O Almoço

A luz do sol dava os seus primeiros sinais no quarto de Rory. A mulher passou a mão no rosto e rolou pela enorme cama. Só de imaginar todos os eventos que teria que comparecer naquele dia ela se sentia cansada. Se levantou da cama e olhou por todo o quarto, não era nada como o seu quarto no palácio, isso a irritava ainda mais.

“Almoço às 10, depois terei reuniões com outras nações, no meio da tarde tenho que ver o Sacerdote de Lankes e no começo da noite tem o evento que o Conselho está organizando.” Ela revisou toda a sua agenda na sua mente. Todos aqueles eventos chatos, com pessoas fingindo um interesse por algo maior, quando, na verdade eles não se interessavam por nada ali. Só estão procurando maneiras de aumentar a sua própria riqueza e fingir que se importam com a população.

Rory se levantou e não encontrou a sua mala em nenhum lugar, ela andou até o armário e viu que as suas roupas estavam organizadas lá, ela precisava agradecer Rast depois. A Princesa foi até a sala e viu que em cima da mesa havia uma enorme cesta de café da manhã.

“Bom dia, princesa.” Ela escutou a voz suave de Rast e sorriu.

“Você não precisava organizar tudo. Obrigada.” Ela se aproximou da cesta e pegou um dos pães salgados. “Vou separar as roupas para as trocas, os guardas já foram avisados do cronograma?”

“Sim, está tudo organizado. Se seguirmos o plano não haverá nenhum atraso nos seus compromissos. São 8 horas agora, eu abri as cortinas, peço perdão por atrapalhar o sono da princesa.” Rory apenas balançou a cabeça como se aquilo não fosse importante.

Rory se sentou na cadeira e comeu devagar, eles ainda tinham tempo até o horário do almoço.

Ela se virou prestes a voltar para o quarto. Ela parou no meio do caminho, a sua expressão era aflita e pensava se deveria falar ou não. As palavras presas na sua garganta, coçando para sair, mas o medo de receber uma resposta ruim a atormentava.

“Rast, o Timothy...” A sua voz era receosa, as palavras pareciam ferir a sua garganta, como se ela engolisse uma bola de agulhas.

“Foi transferido para a divisão da proteção da Flor Vidris.” Rory concordou com a cabeça, estava aliviada, mas não estava feliz com aquela resposta. 

A princesa continuou o seu caminho, as trocas de roupa perfeitamente organizadas. Perfeitas para cada ocasião. Diferente da sua chegada no dia anterior, ela traria uma imagem mais pacífica. O seu ódio era único e exclusivo a Kiori, apesar de não sentir simpatia por quase nenhuma outra nação ela não devia arrumar tantos inimigos.

Ela saiu do quarto, a coroa dourada na sua cabeça e um sorriso doce sobre os lábios. Toda a sua aparência era contrária à forma agressiva do dia anterior, os guardas que viam a princesa pela primeira vez daquele jeito achavam que estavam vendo uma fada. O tecido era leve, detalhes metálicos contornavam o seu busto e subiam até o pescoço, o vestido longo arrastava pelo chão. As mangas se encontravam para baixo dos seus ombros, os deixando expostos. Elas cheias pelas camadas de tecido e a sua barra em formato borboleta chegando próximo do chão. 

“Lembre-se, Telfy precisa estabelecer uma boa relação com as outras Nações. Seja gentil.” As roupas daquele dia eram justamente para afastar a imagem de Rory da Princesa Rory. A palavra “gentil” fez ela revirar os olhos. Ela gostava daquelas roupas, em Telfy era o seu tipo comum de vestimenta, mas o motivo de ter que usar elas eram o que a incomodava.

“Quando Telfy deixou de ser um boato nós fomos gentis, eles nos retribuíram com invasões.” Ela revirou os olhos. 

Dez anos atrás, Telfy era só um boato, um Reino escondido no meio da enorme floresta, onde toda a magia antiga era preservada. A magia era aquilo que mantinha Telfy, tudo existe e tudo que irá existir no Reino vem dos ensinamentos mágicos. A magia mais antiga conhecida é a Elemental, essa que Telfy tem todo o conhecimento. Um tipo de magia que permite que pessoas que nasceram sem aptidões mágicas possam usar magia da forma correta.

