O Fazendeiro Que Me Ama...
Era por volta das 22 horas, estava no ônibus, voltando da faculdade, quando eu recebi uma ligação da minha mãe, já estranhei por aí, normalmente ela me ligava sempre aos finais de semana, normalmente no sábado. Já sabia que algo sério tinha acontecido, mas nem nos meus piores pesadelos imaginei o que vira pela frente.
Escuto a voz da minha mãe aos prantos, na linha, no início não consegui entender o que ela dizia, só escutava o seu lamento, comecei a me desesperar e um sentimento horrível começou a tomar conta do meu corpo, minha mãe tentava formular frases, mas não conseguia, entre as palavras soltas que ela falou entendi uma única frase:
- Filha, o seu pai morreu...
Paralisei, não podia ser verdade, sentir as minhas vistas escurecer, fechei os olhos com força, uma mistura de sentimentos tomou conta de mim, tristeza, raiva e talvez até um certo arrependimento.
E ao mesmo tempo me perguntava: O que aconteceu? Porque? Mas sei que não adiantava perguntar nada disso para ela naquele momento, juntando a pouca força que tinha tentei acalma-la, mesmo sabendo que nada que eu dissesse poderia amenizar a dor que ela estava sentido, não poderia apagar todas as lembranças dos longos anos de casados e nem confortar o seu coração dessa tragédia, com calma pedi para ela passar o telefone para alguém. Reconheci a voz do meu irmão.
- Oi, Mel!
- Pedrinho... Isso é verdade? O que está acontecendo? O que aconteceu? Eu não estou entendendo.
- S-im... É ver-dade. -Disse ele com a voz embaçada, quase chorando.- Papai sofreu um acidente enquanto trabalhava, ele estava sozinho no campo, quando fui chamar ele para almoçar eu vi...- Ele começou a chorar.- Na hora, trouxemos ele para o hospital, mas era tarde demais... Mel, o papai se foi....
Passei a ouvir os seus soluços, ainda tentando processar toda essa informação, ouvia os gritos da mamãe lá no fundo, me subiu um nó na garganta, engolir em seco, eu tinha que ser forte.
- Oh meu irmão... Vai dar tudo certo, você é for..te - A minha voz embargou, parei uns segundos e tossi para tirar aquele pigarro e continuei- A mamãe precisa de você! Vou pra casa, pego as minhas coisas e vou descer direto para a rodoviária, até o raia do dia estarei aí. Toma conta de tudo.
- Viu, vou falar para mainha...- Disse ele.
- Viu, se cuida, nestante eu chego aí.
Quando a chamada encerrou, aquele nó na garganta se desfez e eu me desatei em lágrimas.
Eu e meu pai não tínhamos uma relação boa, tinha quase 4 anos que não tínhamos qualquer comunicação. Ele me expulsou de casa, o principal motivo foi que eu queria me formar, concluir meus estudos, fazer uma boa faculdade, ele não aceitava isso, não queria que eu saísse da roça, pelos seus planos era para que eu casasse com algum velho rico da região, ser uma mãe, escrava, dona de casa.
Desde os meus 15 anos a minha vida tinha virado um inferno, eu estava me desenvolvendo fisicamente e então o meu pai acho que já estava na hora de me arranjar um casório, me apresentou vários amigos dele, toda semana chegava algum velhos desconhecido para "visitar nossa roça", amigos que ele fazia questão de me apresentar e pontuar para eles todos os meus "talentos".
Sentia que cada vez mais me tornava um peso para ele, e que deveria fazer uma escolha o mais rápido possível e eu fiz.
Eu tinha passado no vestibular de medicina veterinária, sempre foi o meu grande sonho. Por um momento achei de verdade que ele iria se orgulhar de mim, mas não foi nada disso, pelo ao contrário, foi a gota d' água para ele. E mesmo com os lamentos da minha mãe, no dia que ele soube da minha vitoria, me expulsou de casa, jogou as minha roupas na rua e gritando aos quatros ventos que eu era um puta e queria fazer vida na cidade grande.Nesse momento jurei a mim mesma que nunca mais falaria com ele.
Saí da roça sem rumo, não quis mas entrar em casa, das coisa que ele tinha jogado na rua, peguei o que julguei necessário e dei as costas aquele lugar. A minha mãe veio até a mim, me deu um abraço implora para eu ficar, dizendo que o meu pai era assim mesmo e assim que ficasse sã iria se arrepender das palavras.
Mas já estava cansada de ser usada, de ser humilhada por ele. Ele me odiava só pelo fato de ter nascido mulher, eu não sabia o que era ter um pai desde quando os meus irmãos nasceram.
Além disso ele era um bêbado, que só vivia alcoolizado, ficava alterado por besteiras e descontava sempre em mim, por várias vezes já chegou até a tirar sangue.
A minha mãe não tinha voz, coitada, sofreu muito na mão dele, nunca vi ele batendo nela, mas era extremamente grosseiro e amava gritar e esculhambar ela.
