Capítulo 1. Vida de Abel

Uma vela foi acesa na sala, a luz do sol entrou pela janela, os joelhos inclinaram-se no clamor dos cantos mentais da súplica e um manto aquecedor se formou em torno de Rosália, com fluidos benéficos de energias salutares, que se espalharam sobre o ambiente e foram chamados, espíritos benfeitores que intermediaram a mensagem, que se destinou, como carta para Deus:

— Bênção Pai. Bom dia! Venho agradecer por mais uma graça e por tudo que tem feito por mim e pelos meus filhos. Não foi uma tarefa fácil, o Senhor sabe disso!  Sei que ainda passarei por muitas atribulações, por isso,  peço humildemente, sabedoria espiritual, para que eu possa passar por essas aprovações.

Mas, esta prece é para Abel, que está indo em uma direção e não consigo freá-lo, não sei mais o que fazer! Deus, ele precisa de ajuda, de apoio para sair dessa vida viciante. Envie alguém, que possa guiá-lo no bom caminho!

Abençoe os animais e as florestas, abençoe os irmãos necessitados, os aflitos, os órfãos, os que sofrem todo o tipo de enfermidade física e espiritual. A cada vale que caminharem, possam encontrar no teu amor, o refúgio e amparo! Traga a harmonia na Terra e que venha como chuva de bênção! E que todos nós possamos  alcançar os nossos objetivos terreno e espiritual. Assim seja!

Assim que terminou a prece, Rosália, mãe de Abel, iniciou os afazeres doméstico e foi observada pelo seu mentor, Osvaldo, que recebeu a visita de Raul e perguntou-o:

— Ela ora por ele, diariamente?

— Sim! — Respondeu Osvaldo, afastou-se da sala em direção ao quintal e conversou com Raul. — Ela é uma mãe muito zelosa e se culpa pelo que aconteceu, porém, sem a vontade da própria criatura em querer mudar, não há muito que possamos fazer no momento!

Raul, muito obrigado por vir, tem que estar preparado! Recebi carta da Colônia e teremos muitos ventos, fortes por aqui.  A partir de agora, o senhor estará responsável, por acompanhar Abel.

—Compreendo! Agradeço a Deus e ao senhor, por ofertarem essa oportunidade e espero poder aprender e a cooperar!

Se me permite, irei vê-lo agora. Que ele possa despertar o mais breve possível!

— Esperamos pacientemente! É como uma semente, que plantamos, cuidamos, até brotar e dar bons frutos. Tudo há seu tempo!

A cintilação que solidificou o ambiente, se desfez com a partida dos mentores e ficou a luz natural do sol.

Raul concentrou-se na energia de seu discípulo, o rebelde Abel, que dormiu na casa de um amigo e encontrou em péssimo estado. Seu amigo tentou acordá-lo:

— Abel acorda! — Nem sinal, após ter chamado, várias vezes, Abel se levantou com esforço, com dor de cabeça, ele deu alguns passos e caiu. Ficou no chão, seu amigo riu e tentou novamente levantá-lo. — Acorda! Você é pesado! Levanta cara! Minha mãe voltará de viagem hoje e chegará em breve, não quero que ela te veja nesse estado, vá ao banheiro e lave o rosto, quem sabe, você desperta! Se ela pegar a casa nessa baderna, com você desse jeito, nossa! Vou ouvi-la no meu ouvido, até minha próxima reencarnação! — Exclamou o amigo, que o deixou no chão.

Abel riu e depois silenciou. Com expressão dolorosa, espontaneamente chamou, pelo Criador. Fazendo com que plasmas de energias se abrissem, então o seu mentor foi até ele, ampará-lo. Abel clamou, pelo Senhor:

— Pai, ajude-me!

Risos seguiu em seguida, fez com que, seu mentor suspendesse de emitir energias fluídicas ativas e afastou-se, deixou-o sozinho, para que Abel pudesse ficar mentalmente estável e observou a distância, com olhar preocupado de um pai para com o filho. Abel se recuperou, levantou-se e foi ao banheiro, tomou uma ducha para aliviar a dor de cabeça.  O amigo ofereceu-lhe um café forte e Abel agradeceu:

— Obrigado, que horas são?