Telfy se manteve isolada por milhares de anos, a riqueza das suas terras era imensa, minérios, flores, animais que nunca foram vistos antes tudo aquilo era real. Outras nações mandaram tropas para Telfy, explorando e saqueando as laterais do Reino, mas eles nunca conseguiram ir mais profundo na floresta.

“Eu não quero uma parceria com eles, eu quero o respeito deles. Eu quero que eles parem de usar a magia como se fosse um acessório na vida deles, eles vão causar a destruição do mundo, como fizeram milhares de anos atrás!” Ela soltou um suspiro longo. “Vamos logo para o almoço.”

Rory deixou o assunto como encerrado, ela saiu do quarto e viu o restante dos guardas no corredor. Os guardas saudaram a princesa, ela comprimentou eles e caminhou até o elevador.

A chegada do Rory ao almoço foi silenciosa, os guardas se encontravam do lado de fora e apenas o conselheiro acompanhava a mulher. A mudança completa no visual da princesa fez todos se espantarem. O tom claro das roupas e o tecido fino era um completo contraste com a roupa do dia anterior. O cabelo com os cachos abertos. Muitos podiam jurar que estavam vendo brilhos em volta da Princesa.

“Vejo que a princesa resolveu mudar a sua abordagem.”

“Espero que a mudança das minhas roupas, não faça você pensar que a minha opinião sobre vocês mudou, Conselheiro Decor.” Ela olhou para o homem que se aproximava dela. 

“Não seja tão agressiva, estamos aqui em um dia festivo.” Ele colocou a mão no ombro da princesa.

“Se você visse os nossos planos veria que Telfy vai se beneficiar.” 

Rory olhou para a mão no seu ombro e fechou os punhos com força, ela se forçou a abrir um sorriso que parecia ser completamente natural. Estava prestes a falar quando Rast se colocou no meio dos dois. 

“Desculpe atrapalhar, mas eu costumo ficar ansioso nesses momentos, o almoço está prestes a começar. Devemos falar desse assunto na reunião marcada para depois do almoço.” Rast sorriu envergonhado para o conselheiro. “Nós precisamos nos retirar por alguns segundos.”

Rast se afastou do conselheiro, sendo acompanhado pela princesa. A mulher tinha um olhar confuso e agradecido, ela realmente odiava ser tocada sem autorização e na frente de todas aquelas pessoas ela não poderia fazer nada, sua fama já não estava muito boa.

“A Casa Laguna perdeu o seu posto, no mês que vem irão votar para decidirem se uma nova casa irá assumir no lugar da Casa Laguna ou o cargo ficará vago para ser decidido pelo povo.” Rory retirou a coroa da sua cabeça e viu o desenho da pérola se desfazendo. Os outros 7 desenhos continuavam intactos. 

“Avise a minha avó para esperar eu retornar, a Casa Laguna pode tentar algo para fazer a população se revoltar. Diga que é uma decisão preliminar.” Rory olhou em volta. “No final da semana estaremos de volta, a Casa Laguna é a que tem maior envolvimento com as propostas para Kiori. Essa informação vai ser vazada para a população e eles não terão como dizer que foi uma injustiça. O envolvimento das minhas irmãs também será revelado.”

Um sino foi ouvido por todo o salão, as pessoas caminhavam até as suas respetivas mesas. A mesa de Rast e Rory estava separada, os dois seguiram por caminhos opostos. Rory olhou para cada mesa e assim que encontrou o seu nome em uma das placas se sentou no seu lugar. 

 “Desculpe pela demora.” Ela comprimentou todos os presentes, o tom da sua voz era suave e ela sorria. Ela olhou para a pessoa na sua frente e tombou a cabeça para o lado se mostrando confusa. 

“Nós estamos nos vendo muitas vezes num curto espaço de tempo.” Liev falou sorrindo.

“O senhor do destino pode ser engraçado às vezes. Você está aqui como?”

“Sou um dos estudantes da Academia."

“Vejo que a Princesa Rory é boa em aumentar a sua rede de conhecidos.” O Sacerdote de Lankes falou de forma preguiçosa. Se você está esperando uma pessoa velha eu vou ter que dizer que você está completamente errado.

“Sacerdote Pierre, foi apenas um encontro casual. Eu estava perdida ontem e ele me ajudou a voltar para o hotel.” 

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