O encontro

Era cedo demais para eu voltar para casa? Talvez não. O sol estava batendo em minha testa podia sentir a latente queimadura se formando em minha pele, mas que perfeito dia para procurar emprego. estava cansada de ouvir vários não, me desculpe senhora mas essa vaga já foi preenchida, a minha mente queimava, eu só queria que esse dia acabasse, que no final eu pudesse conseguir pelo menos um pouco de esperança, uma palavra incentivadora, mas a minha incredulidade me diz ao contrário que hoje seria mais um dia perdido. Não é fácil nos dias de hoje se virar sozinho, eu preciso muito de um emprego, estou prestes a ser despejada de onde moro, o aluguel vence daqui a dois dias e se eu não voltar para casa com o voto de confiança que eu conseguirei uma vaga tudo estará perdido. Eu sempre fui muito esperançosa muito batalhadora. Sempre tentei trabalhar desde pequena para garantir alguns trocados às vezes varrer a calçada, limpava gramas, ajudava os velhinhos, mas esse último eu fazia até de graça, sempre tive uma alma caridosa humilde, ajudar as pessoas é o meu incentivo diário, pena que nem todo o mundo é feito de pessoas boas.

Por mero segundos lembro-me daquele traste que quase me casei, Henrique dizia me amar falava que queria ter filhos comigo casar na igreja, de véu e grinalda, fazer uma linda festa para nossos familiares balanço a cabeça, porque as pessoas são assim, porque preferem enganar do que dizer a verdade, é extremamente desnecessário e desrespeitoso enganar alguém, se você não quer mais tal relacionamento termina e pronto, não precisa iludir, fazer a pessoa acreditar que você realmente a ama, traição é desmotivador. A pior coisa que aconteceu foi ele ter me traído com minha amiga, uma das melhores se não a melhor, Daiane frequentava minha casa, se fazia de boa moça, até mesmo se prontificava a cozinhar ocasionalmente, eu dizia-lhe que não era preciso, tinha duas pessoas morando na casa, não precisava chegar uma visita e fazer o nosso dever, só que ela insistia, eu não entendia o porquê, eu só soube que seus agrados, seu jeito de infiltrar em nossa casa era só um pretexto para ficar mais perto de meu noivo. Eu fui traída duas vezes. Em uma tarde chuvosa cheguei próximo ao meu apartamento e observei os dois ao lado de fora, iria correndo abraçá-los, porque eu gostava de nossa união, mas algo em me pediu para esperar, eu esperei, segundoos depois eles se beijaram, aquela cena foi esmagadora. Esfregava os olhos tentando entender se era isso mesmo que estava acontecendo meu noivo e minha melhor amiga aos beijos, eles estavam felizes, em seus olhos eu vi uma felicidade que comigo ele nunca teve. Penso que presenciar essa intimidade foi o que mais me deu embrulho ao estômago, a aproximação que eles tiveram, o contato, as carícias tive que equilibrar-me na parede mais próxima para não vomitar ou desmaiar. Eles entraram ao carro, as malas foram junto. Após subir ao elevador com as mãos super tremulas, o coração saltando, os olhos inchados eu pude perceber que era real, os dois fugiram e eu fiquei com as despesas.

Eu chorava desconsolada. Todos os planos, tudo que eu tinha pensado para a gente, tudo que ele me prometeu foi por água abaixo. A dor era imensa, imagina, criar uma vida inteira, um cronograma completo da sua vida com outra pessoa e tudo se acabar em segundos. Foi isso que aconteceu e eu posso dizer que ainda não superei. Eu não acredito muito que exista amor verdadeiro, uma paixão avassaladora que cure um coração ferido. Não sei mais se eu acredito em homens, eles mentem, eles traem, eles te enganam. Cansada continuo minha caminhada. Meus cabelos já grudaram em minha testa, desfaço. Enquanto ando incomoda-me por chamar tanta atenção dos rapazes, moços e idosos, rolo os olhos, detesto quando me encaram olhando meu corpo de cima abaixo. Sou morena dos cabelos negros em cascatas que batem até minha cintura corpo cheio de curvas busto mediano, cintura fina e quadris largos. Não sei o que veêm tanto em mim, não me considero a mais linda das mulheres, sou bonita sim mas há muitas outras bem melhores, às vezes eu me sinto um peixe fora da água.

— Ah! todos os meus documentos que estavam dentro de minha pasta rosa voam de minhas mãos. Acabo por também cair de bunda ao chão. Sei que foi um homem pelo sapato de couro. — Seu cretino, seu filho da mãe, seu...

— Calma. Ele tenta me ajudar a levantar mas afasto sua mão em um tapa. —Me deixe te ajudar.

— Eu não quero ajuda nenhuma. Olho para os currículos agora caídos ao chão. —Aí meu Deus. Olha essa bagunça.

Ele agacha ao chão e me ajuda a arrumar as papeladas, rapidamente me levanto e ergo a cabeça a fim de falar um monte para esse atrapalhado, como se eu tivesse meio metro para que não pudesse ter me visto antes.

—Meu nome é Igor. Perco o fio da meada por alguns segundos. Meu Deus, ele é extremamente bonito, tem um porte atlético,musculoso, o cabelo loiro jogado para trás, um pecado de homem.

Balanço a cabeça.

—Muito obrigada pela sua ajuda mas da próxima vez vê se olha por onde anda.

Saio furiosa cento ao primeiro banco que vejo a fim de esperar o ônibus, olho para uma imensa poça d'água, ontem caiu um temporal danado e ficou resquícios dele. Com incredulidade que alguém não vá jogar água em mim continuo sentada no banco, tenho fé que o ônibus apareça antes disso, aguardo por uns instantes me levanto quando vejo o ônibus vindo lá no fundo, muito obrigada meu Deus, felizmente minha roupa e minha dignidade estão intactas sorrio feliz, porém meu sorriso se desfaz quando vejo um carro ultrapassar o sinal com alta velocidade. Não, isso não vai acontecer, mas eu pago para ver e levo um banho de lama.

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