12

Cinza no Castanho

 

Algumas semanas depois..

EI, EI, EI, EI,

WEASLEY É NOSSO REI!’

A tal música era entoada em toda a arquibancada verde e prata, e Lino mal conseguia narrar o jogo por conta da tão alta provocação.

Aquela onda de adrenalina subindo pelo corpo dos torcedores, irradiando tensão para todos os lados daquele campo, gritos e uivos se misturando à uma letra ofensiva que conseguia desestabilizar o não experiente goleiro da Grifinória. Um caos para os leões.

Era fato de que nada de bom e limpo poderia se esperar da casa a qual o emblema é uma serpente, já que as mesmas são consideradas traiçoeiras e oportunistas.. Porém, aquilo com toda a certeza estava dando frutos para os Sonserinos, pois o protagonista da música estava totalmente nervoso, deixando com que vários pontos fossem feitos para a casa rival.

Os jogos de Quadribol de Hogwarts sempre deixavam as pessoas com os nervos à flor da pele, principalmente quando se tratava da lendária rivalidade entre a Serpente e o Leão.

Hermione estava na arquibancada onde as cores eram vermelho e dourado, onde havia um bocado de alunos frustrados e igualmente nervosos por conta do placar do jogo.

A castanha gritava feito louca, dando o apoio que podia, forçando a voz para que a mesma se juntasse ao coro que dava forças aos jogadores da Grifinória.

Ela entretanto só queria que tudo acabasse de uma vez, sua voz não iria suportar tanto tempo, tampouco a pouca concentração que ainda restara a Ronald. Ela olhava para todos os lados atenta, como se fosse uma apanhadora procurando pelo pomo, talvez se o visse poderia dar um aviso à Harry e acabar logo com aquele jogo tão tenso.

O que a deixava sem sombra de dúvidas mais aflita, era a baixaria dos golpes dos malditos Sonserinos. Se pudesse já tinha azarado um a um.

Percebeu Harry atento, olhando vidrado para um ponto do campo, torceu para que o amigo moreno tivesse encontrado aquela bolinha dourada para que sua casa fosse imersa naquela alegria tão inexplicavelmente boa que era quando venciam.

— Vamos Harry! - murmurava Hermione enquanto seus colegas de casa gritavam desesperados -

Malfoy logo começou a segui-lo, emparelhando-o para que as chances de Harry pegar fossem menores.. Talvez se não houvesse tanta pressão, realização pessoal e defesa de um amigo, Malfoy até tivesse um resquício de sorte em pegar o pomo de ouro.. O moreno de olhos verdes voava à toda a velocidade perseguindo aquele objeto voador que tinha o poder de acabar com aquele jogo.

Harry estava perto, já quase conseguia sentir aquelas pequenas asas batendo em sua mão, Malfoy em seu encalço, poucos centímetros.. De repente Harry pega a bolinha rebelde, sorrindo largamente e empinando a vassoura para cima quando um balaço arremessado por Crabbe lhe atingiu os rins fazendo com o moreno fosse arremessado da vassoura.

Hermione arfou sentindo o peito apertado, torcendo para que nada de ruim ou grave acontecesse com seu melhor amigo. Por sorte ele não estava tão alto e por isso não se machucou. Hermione pôde vê-lo levantar-se em seguida, e sorriu aliviada ao constatar que ele estava bem.

Entretanto antes mesmo que a morena pudesse ter a chance de descer as arquibancadas e abraçar seus meninos, notou um certo furdunço no campo.

Não precisou de muito para que ela entendesse o que estava se passando ali. Harry e Jorge estavam atracados à Malfoy, o ruivo e o moreno davam socos e mais socos no loiro que gritava desesperado para que seus “guarda-costas” tirassem os dois de cima dele.

Hermione desceu o mais rápido que pôde, tentando a todo o custo entender o porquê de Harry e Jorge terem recorrido à violência.

Quando chegou ao campo só conseguiu ver os dois sendo levados para algum lugar com a Prof. Macgonagall, e sabia que eles dois estavam bastante encrencados.

~*~

— Como assim proibidos de jogar Quadribol? - Hermione perguntou indignada - Vocês explicaram à ela que foi Malfoy quem provocou vocês? - ela questionou olhando enraivecida para os garotos à sua frente como se fossem culpados.

— Aquela maldita sapa não nos deixou explicar! - explodiu Jorge, com o rosto da cor dos cabelos - Mas o Malfoy que não pense que acabou.. Quando eu o vir vou arrebentar toda aquela cara pálida.. - acrescentou furioso seguindo para seu dormitório.

Ronald que estava sentado perto da lareira, ainda com seu uniforme cheio de lama, olhou para Harry penalizado e suspirou frustrado antes de dizer..

— É tudo culpa minha... - largou-se ainda mais na poltrona.

— Você não me fez bater no Malfoy! - rebateu Harry um tanto quanto impaciente.

— Mas eu fiquei nervoso com aquela música.. - explicou o ruivo.

— Teria deixado qualquer um nervoso! - rosnou o moreno ajeitando o óculos no nariz.

Rony ainda fez menção de abrir a boca para retrucar ou continuar se culpando mas Harry foi mais rápido.

— Olha aqui para com isso tá? - explodiu o moreno - Já tá ruim o suficiente sem você ficar se culpando...