— Oito e meia da manhã.

— Ah, droga! Tenho que ir, minha mãe, deve estar surtando agora!

Abel correu para casa, a mãe já estava furiosa e os dois discutiram:

— Por Deus, Abel! Onde estava menino?

— Não enche meu saco, não tenho mais dez anos!

— Se você me ligasse, não ficaria tão preocupada, toda vez é isso! Estou cansada e olha para mim, não se vire, quando eu estiver falando com você!

— Vou para cama, estou cansado e com dor de cabeça!

— Abel, volta aqui!

— Me deixe em paz!

— Você pensa que é o rei desta casa? Exijo respeito!

— Respeito? — Abel riu, para ira de sua mãe. Ele se aproximou dela, de forma agressiva, encostou-a na parede. — Acho engraçado, quando você fala de respeito, se você mesmo, não se dá! Por que até hoje, a senhora não fala sobre o meu pai? Qual é o nome dele? Por que não tem uma foto para que eu possa, procurá-lo? Não sei onde encontrá-lo. Porque a senhora fugiu? Droga!

— Não grita comigo! Eu não quero, falar sobre um passado, que está enterrado há muito tempo!

— Está vendo! Toda vez que toco nesse assunto, a senhora desconversa, tenho todo o direito de saber, onde ele está!

Provavelmente, você deixou meu pai, para fugir com o seu amante, não foi?

Rosália deu um tapa, no rosto de Abel. Ele não respondeu a atitude da mãe, apenas olhou para ela mudo e foi para o quarto e bateu à porta. Rosália foi para a cozinha e chorou, Carlinhos, irmão caçula de Abel, chegou e a consolou:

— Não chora mamãe!

— Meu anjo! — Rosália abraçou, Carlinhos — A mamãe não está chorando, estava apenas fazendo uma prece e fiquei emocionada. Vamos fazer chocolate quente? Depois vamos para a casa da tia Lurdes, ela levará vocês no parquinho.

— Oba! Hoje é dia de parquinho!— Disse, Carlinhos entusiasmado.

— Vamos acordar os seus irmãos?

— Sim.

Rosália acordou as outras crianças, Kael e Mateus são frutos do seu primeiro casamento com pai de Abel, Carlinhos e Cauã são gêmeos, fruto do segundo relacionamento:

— Vamos levantar, meninos!

— Deixe-me dormir mais, é sábado! — Resmungou, Mateus.

— Mateus, você ficou jogando videogame, a noite toda? Que hora você foi dormir? Hoje, iremos almoçar na casa da sua tia, por favor, levante-se e ajuda- me com os seus irmãos.

— Ah! Que droga mãe! Quero dormir, é muito cedo!

— Olha como você fala comigo, rapazinho! Meu Deus! Você está ficando igual ao seu irmão, Abel!

— Desculpe!

— Tudo bem, levante-se! Assim que terminar com os seus irmãos, tome o café da manhã, mamãe preparou o seu bolo favorito.

— Bolo de cenoura, com cobertura de chocolate?

— Sim! Com muita cobertura de chocolate!

Rosália deixou, Abel dormindo e saiu com as crianças. Ela foi à casa da irmã e desabafou:

— Bom dia, Lurdes, desculpe a demora, eu e Abel tivemos uma discussão hoje, estou muito chateada. Ele sempre tenta provocar-me e continua jogando conversa sobre o pai, na minha cara. Abel julga-me, que larguei aquele traste para fugir com outro.

— O que você fez?

— Dei um tapa, no rosto dele! Em razão de difamar-me, dizendo que fugi com amante, não suportei! É muito desaforo, contudo o que vivi com o pai dele, ainda ouvir uma coisa dessas?

— Conta logo à verdade, não é justo, a maneira que ele vem tratando você. Abel é egoísta e ingrato, ele tem que saber o tipo de marido, que o pai dele foi!

