Carol

Carol

Parecia um dia calmo, mas nada é o que parece quando se é médica-cirurgia, após uma manhã visitando os pacientes internados e dando alta para alguns, sai para almoçar no refeitório do hospital. Como sempre a comida embora seja de hospital estava deliciosa, alguns dos meus colegas estavam ali e conversamos um pouco, ao voltar para minha sala fui informada sobre a chegada de duas vítimas envolvidas em um acidente de carro.

Segui para o PS e a ambulância logo chegou, me preparei, examinei o homem e vi ser um paciente para ortopedia, então o encaminhei para o doutor André. A mulher estava muito machucada e não consegui prestar atenção no seu rosto, ao ser examinada percebi que o seu estado era mais grave, o seu pulmão esquerdo estava perfurado e com possível hemorragia abdominal além de um traumatismo craniano.

Fizemos uma tomografia computadorizada e seguimos para o centro cirúrgico, iniciamos a cirurgia que durou algumas horas, faltava tratar da perfuração do pulmão e verificar a causa da hemorragia abdominal. Naquele momento decidi fazer uma drenagem e aguardar passar às primeiras 24 horas para fazer a cirurgia da perfuração do pulmão.

A mulher foi mantida em coma induzido para melhor recuperação, após ela ser encaminhada para a UTI, fiz as anotações no seu prontuário e sai para dar informações aos familiares. Estava com a ficha da mulher enquanto andava pelos corredores em direção a sala de espera, quando li aquele nome, Fátima Andrade, não me era estranho, mas existem tantos nomes iguais aquele que segui o meu trajeto.

Ao chegar na sala de espera havia um homem ali, ele estava de cabeça baixa e com as mãos em volta do seu pescoço, ele não percebeu a minha chegada, mas quando perguntei sobre os familiares de Fátima, ele levantou a sua cabeça e os nossos olhares se encontraram.

Era ele, Christian Adams.

Fiquei imóvel, ele me olhava tão surpreso quanto eu,

havia um misto de sentimentos em seu olhar e acredito que nos meus também. Tentei ser profissional, esquecer o passado e fazer o meu trabalho, então me dei conta que se ele estava ali é porque aquela mulher era sua tia Fátima, lamentei porque ela é uma pessoa boa, mas sei que é uma mulher forte.

Carol_ Olá Christian.

Christian_ Carol!

Carol_ Se você está aqui é porque a sua tia está lá dentro.

Christian_ Como ela está?

Carol_ Ela deu entrada no hospital com traumatismo craniano, perfuração no pulmão esquerdo e uma possível hemorragia abdominal. Ela passou por uma craniotomia, uma cirurgia devido ao traumatismo e tivemos que colocá-la em como induzido para ter uma melhor recuperação.

Vamos aguardar às primeiras 24 horas para fazer a cirurgia da perfuração do pulmão e descobrir o que está causando a hemorragia abdominal.

Christian_ Como ela está e por que esperar?

Carol_ Ela está instável e esperar é o melhor no momento, não podemos fazer várias cirurgias no mesmo dia.

Christian_ Ela vai conseguir se salvar?

Carol_ Vamos ter fé que tudo vai dar certo, também tenho uma ótima equipe que vai monitora-lá e amanhã farei a cirurgia, acredito que vai tudo correr bem.

Ele me observa atentamente e tenho vontade de abraça-ló, mas permaneço parada. Por um momento olho atenta aquele homem na minha frente, está mais lindo do que lembrava, o seu corpo está ainda mais encorpado, Christian sempre foi bonito e chamava a atenção de várias mulheres, hoje só mudou para melhor.

Sem dizer nenhuma palavra tentei seguir para o mesmo corredor de onde havia chegado na sala de espera, porém ouço ele me chamar.

Christian_ Carol, posso vê-la?

Carol_ Ela está na UTI e não é possível.

Christian_ Por favor Carol, preciso vê-la nem que seja por alguns instantes, não vou conseguir ficar em paz se não olhar para ela.

Carol_ Tudo bem, 5 minutos apenas.

Ele caminhou ao meu lado até a UTI, se vestiu de maneira apropriada e entramos, vê-lo chorando daquele jeito me fez fazer algo sem pensa, o abracei e disse que tudo ficaria bem, que a sua tia é uma mulher forte e que logo sairia daquela situação. Christian me abraçou forte como se estivesse matando uma saudade que em mim é ainda mais forte e que um único abraço seria incapaz de ser suficiente.

Passou alguns minutos e pedi que saísse, o acompanhei até a sala de espera onde ele me olhava tão lindamente que não queria deixá-lo sozinho, mas não podia continuar nenhum minuto a mais ao seu lado.

Carol_ Eu recomendo que vá para casa e volte amanhã, qualquer novidade o hospital entrará em contato.

Christian_ Tudo bem, mas quanto ao marido dela, como ele está?

Carol_ Vou perguntar, aguarde aqui, já volto.

Fui até o PS, onde perguntei na recepção, o doutor André havia operado ele, mas ao invés de conversar com os familiares estava conversando com algumas enfermeiras. Fui até ele pedir informações, e disse que o paciente estava no pós-operatório e que em alguns minutos seria levado para o quarto, agradeci e voltei para a sala de espera.

Carol_ Conversei com o médico que lhe operou, ele teve uma fratura exposta no fêmur, um braço quebrado e alguns hematomas. Ele foi operado e daqui a pouco será levado para o quarto.

Christian_ Por que o estado da minha tia é mais grave?

Carol_ Ela deveria estar sem o sinto de segurança. Vou dar uma olhada e saber se ele já foi para o quarto, pode ficar com ele se quiser.

Christian_ Seria bom.

Obrigado Carol, por ser prestativa comigo nesse momento.

Carol_ Esse é o meu trabalho Christian.

Christian_ Mesmo assim agradeço.

Me despeço dele e saio, foi difícil revelo depois de todo esse tempo afastado. Eu o amo ainda mais do que antes e sentir os seus braços me envolver mesmo que seja em um momento delicado para ele, foi suficiente para aquecer o meu coração com esse amor que sinto por ele e que tive que deixá-lo adormecido dentro de mim.

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