Da Paz ao Caos.

Estou ansioso pela volta para casa, principalmente por ser o dia que eu saio mais cedo. Estou na Van, voltando para casa enquanto o motorista escuta um samba... Quando ele muda de estação escuto uma notícia que as coisas no morro do Amor não estão indo bem.

E isso me preocupa, sempre que tem operação na comunidade fico no pé do morro até acabar. E como moro muito lá em cima o moto táxi não vai por causa da operação e tenho que subir a pé.

Quando finalmente chego no pé do Morro eu vejo que eu vou ter que esperar muito ainda, de onde estou eu só consigo ouvir o som da bala comendo.

E isso aqui já virou uma rotina, sempre que esse holocausto acaba sou obrigado a subir o morro e ver corpos pelo chão, eu não aguento mais isso. Sei que vivo aqui desde sempre, mas ver as pessoas perdendo a vida, porque nada aqui é planejado na hora de uma invasão da polícia.

Me deixa revoltado isso. Eu só quero poder viver a minha vida, com a minha esposa, dentro do meu lar em paz na minha casinha.

Sem me preocupar com a bala furando as paredes da minha casa por causa de um confronto com a polícia. Eu sempre falei para Nana; "Eu quero dar uma vida melhor para você!" E essa vida não é aqui.

Mas infelizmente eu não posso sair daqui agora, porque eu não tenho condições de manter uma vida fora do Morro. Aqui no centro do Rio de Janeiro tudo é muito caro, somente a vida nas comunidades, nos morros é mais em conta para quem trabalha como eu e como minha esposa.

Estou aqui há mais de meia hora, somente agora não escuto mais tiros. Acho que a polícia já deve ter ido embora por outro lado do Morro... Então eu preciso subir. As coisas estão calmas, vejo cartuchos pelo chão, ainda não vi ninguém. Até que um policial com sua arma apontada para mim diz;

— Abaixa! Abaixa! Abaixa! Coloca as mãos onde eu possa ver! Faz qualquer uma gracinha que eu atiro!

Eu me deito no chão com as mãos esticadas de cada lado da minha cabeça e respiro fundo. Essa Não é a primeira vez que eu sou parado pela polícia e não seria a última.

Mas é a primeira vez que me mandam deitar no chão, normalmente eles só me revistam mesmo e me liberam. Mas dessa vez tem alguma coisa errada e esse policial está muito agitado.

A realidade é que eu tenho medo que ele atire em mim, que acabe com a minha vida, isso não seria a primeira vez aqui na comunidade.

Eu já vi isso acontecer, eles atiram sem pensar se nós somos traficantes, quando na verdade somos apenas trabalhadores que estão voltando ou indo para o trabalho.

Eu não acho isso justo. Fico aqui deitado no chão, só que ele não me revista, o PM segura minhas duas mãos e algema. Isso para mim já está passando do estranho. Eu tento falar;

— Senhor, acho que prendeu a pessoa errada. Eu não fiz nada de errado, estou voltando do meu trabalho e...

Nesse momento eu levo um chute na cara eu apago ali.

Acordo em uma cela com mais de 12 homens, estou no chão sentindo uma forte dor em meu rosto. Um dos homens que nunca vi na minha vida diz;

— A bela adormecida acordou! Agora sai daí que é meu canto preferido! Acho bom tu fica tua novato, logo vai entender que obedecer faz bem para os ossos e o corpo.

Eu me levanto sem entender nada, vou até as grades e tento chamar alguém... Mas sou ignorado. Até que não sei exatamente quanto tempo depois sou levado até uma sala e me obrigam a me sentar.

Quando abro a boca para perguntar o que está acontecendo levo um soco na boca... Mas eu insisto e pergunto;

— O que eu estou fazendo aqui?

O Policial diz debochadamente;

— Me explica o por que tinham armas e drogas na sua mochila, "Chininha"? Aí você vai saber o porquê está aqui.

Olho para ele sem entender e pergunto;

— O senhor me chamou de quê? Está me confundindo! Não sou o chininha e na minha mochila tinha apenas meu uniforme de garçom! Lá também tinha meus documentos. Sou Gabriel Nunes, tenho 25 anos e trabalho no restaurante...

Ele me interrompe e diz de forma arrogante;

— Você não precisa mais fingir. E logo estará sendo levado para onde merece! Fique aí, logo alguém vira falar com você.

Em casa a esposa de Gabizin está preocupada, ela sabe que já era para o marido está em casa e então vai até o portão para ver se ele está vindo. Ela olha para a descida e diz;

— Droga! Não vejo ninguém! Onde está o Gabriel? Ele não é o tipo que não vem para casa sem avisar.

Ela está nervosa e distraída, olhando para a direção da rua em que seu marido deveria está vindo até que Nego a surpreende dizendo;

— Está fazendo o que na rua Nana? Mete o pé pra dentro da sua casa! Tu não perdeu nada na rua!

Nana apreensiva diz para Nego;

— Nego, Gabizin não chegou em casa ainda! Tu sabe que ele não faz esse tipo de coisa... E hoje teve operação no morro. Eu só quero encontrar ele!

Enquanto um dos meninos com radinho está passando Nego está vendo o quanto Nana está nervosa e diz para o menino;

— Ei, menor passa a visão manda esse rádio pra cá! Passo um rádio pro Falcão e pergunto; Aê Falcão, passa visão, tu viu Gabizin aí? O moleque não chegou em casa ainda.

E Falcão diz para Nego;

— Mano, o cria bateu aqui não... Mas vou dar um perdido aqui e se eu encontrar ele te passo a visão mano, já é?

Sem uma boa notícia para dar a Nana, Nego diz para Falcão e depois para Nana;

— Fechou irmão! De boa Nana, daqui a pouco o Gabizin brota aqui vou dar um rolê e volto aqui. Já é?

Ela preocupada diz;

— Eu vou ficar a sua espera, por favor, não esquece! Eu entro, mas fico na varanda. Não consigo tirar os olhos do portão.

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Comments

Lú Neri

Lú Neri

E triste mais é a realidade. Infelizmente muitos inocentes vai e está na prisão por engano ou porque um policial decidiu que ele é culpado. Aí vem a revolta, pk na prisao tem que aprender a sobreviver seja de que forma for. entra inocente e sai bicho solto. tem pessoas que dizem assim: quando tem que dar pra ruim já nasce assim. Não concordo. todos temos um histórico de vida e o" hambiente" é que forma um indivíduo. Vi um vídeo está semana de uma mãe, estuprando o filho de 4 anos, aí eu pergunto; se essa criança crescer nesse círculo de abuso, quais as chances de ser um cidadão de bem? Ele vai crescer achando normal transar com a mãe daí nasce o que? Um homem que não respeita mulher e acha que abuso sexual é normal. conheço um casal de pessoas honestas, trabalhadores e tem um filho de 1 ano e meio. A criança é muito malvada. Aperta pescoço de gato, bate em cachorro...e os pais acham que é normal, acha engraçado. Está criança vai crescer sem limites, vai achar normal a violência, que hoje é com animais, amanhã com colegas de escola e só vai piorar. Aí dizem: Os criou com amor e cuidado, sim. Mais não impôs limites, não corrigiu pk achou que era normal de criança...O personagem era trabalhador, honesto, é por um erro do sistema, se transforma...

2024-01-20

1

Joselia Freitas

Joselia Freitas

O que eles fizeram com ele 😞

2023-02-03

1

Damares🧚🍃

Damares🧚🍃

é menino a bomba veio😢

2023-01-25

2

Ver todos

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