Capítulo 4

Anne

Sentada no banco do carona, observo o semblante calmo do homem que faz meu coração acelerar e parecer ter vida própria, enquanto ele dirige com os olhos atentos no trânsito.

-Se continuar me olhando assim, vou ficar convencido, minha flor. - ele dá um sorriso de canto, que eu não sabia que sentia tanta falta, até vê-lo novamente.

-É uma bela visão...- acaricio seus cabelos macios e escuros, próximo à nuca. - Então tenho que aproveitar.

Quando paramos em um sinal vermelho, ele me olha e, posso sentir meu corpo inteiro se arrepiar, apenas com a forma intensa como ele me encara.

-Senti sua falta...- ele beija minhas mãos com carinho.

-Não mais do que eu...- devolvo o carinho, beijando seus dedos compridos.

Ficamos nos olhando por mais alguns segundos, em silêncio, mas parecia que mil palavras eram ditas apenas naquele olhar.

Eu e Seong nos apaixonamos assim que nos vimos, numa festa em que meu irmão me pediu para acompanhá-lo. Foi tudo muito intenso, forte e arrebatador. Uma semana depois do primeiro encontro, ele me pediu em namoro, um mês depois, eu me entregava pra ele, no pequeno apartamento que ele tinha comprado. Foi minha primeira vez e foi inesquecível, porque ele me fez sua mulher da forma mais carinhosa, especial e perfeita. Foram 6 meses juntos, nos amando loucamente todos os fins de semana. Nos trancavamos no apartamento na sexta e só saíamos na segunda de manhã. Eram manhãs, tardes e noites de muitos gemidos, carícias e corpos completamente exaustos e mesmo assim ansiosos um pelo outro.

Tudo estava maravilhoso, até Seong receber uma proposta pra terminar o último ano da faculdade no Canadá, um sonho que ele estava disposto a deixar por amor à mim. Uns dias depois, a senhora Choi, mãe do Seong, me procurou e me disse que eu não poderia impedir o filho de realizar seu grande sonho e que se eu o amava deveria deixá-lo ir, e que ficaríamos juntos se nosso sentimento fosse mesmo verdadeiro. Eu o incentivei a aceitar essa oportunidade, e quando nos amamos pela última vez, no sofá daquele apartamento, entre lágrimas, ele me prometeu que o dia em que voltasse pra minha vida, nunca mais sairia do meu lado!

Ele viajou na madrugada daquele mesmo dia, e eu não tive coragem de levá-lo ao aeroporto, pois sabia que não conseguiria me afastar. Uma semana depois, encontrei a senhora Choi numa cafeteria. Eu estava indo pro trabalho e parei pra comprar um chá, mas me senti estranhamente enjoada pelo cheiro de café que se espalhava pelo lugar. Esbarrei nela ao sair, e pra minha surpresa, ela me disse coisas horríveis, que me magoaram demais.

-"Enfim você fez algo útil, Anne Stewart! Deixar meu filho livre pra encontrar uma boa moça, decente e pura, num país distante e, finalmente, construir uma família ao lado dela. Saiba que nunca aprovei essa vergonha que vocês chamavam de relacionamento. Onde já se viu, meu filho, meu precioso e brilhante Seong, envolvido com uma mulher fácil e de reputação duvidosa, como você! O dinheiro não compra tudo, minha querida...pelo menos não no seu caso, pois sejamos sinceras aqui, o que mais além do seu corpo e seu dinheiro poderiam interessar à um homem? - ela me olhou com desdém. - Espero que se mantenha longe do meu filho e o deixe trilhar o futuro brilhante que ele tem pela frente, pois você ao lado dele só iria desviar o foco do que ele realmente almeja...- ela se virou, mas antes de sair ainda completou .- Nós duas sabemos que você nunca foi e nem será uma boa mulher para o meu Seong...ele merece e terá uma mulher à altura dele!"

Meu corpo estava estranho, mas não apenas pelas palavras amargas que ouvi, mas algo parecia me doer fisicamente. Caminhei com dificuldade até meu carro e dirigi pelas ruas. As palavras vinham à minha memória à todo momento, me fazendo chorar, embassando minha visão.

Não lembro exatamente como aconteceu, mas senti um impacto forte contra o carro e minha cabeça bater no vidro lateral, antes de eu apagar completamente.

Acordei dois dias depois, num hospital, com dores por todo o corpo. Minha mãe e meu pai estavam ao meu lado e me olhavam com semblante aliviado e ao mesmo tempo triste.

Horas depois, meu irmão se sentou ao meu lado e me encarou, com os olhos marejados, então eu senti um aperto no peito...algo estava errado.

Foi o momento que recebi a notícia que rasgou meu coração, o fazendo sangrar e doer como se o tivessem arrancando de mim.

-"Eu sinto muito, maninha...nós tentamos..mas não conseguimos salvar seu bebê..."

Meu corpo estava paralisado, eu sentia raiva, tristeza, angústia, dor...eu não sabia da existência do meu filho, até saber que o havia perdido. Meu filho, meu bebezinho...o fruto dos momentos mais lindos que passei ao lado do homem da minha vida, a prova do nosso amor...e eu os perdi...perdi o Seong e agora...o nosso filho.

Eu não suportei, precisei ser sedada, fiquei dias sem me alimentar, eu queria morrer! Meus pais queriam contar ao Seong mas eu não permiti. Ele não poderia fazer nada...ninguém poderia trazer meu bebê de volta! E naquele momento, ele já estava em outro país, iniciando suas aulas e prestes a realizar seu sonho. Não era um direito meu tirar isso dele!

