— Bom dia, meu nome é Annie e serei sua criada pessoal — falou a morena baixando a cabeça em modo de saudação —. O jovem Jaehan me deixou à sua total disposição.
— Não te quero, vá embora — soltou Saije.
Ela não soube o que dizer. Viu-o observando pela janela de braços cruzados e um rosto sério. Não pôde ignorar o fato de que era belo, também que seria um enorme problema para o Alfa.
— Mandaram-me buscá-lo para que desça para jantar. Não comeu nada o dia todo e...
— É surda? — indagou e deu-lhe um breve olhar.
— Não.
— É estúpida?
— Não, jovem Saije.
— Então, se não é nenhuma dessas coisas, vá embora. Não quero que a servidão como você se aproxime de mim.
Ela apenas fez um aceno de cabeça e se afastou.
Quando ela fechou a porta, não hesitou em continuar amarrando tudo que encontrava. Tinha deixado escondido debaixo da cama quando tocaram a porta e não pensava em continuar naquela casa. Tinham transcorrido dois dias e não podia sair para lugar nenhum porque tinha pessoas o seguindo sempre. Estava cansado e aborrecido e não ia permitir que o tivessem trancado.
Era um novo lugar muito longe de sua casa, mas assim como seus pais o tinham quase abandonado como se nada dizendo que era parte de uma lição para que soubesse que nem tudo se podia ter na vida. Então ele, simplesmente, ia embora para dar-lhes uma lição de que não podiam fazer com ele o que quisessem como se fosse qualquer coisa insignificante, pois disso não tinha nem um só cabelo. Estava mais que decidido a ir embora. Assim que amarrou uns lençóis que havia no armário e sorriu porque estava mais que orgulhoso do que estava conseguindo. Só lhe faltavam mais algumas coisas para que pudesse chegar ao chão.
Tinha estado vendo que os guardas passavam em frente à sua janela a cada trinta minutos, portanto, nesse lapso de tempo, tinha que descer. Também tinha reparado na entrada e nos arredores. Unicamente tinha estado no quarto, mas de tolo não tinha nem um só cabelo.
Quando ouviu passos, escondeu tudo de novo e ficou na cama dando as costas para a porta. Ouviu-a ser tocada.
— Não estou — falou.
— Que estranho, porque estou te vendo mais que bem — disse o Alfa.
Deu-lhe um breve olhar desde a porta, mas não fez nada, só estava sentado mantendo suas costas retas e seu cabelo rosado brilhava.
— Tem que descer para comer, ou quer morrer de fome?
— Prefiro morrer de fome que compartilhar uma mesa com gente como você — resmungou.
O Alfa não fez nada, manteve seu rosto sério o tempo todo, mas não era nenhum estúpido, foi capaz de perceber o que estava planejando maravilhosamente e soltou um sorriso de lado porque a situação lhe provocava diversão, mas a diversão somente ia chegar até aí porque não era capaz de imaginar o que mais podia fazer o Ômega que se via frágil.
— Como quiser.
Fechou a porta e Saije só se pôs de pé para continuar amarrando as coisas com rapidez. Quando viu que tocava o chão tudo que tinha amarrado, soltou um sorriso porque tinha assumido que ia poder ir embora desse cubículo ao qual estava sendo atado. Amarrou uma das extremidades à cama e observou a altura por um instante percebendo que era alto, mas que preferia mil vezes cair de cabeça do que continuar em um lugar prisioneiro. Moveu-se para pôr-se de pé no espaço da janela e não pôde evitar rir porque seus pais iam pagar por isso.
Deu uma olhada mais abaixo para ver que os guardas não se viam por nenhum lado. Assumiu que deviam estar comendo algo porque já era hora do jantar e estava escurecendo.
Não deu importância e deu um jeito de começar a descer. Quando criança tinha visto muitos vídeos de seu pai Alfa quando subia montanhas como se nada e como também as descia. Assim que, recordando isso, passou uma parte por baixo de sua bunda e segurou a outra parte com sua mão. Foi soltando aos poucos enquanto ia descendo de uma forma limpa e sem nenhum problema.