— Não é fácil falar sobre esse assunto, só você sabe o quanto sofri, é muito doloroso relembrar o passado!

Abel está mudado, não estou reconhecendo o meu filho. Depois que os gêmeos nasceram, ficou ainda mais distante de mim.

Ando preocupada com as suas atitudes, temo que ele fique igual ao pai!

— Deixe de se cobrar tanto! Abel já é adulto. Venha, vou ajeitar o seu cabelo, deixá-la primorosa!

— Para quê?

— Para quê? Você é jovem e têm uma vida inteira, pela frente! Há de encontrar um companheiro!

— Eu, não posso brigar com o meu destino, estou bem, sem eles!

— Como assim? Você é uma pessoa especial, não pode aceitar isso! O seu único problema, é pensar de mais nas pessoas e acaba esquecendo-se de você, vamos, vai ser rápido!  As crianças, como estão? Dando muito trabalho?

— Estão todos bem, Carlinhos é uma graça, é o mais preocupado comigo, Cauã é arteiro, adoro brincar, já Kael, você sabe, ele adora jogar bola e é muito apegado ao irmão mais velho, já Mateus, é outro que está dando trabalho, se não ficar de olho, vai acabar rebelde, como  Abel.

— Percebo que você precisa descansar, hoje é sábado e as crianças, passarão esse final de semana comigo. Quero que você, se divirta!

— E aonde, irei?

— Para qualquer lugar, que não seja cuidar de casa e de filhos, Kevin adora muito os sobrinhos, não se preocupe! Amanhã, levaremos Kael, para jogar bola.

— Verdade, Kevin gosta muito das crianças, você tem sorte, minha irmã! Oro, para que Deus conceda a vocês, o bebê que tanto almejam. Até amanhã! Se precisar de ajuda, com eles, é só me chamar! Te amo.

— Está bem, mamãe coruja! Também te amo!

Rosália deixou os filhos aos cuidados de Lurdes e foi ao Centro Grupo Espírita Irmão Peregrino, todos os sábados, Rosália se dedica como voluntaria da casa. Ela chegou e pediu desculpas pelo atraso:

— Perdoem-me o atraso! Tive, um contratempo!

Andreia, uma colega do centro, a tranquilizou e a convidou para um café:

— Bem, está tranquilo hoje, não tem muito trabalho e ainda temos tempo suficiente para um café, vamos, sente-se.

— Obrigada.

— Rosália, você parece aflita, algo que eu possa ajudá-la?

— Realmente preciso desabafar, necessito tanto  de um auxílio! Sabe Andreia, desde que me casei, com o pai, de Abel, não tive mais sossego, com o nascimento dos outros dois filhos, a situação ficou insustentável! O pai dele tinha problemas com bebidas e me batia todos os dias, ameaçava levar os filhos embora, caso eu resolvesse, me separar dele. Quando decidi fugir, Abel era muito jovem, não mantive nenhum retrato do pai dele em casa e evito falar sobre o assunto!

Sustentei três crianças, sozinha, saia cede de casa para trabalhar e deixava Abel sozinho, enquanto os outros dois, ficavam na creche. Ele foi tendo amizades na rua, a sua criação praticamente foi fora de casa! Depois conheci um homem, que ajudou a cuidar deles, engravidei e tive meus gêmeos, pensei que a vida, havia dado um rumo e veio outra fatalidade, o pai dos gêmeos faleceu, me vi novamente a trabalhar ainda mais para sustentar meus filhos e quando me dei conta, Abel tornou-se viciado em bebida, igual ao pai.

É uma briga constante, me desgasta na tristeza, a culpa é minha por deixar chegar nesse ponto. Oro todos os dias, por ele, para que Deus ilumine o seu caminho.

