CAP 5. O NAMORADO

O sorriso de Rose foi se transformando em desânimo. Preferia ter passado despercebida e não ter encontrado Ísis e nem Ivan. Quando se sentia encurralada, só tinha vontade de sumir, mas teria que ter um pouco mais de paciência, apesar de cada vez mais ficar saturada com o relacionamento deles que já perdera a graça há muito tempo.

Ivan deu-lhe um beijo rápido nos lábios e sentou-se.

( Ivan. Imagem meramente ilustrativa da Internet. )

Instintivamente, os olhos de Rose cruzaram-se com os do professor Breno que conversava com outras alunas.

Desviou os olhos rápido, mas sentia que continuava sendo observada por ele.

Ivan cumprimentou Ísis, que permaneceu descaradamente sentada, pronta para ouvir a conversa do casal.

Ele estava hesitante por notar que a garota não se movia, mas enfim, falou:

— Amor, quase que eu não vinha hoje. Eu estava na entrevista de emprego que falei para você semana passada. Se der tudo certo vou ter uma grande oportunidade de trabalhar numa empresa multinacional no começo do ano que vem!

No fundo da alma de Rose o ânimo começou a voltar com a notícia. Era a chance de nem ter que terminar o namoro.

Com a distância ele teria oportunidade de conhecer outras mulheres e esquecê-la. Pensando assim, abriu o seu lindo sorriso.

— Que maravilha! Onde fica essa empresa?

— Em Florianópolis. Meu sonho.

— Interessante! Ouvi dizer que lá tem lindas praias! Que bom, Ivan... Mas como vai ser lá?

— Bem... Se eu conseguir ser admitido, a empresa pagará moradia, transporte, alimentação, saúde... Além do salário, é claro.

—  Uau, Ivan! Fico feliz por você! — Ela pôs uma das mãos na dele, com a intenção de dar força a ele.—  Tenho certeza que você vai conseguir! Tem grande potencial na área de tecnologia então praticamente essa vaga é sua!

Ivan ficou satisfeito com o apoio da namorada. Esse gesto fez com que o rapaz criasse coragem de fazer uma proposta para ela.

— Querida... Se eu for contratado, quero que vá comigo.

Rose olhou- o com espanto e antes que tivesse tempo de responder,  Ísis a interrompeu:

—  Hoje é dia dos babados! —  Bateu palminhas, eufórica.—  Só sair desse lugarzinho já pode se considerar a mulher mais sortuda de todos os tempos! Eu mesma assim que tiver dinheiro suficiente vou ganhar o mundo! Meu sonho é ser jornalista um dia! Não perca tempo, Rose!

Ela balançou a cabeça não gostando da intromissão de Ísis, já Ivan aprovando o incentivo da jovem fofoqueira, buscou ansioso os olhos da namorada, aguardando a resposta dela.

Tinha que pensar nunca desculpa. Idiotice a sua imaginar que ele gostaria de ir embora sozinho.

—  Ah, eu preciso de tempo para pensar... Estou surpresa, Ivan... Obrigada pelo convite, mas não posso ir embora assim sem mais nem menos.

Parecia que ele já esperava aquela resposta. Então sem piscar, falou audacioso:

—  Podemos casar antes, o que acha? — Ele segurou firme as suas mãos, olhando-a com expectativa. —  Está na hora de construirmos a nossa própria família. Além disso, pode concluir a faculdade lá.

Alguns estudantes que estavam por perto ouviram as palavras de Ivan e aparentemente, esperavam uma resposta dela também.

Rose ficou de boca aberta com a proposta do namorado. "Não podia ser! " Retirou as mãos devagar e levantou-se.

—  Desculpe, Ivan, preciso pensar mesmo. Eu não esperava... Você sabe... Já conversamos sobre isso.

Eles encararam-se por um instante, até que o rapaz abaixasse a vista. Ísis, percebendo o clima tenso, interferiu mais uma vez:

—  Sei que não é da minha conta, Rose, mas você está sendo tola! Não entendo porque não quer...

—  Por favor, Ísis, não se meta! —  O tom era ameaçador. Ísis se calou.

Voltou o olhar para Ivan que estava cabisbaixo, pensativo.

—  Preciso ir agora, Ivan, mas prometo que pensarei no assunto. Aqui não é um bom lugar para falar sobre isso.

Dito isso ela saiu pisando forte, ignorando a pequena plateia que assistia o desfecho da conversa.

Ivan não se deu por vencido. Antes que ela dobrasse o corredor para entrar na sala de aula, ele a alcançou.

— Por favor, Rose, escute-me!

Ele estava ofegante devido ao esforço para alcançá-la. Suspirando, chateada, Rose o olhou com dureza.

—  Escolheu uma péssima hora para me pedir em casamento!

—  Rose, meu amor! Você continua zangada comigo desde a semana passada... Até quando vai me punir com essa história de pedir tempo...

Ela fechou os olhos, conferindo até dez.

Queria dizer umas verdades para ele, mas definitivamente aquele não era o lugar apropriado.

Ao abrir os olhos, viu -se diante de um Ivan angustiado. Sentiu-se mal pela milésima vez por fazê-lo sofrer. Ela não entendia o motivo de não conseguir terminar o namoro.

No fundo, preocupava-se com a reação dele. Com a voz mais branda, respondeu:

— Eu já falei para você que não me sinto muito bem com esse lance de casar...

—  Rose, você é a mulher que sempre amei! Entendo a sua dificuldade. Você já me explicou sobre não se dar muito bem com a sua mãe e como isso causou esse medo de compromisso mais sério,  mas precisa confiar em mim...

—  Ivan... Esse é o menor problema, faz tempo. Já terminamos várias vezes por esse mesmo motivo, lembra? Não sei explicar, mas não estou à vontade com tanta pressão!

—  Então fale para mim! Não aja como se eu fosse lixo!

—  Oh, Ivan, não! É que...

Ele esperava com os olhos tristes e Rose mais uma vez não teve coragem de terminar o namoro.

— Preciso ir para a aula, depois converso com você. Preciso de mais tempo, tá?

Ele não respondeu. E sem mais o que dizer, Rose entrou na sala de aula.

Muitas vezes se questionava se o medo de compromisso era devido a sua própria história como filha abandonada.

Ela soube do paradeiro da sua mãe há alguns anos, chegando a receber presentes no seu aniversário e no Natal.

O desejo dela era saber a verdade que o seu pai adotivo fazia questão de esconder a sete chaves.

Sentia um vazio no coração por nunca ter entendido o fato de a sua mãe sumir quando ainda tinha poucos dias de vida.

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