A aluna e o professor

Novamente ter uma troca de professores acabava com todo o plano que arquitetei desde o início das aulas. Minha nota em matemática é péssima, não é que eu seja uma menina preguiçosa, que detesta esse conteúdo, eu acho os números até simpáticos, redondinhos só que quando eles se elevam sobre o outro, minha mente embola por completo. Sério, para que inventaram esse treco de multiplicar e dividir, para mim isso só serve com notas de dinheiro, quer saber algo que eu sou boa, é contar dinheiro, me dê uma nota de 100 e eu farei multiplicar. Agora na escola não, na escola eu realmente não sou a predileta de nenhum professor, talvez seja por isso que eu seja difícil a convencê-los a me dar uma ajudinha nas provas.

—Animada para a volta às aulas?

—Meu rosto já diz tudo, não está vendo?

Bruna sorri.

A volta às aulas sempre é bastante turbulenta, somente nos restam mais dois semestres, e logo agora que eu consegui bajular minha professora Rita, logo quando estava sendo gentil comigo a escola trata de dispensá-la. Mas que vida complicada eu tenho, além de ser uma menina com problemas na escola ainda sofro com os problemas de casa. Infelizmente há uns dois meses atrás descobri que minha mãe está muito doente, é algo no sangue, eu ainda não entendi direito, só sei que a cada dia que passa que ela não encontra um doador compatível com as necessidades que precisa, menos tempo ela tem de vida. Sou filha única, criada em casa, então para eu ver ela todo dia mais fraca, menos disposta para a vida me deixa com o coração dilacerado. Ainda tem meu pai, ele não é tão bem da saúde, desde cedo fuma então já apresenta alguns problemas decorrentes a isso, mas nada tão grave como os que minha mãe tem. Ele chora sozinho, às vezes sai de casa para não presenciar minha mãe sofrendo. É como enfiar uma faca em meu coração. Eles sempre fizeram de tudo por mim, não somos pessoas ricas, o mínimo que eles podiam me dar de conforto me davam, seja em bons materiais, em uma boa alimentação, tudo eles fizeram, sei que deveria dar mais valor a isso, abaixo a cabeça com o pensamento.

Tudo que eu queria, aliás, tudo que eu quero é achar esse doador para minha mãe acabar meus estudos e logo mais achar o emprego que me aceite. Não tenho muita experiência com nada, mas tenho força de vontade de aprender, isso já é meio caminho andado.

— Chegou a nojentinha. Bruna cochicha em meu ouvido quando Iara entra a sala. Ela é a menina mais metida do colégio, tem os cabelos loiros levemente ondulados nariz arrebitado e cara de entojada.

— Bom dia seus pobres, como foi as férias de vocês?

— Engraçado, não estou vendo nenhum rico aqui na sala. Fazem um couro super alto. — As minhas férias foram em casa mesmo, mas as suas como você se acha melhor do que todos, devem ter sido em Milão.

— Não queridinha, não foi em Milão. Um dia pretendo ir para lá quem sabe. Para onde eu fui agora, não vou te contar, você não é minha amiga, não precisa saber da minha vida.

Rolo os olhos, realmente não sou e nem gostaria de ser amiga dessa garota. Iara tem uma péssima mania de ser soberba, ela se acha melhor do que todos, Como se comesse camarão e arrotasse caviar. Seus pais têm a condição de vida na mesma ou pior que a dos nossos. Ela já foi muito rica seu pai era um deputado muito conhecido na cidade na verdade ex deputado, assim que não se reelegeu teve um estresse tão grande que o fez entrar em um ciclo vicioso em bebidas, se transformou em um alcoólatra começou a beber sem parar, seu vício era esse, não tinha um dia sequer que quando trazia Iara para escola não sentíssemos o cheiro de cachaça exalando de sua boca quando falava conosco. Depois daí eles começaram a perder tudo, todos os móveis, todo o dinheiro, até penhorar uma de suas casas, por sorte ainda restou uma bem pequena na cidade, e só por isso ela se gaba, por ter uma casa na cidade, que por coincidência é o lugar mais badalado de toda a região.

Gisele, a coordenadora aparece.

— Classe, como todos sabem tivemos que fazer algumas mudanças no terceiro bimestre. A professora Rita foi demitida e agora Samuel será o novo professor de vocês de matemática. Eu espero que o tratem bem. Tenham um ótimo dia.

Todos se remexem desconfortáveis da cadeira, Na verdade acho que é uma preparação para esperar o novo professor. Estou com uma raiva sem igual por essa troca, não queria que isso acontecesse estava tudo indo bem com Rita mas infelizmente a vida do estudante não é fácil.

A porta é aberta novamente. O passos são dados ele entra e com ele um cheiro maravilhoso vem junto, perfume de homem, eu adoro perfume de homem, amadeirado. Anda alguns passos e coloca sua maleta em cima da mesa. Estou de boca aberta, ele é um tremendo de um gato. Alto, cabelos negros, pequenos pelos a barba, músculos bem marcados pela camiseta branca, meu coração começa a bater mais rápido. Bruna cutuca meu braço, afirmo com a cabeça de que sim estou vendo, ele é muito bonito mesmo.

Ele olha para toda turma como se fosse analisar um por um de quem se tratava. Seu olhar Mira o meu. Penso que ele vai desviar, mas continua a me encarar. Eu umideço os lábios e seus olhos vão junto com eles. Ai droga, o que é isso que estou sentindo em meu ventre. Ele dá um sorriso de lado, eu acabo sorrindo meio sem graça torcendo para que eu não esteja fazendo cara de idiota nesse exato momento. Logo ele começa a falar voltando seu olhar para toda a turma.

— Meu nome é Samuel e sou o novo professor de matemática de vocês.

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