Tentou manter a calma e concentrar-se porque, terminar com uma perna ferida não estava em seus planos. Precisava ter suas duas pernas em perfeito estado para poder continuar fugindo, se machucasse um braço lhe dava igual.
Só media um metro e sessenta e não pesava muito, mas estava cansando quando tinha passado a metade. No momento em que chegou ao chão, soltou um suspiro e jogou sua cabeça para trás para observar a distância. Sentiu-se mais que satisfeito porque tinha conseguido uma escapada limpa e sem o mínimo altercado. Tocou os cinco de forma mental e virou-se para continuar com sua escapada quando freou de repente por ver o Alfa sentado em uma cadeira enquanto lia um jornal.
Jaehan passou de folha não dando importância a nada enquanto seus homens se encontravam atrás dele. Saije quis ter uma arma para matá-los a todos, seu peito começou a subir e descer de maneira rápida porque estava mais que zangado.
— Te admiro, demorou..., quanto demorou? — perguntou a seus homens enquanto continuava lendo o jornal.
— Quinze minutos, senhor.
— Demorou quinze minutos. Tinha pronto o número da ambulância para chamá-la se caísse.
Dobrou o jornal para pôr-se de pé entregando-o a um de seus homens que o tomou de maneira imediata.
Saije o observou com seu porte imponente e seu corpo forte. Seu cabelo preto se misturava com a noite mais que a perfeição que caía sobre seus olhos e seu rosto totalmente sério só demonstrava o fato de que não estava para brincadeiras no mínimo. Viu-o usando um suéter de gola alta que mostrava a musculatura que havia debaixo de toda essa roupa. Manteve as mãos em seu bolso de seu jeans e o observou para baixo.
— Quer entrar ou que eles te entrem à força?
Viu-o quase expelindo fumaça por seus ouvidos e, apesar de que era mais pequeno que ele e lhe ganhava por mais de uma cabeça por medir quase um metro e noventa, sabia que estava a nada de golpeá-los a todos.
— Maldito filho do inferno — resmungou com raiva.
Jaehan não disse nada, só continuou olhando-o de forma atenta para ver que outro chilique mais podia fazer.
— Quem quereria ficar aqui? Há poeira por onde quer que olhe e, cada um de seus serviçais, são mais insignificantes que você que não servem nem para limpar meus sapatos. Se acredita que, por essa estúpida assinatura que dei do casamento vou ficar nesta pocilga, então isso é porque é mais estúpido do que imaginava.
Quando chegou acima, viu-o indicando outro quarto diferente que tinha uma janela mais pequena.
— Não penso em entrar aí, acredita que sou um morto de fome para conformar-me com algo tão pequeno? Aí não cabe nada — falou cruzando os braços —. Se não vai me ter em um palácio cheio de ouro e diamantes, então deixe-me em paz. Sequer é rico?
Deu um par de passos caminhando pelo lugar até que chegou a uma pintura que, indubitavelmente, se via caríssima.
— Este quadro feio parece saído de um leilão de quarta. Além de estúpido, tem zero gosto. Quem poderia viver neste lugar tão velho e horrível? Com cada passo que dou, o chão range. Alguém como eu não pode estar nestas condições tão deploráveis. Se você está acostumado a viver com os serviçais, não é meu problema — zombou e passou seus passos por uma pequena estátua que havia em uma estante sobre o rosto de alguém famoso, sem mais, só a jogou ao chão —. Se é tão rico, então de seguro que pode comprar milhares mais dessa.
Só fechou a porta no quarto por onde tinha tentado escapar.
Formou punhos por toda a raiva que estava sentindo. Queria romper tudo sem perder nem um só segundo, mas ficou escutando os passos lá fora.
— Sinto muito, senhor — desculpou-se um de seus serviçais como se a culpa tivesse sido dele que a estátua tivesse quebrado em milhares de pedaços.