O meu medo de sair de lá era porque odiava a ideia de deixar a minha mãe com ele e deixar o Pedrinho e os meus dois irmãos mais novos, o Isaac e a Vitória.
Mas não tive escolha, fui expulsa antes de ter alguma atitude, mais vi nessa situação uma oportunidade de mudar de vida. Os meus planos sempre foram trabalhar, terminar a faculdade e retornar para ajudar a minha mãe e os meus irmãos.
E principalmente queria voltar para mostrar para ele que eu consegui, que eu era capaz, e quem sabe ainda assim, mesmo depois de tudo ele não me aceitasse e sentisse algum orgulho de mim, infelizmente não terei mais essa oportunidade
Chamei várias vezes a minha mãe para vim morar comigo na capital, mas ela se recusava, dizia que meu pai precisava dela e um monte de outras desculpa para justificar a sua forte dependência emocional, da capital eu não tinha nada que pudesse fazer, a não ser aceitar e respeitar a sua vontade.
Agora, depois de anos eu me sinto tão culpada, a dor no meu peito é enorme, apesar de tudo que ele me fez passar, ele era o meu pai. Depois que sair de casa ele me procurou tantas vezes, de todas as formas, ele veio até a aqui na capital me pedir perdão pessoalmente e eu perdoei, mas não quis manter contato, não acreditava na sua mudança que tanto a minha mãe e meus irmãos diziam que tinha acontecido, o meu coração ainda tinha muitas mágoas.
Hoje eu choro pensando no sofrimento da minha família, da minha mãe e dos meus irmãos pequenos, eu choro também pela incerteza do futuro. E realmente, depois dali a minha vida ia mudar completamente.
O ônibus que eu estava parou no meu ponto. Desci e fui correndo até em casa, atualmente moro com a minha tia, Rosana.
Ela é irmã da minha mãe, logo quando fui expulsa de casa ela me ofereceu ajuda, quando eu ainda estava no caminho para a cidade, sem planos, nem rumos, ela me ligou, pagou a minha passagem de vinda e praticamente me adotou, tem sido como uma mãe para mim todos esses anos. Moro com ela e com a sua filha, minha prima Rê.
Ao chegar na porta de casa vi a minha prima que estava conversando com algum rapaz. Logo quando me viu, veio de encontro e me abraçou perguntando o que tinha acontecido. Em lágrimas dei a ela as notícias, ela logo se despediu do rapaz que ainda estava na porta esperando e me levou para dentro de casa.
-Oh, minha filha. O que aconteceu? - Disse tia Rosana quando me viu entrando pelo sala.
-Ooh tia... Pai morreu.
- Que? Como?- Perguntou tia Rosana.
- Eu não, eu não sei... Mãe me ligou, estava tão desesperada, ela não me deu detalhes, só deu a notícia... Eu pegar o ônibus hoje para lá.
- Certo, minha menina. Vamos que vou te ajudar a se ajeitar.
Tia Rosana e a minha prima Rê me ajudaram a fazer a mala, elas chamaram o vizinho, explicou a situação e ele concordou em me levar na rodoviária.
Já na rodoviária, me despedir de Ré e de tia, tia Rosana me abraçou e disse:
- Tenha cuidado minha menina, vá tranquila, se eu não fosse trabalhar amanhã eu iria com você... Quando chegar lá me avisa, tá? E lembre de uma coisa, tudo na vida acontece segundo os planos de Deus, então não se desespere, aquieta o seu coração.
Acenei para todos e entrei no ônibus. Ao sentar na minha poltrona a minha mente não parava, chorando adormeci.
Acordei com a claridade do sol em meu rosto, tudo ainda parecia um sonho, percebi que o ônibus já estava entrando no meu interior, foram mais ou menos 6 horas de viagem e cá estou eu nessa cidade novamente, não esperava voltar assim.
Cheguei na pequena rodoviária, que continuava do mesmo jeito que antes, como se estivesse parada no tempo, igual quase todo o resto da cidade, a única coisa diferente era o comércio, que parecia estar um pouco mais evoluído.
Era quase 6 horas da manhã, na porta da rodoviária liguei para a minha mãe, quem atendeu foi o meu irmão que estava no hospital.Então fui direto para lá, ficar com ele e ajudar a organizar toda a cerimônia.
No caminho para lá passei pela feira, onde vi vários rostos conhecidos, todos me cumprimentaram e me deram os seus pêsames, todos falavam tão bem do meu pai, que por um momento fiquei me perguntando se era da mesma pessoa que estávamos falando.
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Atualizado até capítulo 29
Comments
Patrícia Franco
Autora estou lendo um livro com esse mesmo título ofazedeiro que me amava🤔
2022-12-19
2
Lourdes Rodrigues
autora ajusta ai as páginas, porque esta voltando, pró início toda hora, obrigada!
2022-12-12
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Lourdes Rodrigues
começando a ler, agora e ja gostei 😉😏
2022-12-12
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