Reuni forças e, com o apoio da minha família, passei pelo período mais difícil da minha vida. Anos depois, conheci o Jason e decidi que era hora de seguir em frente. Mas não foi como eu esperava e nosso relacionamento se tornou um pesadelo, cheio de altos e baixos, mas o orgulho não me permitia admitir que estava errada e largar o infeliz que só me trazia decepção.

Até que vi aquele que eu sempre amei, se colocando à minha frente e, com o mesmo pulso firme de sempre, me tirando de um abismo onde eu estava me afundando cada fez mais.

Eu prometi que nunca contaria ao Seong sobre o que aconteceu, mas quando entrei nesse apartamento, cheio de lembranças e recordações nossas em cada canto, não consegui conter o choro preso e toda aquela tristeza veio à tona, me fazendo contar tudo, me livrando dessa dor que me consumiu todos os dias.

-Me perdoa...- falei entre soluços..- Eu não consegui...eu não sabia que estava grávida...me perdoa.

Ele me apertou em seus braços e chorou comigo. Estávamos partilhando a mesma dor, a dor de ter perdido algo tão importante.

-A culpa não foi sua, minha vida, nunca foi sua! - ele respirou fundo, secando minhas lágrimas. - Mas porque não me contou? Eu teria voltado, Anne...nada, absolutamente nada, seria mais importante do que estar do seu lado nesse momento. Eu teria desistido, sem pensar duas vezes. Eu...

- Exatamente por isso! - sorri sem vontade. - Você abriria mão do seu sonho, e eu não tinha esse direito. Além do mais, não teria nada que você pudesse fazer...eu já tinha perdido nosso filho.

-Não! - ele segurou meu rosto entre as mãos. - Foi por culpa do que a minha mãe te falou. - eu pude sentir o ressentimento em sua voz. - Eu nunca vou perdoar o que ela fez...

-Seong, ela não fez nada. Foi um acidente, não teve culpados...

-Não tente amenizar as coisas, Anne. - ele falou, sério. - Ela nunca teve o direito de interferir na minha vida e foi exatamente por isso que eu saí de casa e comprei esse apartamento. Eu não sou e nunca fui um brinquedo nas mãos dela, como ela sempre quis. O que ela fez não tem perdão!

-Calma, ela é sua mãe e jamais faria algo pra te prejudicar ou prejudicar um neto dela.

-Será? - ele me olhou de um jeito estranho. - Eu não duvido do que a senhora Choi seja capaz.

Me encolhi no sofá. Se nem eu sabia que estava grávida, como ela saberia só por me ver com náuseas na porta de uma cafeteria? Isso é impossível...

-Me perdoa por não estar do seu lado, cuidando de você quando precisou de mim...eu sinto tanto...

-Você não sabia, não tem nada o que perdoar...você está aqui agora e...-mordi o lábio. - Lembra da promessa que me fez? Bem aqui nesse mesmo sofá?

Ele beijou minha testa e sorriu.

-Me lembro exatamente, como se fosse hoje! Nunca mais, em hipótese alguma, eu vou sair da sua vida, minha Anne!

-Seong...

Ele me olhou do jeito apaixonado e intenso que me fazia sentir arrepios por todo o corpo, como da primeira vez...

-Sempre...e pra sempre, minha mulher!

Seus dedos longos e quentes tocaram meus lábios, contornando lentamente, antes dele se aproximar, me envolvendo em seus braços e me beijando como se não houvesse amanhã.

Aquele toque, aquele corpo enorme, tatuado e quente, seus beijos incendiando cada pedacinho do meu corpo...quando o senti me preenchendo por completo, meus gemidos foram incontroláveis e cada vez mais intensos.

Meu corpo inteiro estremecia a cada investida. Como eu sonhei com esse momento, com esse corpo dominando o meu, suas mãos apertando minha pele, seus lábios me incendiando por completo, como eu esperei por estar novamente nos braços dele, ser totalmente dele, como nunca deixei de ser.

Enquanto nossos corpos suados se conectavam, eu não consegui conter meu prazer e me deixei livre, sentindo aquela sensação maravilhosa, que eu só senti nos braços do meu coreano amado, o meu Seong!

-Seong...humm...- meus gemidos invadiram seus ouvidos, quando sussurrei seu nome, arranhando suas costas, mordendo seu pescoço, puxando seus cabelos...

-Anne...minha Anne...minha mulher gostosa…só minha...haaaaa

Sorri ao ouvi-lo chamar meu nome enquanto pulsava, se liberando dentro de mim, me amando com toda sua força e profundidade.

Nos deitamos, exaustos, após 3 rodadas de amor intenso e delicioso. Aqueles olhos escuros percorriam meu corpo nu, com admiração e desejo, enquanto seus dedos deslizavam pelas minhas costas.

-Eu nunca vou me cansar de te fazer minha...- ele beijou meus lábio, com muita paixão. - Você é minha, Anne, pra sempre minha.

-Sim, totalmente sua. E você é meu, todo meu.

-Pra sempre seu! - Ele encostou a testa na minha e respirou fundo. - Saranghae, Anne!

Sorri e o envolvi em meus braços, moldando meu corpo ao dele, sentindo o quanto ele me queria novamente.

-Eu que te amo Seong...agora é pra sempre!

Eu e ele, como deve ser! O nosso recomeço, a nossa segunda chance começa agora.

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