Cap 5 Antônio

Trabalhei ao lado de meu pai na Fazenda Trevisan desde que me entendo por gente, lembro pouco de minha mãe, tenho uma foto borrada dela, e o pouco que sei é o que minha avó contava..., meu pai não falava nela.

Perdi meu pai aos 15 anos, estávamos resgatando um dos cavalos que fugiu, ele foi picado por uma cobra venenosa, estávamos muito longe da fazenda, na mata, um lugar de difícil acesso, mesmo tentando socorre-lo o mais rápido possível, não foi suficiente.

Depois disso, me fechei ainda mais, sempre fui tímido, calado..., mas não com Naomi, tínhamos uma ligação desde criança, me iludia achando que podíamos ser amigos e ficar juntos para sempre, fui crescendo ouvindo de meu pai para me afastar, ela era nossa patroa e não uma amiga, seu César sempre deixou isso bem claro nas vezes em que chamava minha atenção, mas eu acabava esquecendo quando estava com ela...

Cheguei a brigar com meu pai por isso, não aceitava a realidade..., depois que ela se foi, fiquei muito triste, meu pai me fazia lembrar que aquilo era uma grande besteira, nunca fui nada para ela, apenas um brinquedo, um capacho que vivia correndo atrás dela e fazendo suas vontades..., só depois que ele morreu entendi que tinha razão e percebi que tudo o que idealizava era coisa da minha cabeça, não passava do filho de um empregado do pai dela..., me tornei um pião da fazenda e logo entendi meu lugar.

Mas aí, Naomi voltou, uma moça linda..., fugia dela, dos maus pensamentos, era jovem, com os hormônios em combustão, acabei cometendo o maior erro da minha vida..., a amei..., só tinha 17 anos, não pensei nas consequências, só queria saciar o desejo louco de me entregar a ela e te-la para mim, nunca esqueci nossa primeira e única vez...

No dia seguinte, estava tão feliz, ela era minha..., tínhamos combinado de nos encontrar após o almoço, quando todos descansavam, seria próximo ao riacho que corta as duas fazendas, trabalhei a manhã toda ansioso e na hora combinada fui até lá, alguém contou sobre nós..., achei que iria realmente ter Naomi de novo, mas quem foi me encontrar foi o pai dela e dois piões que ele contratou, ainda lembro da grande surra que levei..., vi o ódio nos olhos do pai dela enquanto apanhava dos dois homens, ainda lembro as últimas palavras dele antes de apagar :

"SE EU O VER POR AQUI NOVAMENTE, MATO VOCÊ E QUEIMO A CASA COM SUA AVÓ DENTRO, NUNCA MAIS OLHE PARA MINHA FILHA"

Quando acordei, já estava escurecendo, nem sei por quanto tempo fiquei jogado na beira do riacho quase me afogando, estava quebrado, tive literalmente um braço quebrado, estava sangrando..., acho que Sr César me deixou ali para morrer..., talvez ele pense que morri, nunca mais voltei...

Consegui me arrastar até um vilarejo, pedi socorro numa pensão, uma senhora me ajudou, mandou me levarem ao hospital da cidade mais próxima, contei uma mentira e depois de alguns dias internado, me recuperei..., fiz de tudo em troca de comida, até arrumar um trabalho num armazém, consegui mandar notícias a minha avó através de uma carta, pedi que não falasse de mim a ninguém, ela ainda vive na casa da fazenda Trevisan.., com o passar dos anos consegui juntar um dinheiro, mas queria ficar mais perto dela, é a única mãe que tenho, então resolvi voltar e pedi emprego na fazenda vizinha..., só para ficar perto da minha Rosário, ela sempre vem me ver.

Estou trabalhando com o Sr Benedetto há três anos, as pessoas não sabem o que aconteceu, Sr César fez de tudo para abafar o caso, proibiu de comentarem, tudo para não sujar a honra da filha e de sua família..., não tiro a razão dele.

Estou com meus 28 anos e agora consigo entender que o que fizemos foi errado..., mas não me arrependo..., faria tudo de novo para te-la.

Depois que voltei, soube algumas poucas notícias de Naomi através de Tininha, não a chamamos mais assim..., Martina, ela agora é a professora da escola, voltou praticamente um ano depois que eu estava trabalhando aqui na Serrão Fortes, Professora Martina, ela não comenta sobre os Trevisan, mora em um quartinho nos fundos da escola feito especialmente para hospedar o professor que trabalhava aqui antes dela.

Não resisti quando nos reencontramos, fiz algumas perguntas discretamente sobre o paradeiro de Naomi... Pelo que entendi, ela é uma garota da cidade, não voltou mais a fazenda, passou a morar definitivamente com a mãe, talvez já esteja casada, só me importa que ela esteja bem..., não é mulher para mim, entendi da pior forma.