o dia todo no escritório, só saio duas vezes para ir no banheiro.
Quando termino tudo já está a noite. Respondo as mensagens de Beth e Daniel. Ela quer ir numa boate hoje, ele quer ir na minha casa. Marco com os dois na boate as dez. Assim da tempo de ir em casa e me arrumar.
Saio do escritório atrás de Sebastian. Quando chegamos na sala encontramos Clara sentada no sofá acompanhada da enfermeira. Eles contrataram duas para ficar com ela porque nesse último mês a pressão dela está subindo muito. Uma fica durante o dia e a outra a noite.
_Oi Ana, como conseguiram trabalhar o dia todo sem comer? _ Ela reclama comigo, mas pelo olhar encarando o marido, culpa ele.
_ Oi senhora Clara. Comemos algumas tortinhas que eu tinha trazido _ explico. _ A senhora está se sentindo melhor?
_ Já disse para me chamar somente de Clara, Ana. Não sou muito mais velha que você assim _ Ela fala tranquila.
_Desculpe Clara é força do hábito.
_ Bem, o jantar vai ser servido agora, faço questão de que você coma conosco já que meu marido te fez trabalhar tanto é o mínimo que posso fazer.
_ Infelizmente tenho que recusar, marquei de sair com alguns amigos e não quero me atrasar _ falo. Nem em sonho que continuo ali. O clima parece tenso e Sebastian nao diz uma palavra sequer.
_ Que pena, deixamos para outra vez então.
_ Tudo bem. Tenham uma boa noite.
Elas me respondem em despedida.
_Que horas é nosso vôo amanhã Ana? _ Sebastian pergunta voltando sua atenção para mim.
_ As 7 da manhã.
_ Voo? Que vôo Sebastian? Como você não me disse isso antes hem? Você sabe que estou perto de ganhar nossa filha e marca de viajar. Isso é um absurdo. Vou ter que ligar para seu pai para que ele te tire da presidência dessa maldita empresa. Você só pensa nela. Não se importa comigo, nem com sua filha. Você acha isso certo Ana?
Eita que eu queria estar em qualquer outro lugar menos aqui nesse momento. Todos olham para mim, aguardando uma resposta.
Não é justo. Eles que resolvam os problemas deles.
_ Não se exalte Clara _ falo e me sento ao seu lado. _ Pensa na Cloe, conversei com sua enfermeira essa semana e ela me disse que sua pressão tem subido muito. Precisa descansar, ficar tranquila. Lourenço está muito contente com a chegada da sobrinha, mas só vai conseguir vim dois dias antes da Cloe nascer, sendo assim precisa de muito repouso para que ela não se adiante viu _ vou falando tudo o que consigo pensar e aos poucos ela se distrai.
_ Verdade, ele me liga todos os dias para saber como estamos _ Ela sorri.
_ Aposto que ele já comprou os presentes? _ Comento.
_Sim, ele disse que como tio ele pode dar tudo o que quiser.
Continuo conversando com ela mais um pouco e depois vou embora.
Antes de seguir para a “boate” como um macarrão instantâneo para fortalecer o estômago e saio.
A “boate” está ótima, mal chego e já estou dando um beijo no Daniel.
Aproveitamos muito e ele passa a noite no meu flat comigo.
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Comments
Edna César
ele não ama a mulher dele
2025-01-04
1
Edna César
grossooooooo
2025-01-04
1
Edna César
ele é casado querida. fica na tua
2025-01-04
1