— Chico Xavier uma vez disse, que perante as criaturas complicadas, carecemos exercitar serenidade, pois há seres humanos, que se afligem, por não saberem lidar com as frustrações emotivas e acabam de maneira equivocada, sucumbindo essas energias negativas e depois reflete nas suas ações. Quando a vivência é inelutável é preciso equilíbrio e muita prece, para que pelo menos, possa tentar conviver harmoniosamente. Brevemente, eles serão espíritos libertos e gratos pela nossa mansidão. — Confortou Andreia, o coração aflito de Rosália. — Vamos terminar o café e depois faremos uma prece, quem sabe recebemos, algum auxílio espiritual para Abel!

A sala já estava preparada, Rosália se juntou, às demais pessoas para prece. Andreia iniciou e chamou valoroso espírito benfeitor e na companhia de seres de luz, estava Osvaldo, mentor de Rosália:

— Deus, obrigada, por mais uma graça de estarmos aqui na sua casa, na companhia de espíritos celestiais. Abençoe os irmãos aqui presentes.

Pai, há uma irmã, aqui em nosso meio, que precisa dessa prece. Rosália, cujo seu filho, Abel, encontra-se em rebeldia e vícios. Por favor, enviar benfeitores na sua residência, onde ele se encontra, para fazer a limpeza espiritual do lar e a purificação da alma dele. Se há algum espírito, que esteja sintonizando a mesmas vibrações que ele, ampara a criatura, encaminhando para luz acolhedora. Que possa vir o mentor de Abel, para auxiliá-lo. Permita que a espiritualidade ajude Abel, a elevar-se perante o sono, onde seu perispírito, seja capaz de ir até a colônia espiritual, para o aprendizado ou para o amparo psíquico.

Pai nosso que estais em todos os mundos espirituais…

A prece feita por Andreia, tornou-se um fio magnético e foi transmitida por Osvaldo e chegou até o mentor de Abel, Raul, que aproveitou que seu protegido dormia, para dar a continuidade ao trabalho de limpeza espiritual, já que pela manhã, não conseguiu realizar. Raul liberou energia fluídica ativa, para ajudá-lo a se recuperar do mal-estar, devido ao consumo exagerado de bebida alcoólica e que o fez também, receber a prece de caridade de Andreia, que entrou no campo mental, levou o perispírito de Abel, ao sonho, uma mensagem, uma premonição.

Ele começou a sonhar, que estava com muitos amigos em uma rua com bebidas e mulheres. Abel entrou no carro bêbado, correu na pista em alta velocidade, perdeu o controle e bateu em cheio numa árvore.

Abel acordou assustado, o celular tocou era a gravadora e percebeu que estava atrasado, para gravar seu primeiro álbum de música.  No estúdio, o empresário Ricardo Melo estava a sua espera, Abel chegou rapidamente, com um ar de alívio de Ricardo, que  o cumprimentou, com entusiasmo:

— Aí está, o meu menino de ouro, grande garoto! Por favor, não atrase mais! Você quer matar o pai, do coração?

— Não. — Sussurrou, Abel, que colocou a mão na cabeça.

— O que foi? É ressaca das bravas?

— Acho, exagerei na festa de ontem.

— Legal, olha só, toma  um gole desse remédio aqui.

— Mas, isso é Uísque!

— É mesmo? Nem havia notado! Beba isso, que vai fazer bem! Está pronto?

— Sim. — Respondeu, Abel, que tentou beber uísque.

— Vamos gravar, depois vai descansar, sexta-feira que vem, você irá a uma festa.

— Que festa?

— Irei dar uma festa de lançamento, com fotógrafos, bebidas, tudo que você tem direito, apresentarei você para

imprensa, até contratei lindas garotas, para você se sair bem na capa, não é loucura?

— Demais!

— Agora vamos gravar e depois iremos apreciar a festa na Sexta.

As luzes se acederam, instrumentos afinados, começaram a tocar, olhos apreensivos de Ricardo, Abel começou a gravar seu primeiro álbum. Depois da gravação, Ricardo encontrou-se entusiasmado e cumprimentou Abel:

— Você alcançará o sucesso! — Sorriu, Ricardo empolgado. — Vamos comemorar!

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