— Nunca me senti tão mal na vida! - exclamou Rony suspirando pesadamente.

— Entre para o nosso Club então.. - respondeu Harry com amargura.

Porém, nenhum dos dois garotos percebeu como Hermione estava centrada olhando para as janelas.

~*~

O loiro estava imensamente feliz com tudo o que acontecera... Tirando o fato de que sua casa não havia vencido o jogo, tudo pareceu se encaixar, afinal de contas. Estava um pouco dolorido por causa dos muitos socos que havia levado, mas ainda assim se permitia sorrir com a excelente notícia que recebera. Não sabia se era realmente verdade, mas só a possibilidade de que o Potter não fosse mais o apanhador era maravilhosa.

Depois de apenas responder à algumas perguntas da Umbridge sobre o porquê de ser atacado pelo Weasley e pelo Potter, ele saiu para dar seus tão adorados passeios noturnos, ciente de que não poderia ser pego pelos corredores. Mas como ele era um monitor também, e como uma certa castanha lhe dissera certa vez; ele tinha capacidade mental para dar uma boa desculpa caso fosse apanhado.

Não precisava de lua para que se sentisse em paz e embora estivesse nublado e a neve já começando a cair, formando-se grossa em algumas partes, ele saiu em direção ao pátio que dava certeiro para a janela da torre da Grifinória. Ele esperava, apesar de todos os acontecimentos, escutar músicas e badernas vindas da torre, porém a única coisa que conseguiu ouvir foi o ruído do vento gélido batendo contra as grossas paredes de pedra.

Foi então que Draco sorriu abertamente. Confirmando então que, o que circulava pelos corredores, era a mais pura das verdades. Ótima notícia, já até a considerava seu presente de natal antecipado.

Tão absorto em pensamentos ele nem teve a chance de entender o que estava acontecendo. De repente ele estava sendo empurrado com força, e logo havia uma varinha apontada para o seu pescoço.

Os olhos azuis procurando ver quem lhe ameaçava. Era a pequena morena de olhos castanhos.. Seu rosto trazia um semblante de ira e suas mãos não tremiam ao empunhar a varinha para ele.

— V-você está louca Granger? - ele perguntou visivelmente assustado - Abaixe sua varinha agora ou..

— Ou você o que? - ela questionou furiosa - Vai contar para o seu pai? Ou vai fazer uma outra música ofendendo a mim e minha família?

Draco somente engoliu em seco, ciente de que fazia tudo ao olhar irado de Hermione. Mas ele pôde notar que ela não estava agasalhada, e que logo começaria a sentir frio. Percebeu também que seus olhos estavam levemente marejados, e pela primeira vez na vida se sentiu mal por saber que aquela tristeza, por assim dizer, era culpa dele. Num impulso tocou o rosto dela com as mãos, acariciando a pele gelada e macia. De início ela ficou estática, aparentemente incrédula e intrigada com a atitude do loiro mas não demorou muito para que ela o empurrasse novamente, com mais força desta vez...

— Não me toque seu cretino! - ela berrava deixando as lágrimas enfim saírem - Você é um maldito desgraçado que não se importa com ninguém além de si mesmo.

Ela continuava a dar-lhe tapas e empurrões, fazendo com que Draco desse vários passos para trás. Em uma dessas a neve cedeu, fazendo o loiro cambalear para trás, perdendo o equilíbrio e caindo, puxando a castanha pela cintura para que ambos dividissem aquele tombo. Eles ainda rolaram por alguns metros, um por cima do outro, sujando ambas as roupas de neve.

Pararam de rolar quando toparam com um dos bancos, Draco por cima da castanha, perto o suficiente para que ambos os narizes e respirações se cruzassem. Cinza no castanho, ambos alternando entre olhos e bocas entreabertas..

Vontade, foi o que ele sentiu, tomar aquela boca nervosa e inteligente na sua, descobrir finalmente o gosto que aquela maldita sangue-ruim tinha.

Deixou que todos os pensamentos que tanto repeliu fossem libertos, nada mais importava agora, só queria saciar aquela maldita vontade que lhe perseguia.

Aproximou-se podendo desta forma sentir o hálito da garota, hortelã e suco de abóbora,  tudo tão amaldiçoadamente inebriante. O busto dela subia e descia rapidamente, estava assustada e ofegante. Lentamente ele foi para cima, fechando os olhos para poder beijar-lhe, quando os lábios quase se encostavam ele abriu os olhos,  Como se despertasse de um transe. Saiu rapidamente de cima de Hermione, odiando-se por ter se deixado levar.

A castanha se levantou rapidamente, saindo correndo em direção ao castelo sem nem olhar para trás.

E Draco ficou ali, não acreditando no que quase fez, não aceitando que ela não o impediu, não entendendo o porquê de estar se sentindo arrependido, tanto por ter parado quanto por ter tentado. Ele sabia que o melhor a se fazer era ficar ali, apenas observando a noite gélida, do que voltar para o seu dormitório onde sabia que ela não iria sair dos seus pensamentos durante toda a noite. Entendeu que ele também teria de agir como se nada tivesse acontecido, mesmo que ele sentisse sua armadura desmoronar sempre que repousava seus olhos sobre aquele emaranhado de fios rebeldes.

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