Amizade

Acordei e estou na cama, não faço ideia como fui parar aqui, lembro de estar sentada no balanço que tem na varanda mas ficar imaginando como fui para a cama não muda nada o fato é que estou em uma casa

estranha, numa cidade onde pouco conheço, com pessoas que mal sei quem são.

Observo que em uma poltrona tem umas roupas vou até ela e tem um bilhete “Querida Irina essas roupas são para você, é apenas algumas pois quero que compre de seu gosto, no banheiro tem produtos de higiene também,

desejo que se sinta acolhida em nossa família. Com carinho Elis.” Gostaria que estivesse escrito “essas roupas são para você vestir e vamos levá-la para sua antiga vida” mas isso não vai acontecer preciso acostumar que a Irina Sharapova não existe mais, hoje não sei quem sou mas preciso tomar as rédeas da minha vida.

Tomo um banho bem demorado, os produtos deixados no banheiro são muito cheirosos, tem tudo que preciso para minhas necessidades básicas e mais alguns cremes e loções até perfumes. Aproveito e hidrato meu corpo com

uma loção de ervas naturais, no espelho posso ver a marca deixada pelos dedos de Call em minha cintura, não sei porque meu corpo se arrepia ao lembrar do contato dele e lembro do cheiro amadeirado que vinha de seu corpo.

Espanto logo esses pensamentos afinal ele é um dos meus carcereiros, me visto e tento ver se a porta do quarto está chaveada, para meu espanto está apenas encostada. Saio me esgueirando pelas paredes com medo de ser

vista por alguém mas o cheiro de comida sendo feita aguça meu estômago e minhas pernas me traem me levando para onde o aroma exala.

- Olá querida conseguiu descansar? Elis precisou sair mas disse para não te acordar. Como não conheço teus gostos fizemos Borscht\, Salada Olivier\, Blini\, Pelmeni e Frango à Kiev\, mas você pode dizer quais suas preferências que terei prazer em preparar – diz a senhora simpática – Ah já ia esquecendo me chamo Maria e essa é Hanna\, ela me ajuda na cozinha.

- Prazer Maria e Hanna\, me chamo Irina e gosto de todos esses pratos mas Pelmeni é um dos meus favoritos.

- Sim o mais demorado de preparar – fala Hanna com certo desdém na voz – Posso colocar o prato dela aqui na bancada ou devo colocar a mesa de novo? - pergunta já colocando o prato na bancada da cozinha.

- Parece que está faltando modos para uma certa funcionária Maria? - ouço uma voz atrás de mim.

Olho e vejo uma moça muito bonita, aparenta ter minha idade.

- Prazer Irina sou Penny e é uma grande honra tê-la morando conosco. E sim Hanna\, você colocará a mesa para Irina almoçar\, afinal ela é uma Kurwell e como tal deve ser tratada.

- Não há necessidade – digo a Penny.

- Venha\, vamos aguardar na sala enquanto arrumam a mesa – Penny fala com um largo sorriso no rosto.

Na sala ela senta em uma poltrona e faz sinal para eu sentar em outra.

- Irina quando digo que você será tratada como uma Kurwell não estou falando apenas para dar uma lição a Hanna mas porque é quem você é. Sempre desejei ter uma irmã e agora tenho e quero muito que se sinta parte da família.

- Desculpa Penny mas não me sinto assim\, me sinto deslocada e sem saber o que fazer.

- Eu imagino\, mamãe também se sentiu assim quando chegou aqui mas agora veja quem ela é\, não sei se você vai se acostumar logo mas quero que saiba que estou aqui para te ajudar.

Maria nos chama e a mesa está lindamente arrumada, vários talheres que nem sei por onde começo com tanto talheres e taças.

- Apenas coma minha pequena – fala Maria – Hanna resolveu abusar na organização da mesa.

Tudo indica que essa moça Hanna não gostou de mim.

A comida está deliciosa e realmente estou com fome, lembro que a última coisa que comi foi o sanduíche que Elis me ofertou em Sóchi.

Termino de comer, levanto e vou levar meu prato para a cozinha porém sou impedida por Penny.

- Querida aqui temos funcionários para fazer esses serviços.

- E o que faço? Não sou acostumada a ficar a toa.

- Encontraremos algo que você goste. Olá querido – diz Penny ao belo homem que entra na sala – Irina esse é meu marido Amir Sincler.

- Seja bem-vinda a família Irina.

- Obrigada senhor.

Ele gargalha e me fala.

- Nada de senhor apenas Amir ou cunhado como achar melhor\, e deixe te contar um segredinho jamais chame minha sogra de senhora ela te esfolará viva. Eu só vim roubar alguma coisa da geladeira\, sei que Maria deve ter

feito inúmeros pratos, ela adora impressionar com seus dotes. Em outro momento te conto a vez que ela fez meus homens passarem mal de tanto comer.

- Bom você é livre para ir e vir onde bem quiser\, exceto entrar no escritório de mamãe quando a porta estiver fechada\, se estiver aberta sinal que somos bem-vindos. Não se preocupe com aqueles brutamontes na rua\, você se acostumará com eles\, mas aqui dentro verá além de eu\, Amir\, mamãe e Jeen apenas Call e Mike e claro os funcionários da limpeza e cozinha\, mas os seguranças não tem autorização de vir aqui no dia-a-dia.

- Certo\, então acho que vou caminhar um pouco preciso assimilar tudo o que está acontecendo.

- Se for para o lado sul da mansão verá um jardim de inverno ele é lindo e ótimo para colocar os pensamentos no lugar.

Saio e vou na direção que Penny me indicou, chego em uma enorme tenda com um imenso jardim, o lugar cheira tão bem, tem cadeiras espalhadas pelo espaço e livros perto delas, parece que o lugar foi pensado exatamente para relaxar. Pego um livro e me acomodo folheando as páginas, é um livro de poesia e eu me distraio lendo, saio do transe quando ouço barulho de galhos secos sendo pisados.

Então vejo que já anoiteceu e as luzes onde estou estão ligadas, noto que tem alguém me observando mas não consigo distinguir pois está na penumbra se afastando assim que Call entra na estufa.

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