O Alfa não disse nada. Somente ficou vendo em silêncio e alçou o olhar para observar a porta onde estava Saije.
— Fechem a janela e não o deixem sozinho.
Saije, ao escutar isso, sentiu-se muito pior. Quando amanheceu, escutou como tocavam sua porta. Quis ficar dentro, e o Alfa assumiu que jamais ia descer, mas lhe dava igual. No entanto, quando se aproximou para tomar o café da manhã, viu-o jogado em um sofá vendo-se em um espelho enquanto se elogiava como se fosse um verdadeiro deus grego.
Viu como ao lado uma de suas serviçais estava no chão segurando um prato com uvas onde lhe dava uma a cada certos segundos.
A quantidade de vaidade que havia nele superava a de mil pessoas ao mesmo tempo.
— Dê-me mais, serva — pediu movendo sua mão.
A mulher só esticou sua mão para dar-lhe na boca.
Havia mais serviçais que estavam ao seu redor segurando uma taça de suco de morango, maçã e pera, além de alguém que segurava um grande leque que ia movendo e alguém que se encarregava de pentear seu cabelo com cuidado.
O Alfa soltou um suspiro e se sentou. Os serviçais ao escutá-lo, quiseram mover-se para dar-lhe seu devido café da manhã, então Saije disse:
— Para onde acreditam que vão? Vocês são meus serviçais, se ele quer que o atendam, então que contrate mais pessoas e já ou que se sirva sozinho. Sou seu esposo, assim que devem obedecer-me igual.
Jaehan apertou sua mandíbula enquanto o observava, mas soltou um suspiro porque tinha paciência.
— E quero mais coisas. Minha roupa está velha e, como não quer me deixar sair, então compre uma loja para mim — exigiu —. Deveria sentir-se feliz de ter um Ômega tão belo como eu. Quem mais poderia ter meus belos olhos ou meu belo cabelo? Deveria me levar para comer em lugares caros e me exibir.
Ele somente se pôs de pé para ir para seu trabalho porque não tinha tempo para escutá-lo falar e falar sem parar de sua beleza.
Pensou que só ia fazer essa vez e já, mas estava mais que equivocado porque Saije só estava começando e sabia que podia ser mil vezes pior.
Quando chegou do trabalho, percebeu que não havia nada preparado. As serviçais que se encarregavam de cozinhar-lhe, estavam muito ocupadas esperando que Saije terminasse de tomar um banho de espuma. Não soube onde era que estava toda a gente do sítio e foi para seu banheiro para tomar banho quando viu que quase toda sua servidão estava ali.
Detuvo-se de repente ao vê-lo em sua tina. O banheiro estava inundado de diferentes odores e engoliu saliva enquanto repetia que tinha paciência para suportar qualquer bobagem. Viu-o apoiando suas mãos aos lados da tina enquanto uma das serviçais lhe dava amoras na boca.
Saije ao escutá-lo, abriu seus olhos para dizer algo unicamente com o fim de aborrecê-lo:
— Já conseguiu mais empregados? Se quer ter um esposo tão precioso como eu, muitas pessoas devem se encarregar de mim. Devo ter pessoas que me deem de comer, que penteiem meu suave cabelo, que lavem meus dentes e mais. Verdade, serva? — perguntou sacando uma de suas pernas para apoiar seu pé em seu peito. A mulher só assentiu enquanto sua roupa se molhava por ter o pé molhado.
Jaehan pôde ver o sorriso de superioridade que tinha em seu rosto, mas, por uns segundos, seus olhos se concentraram em sua pele e em parte da espuma que cobria a pele de sua perna que era branca e suave à simples vista. Viu a mulher como se encarregava de lixar suas unhas e mais.
Simplesmente, virou-se para sair e o escutou dizer:
— De agora em diante, este banheiro é meu. Terá que fazer outro ainda que, para alguém tão pouca coisa como você, o banheiro de hóspedes deve estar mais que perfeito.
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Atualizado até capítulo 89
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