COM UMA sensação de alívio e de dever cumprido, Sopphi entrou no trailer para se trocar. Tirou a lingerie e a correntinha do pescoço e vestiu uma calça branca de linho e uma blusinha verde-água sem mangas. Em poucas horas estaria a caminho de casa e dizendo adeus a Maraban, algo pelo que mal podia esperar. Afinal, aquele era o último lugar do mundo que teria escolhido para ir, mas o prenúncio de conflitos civis num país vizinho havia levado a uma mudança de planos de última hora, e ninguém dera importância às suas vagas objeções. Por outro lado, o fato de que ninguém suspeitava de sua ligação com Maraban ou com Saaid no passado era um alívio.
Felizmente, aquele período de sua vida antes da fama permanecia em segredo.
Apesar de tudo o que Saaid dizia sobre a corrupção da regência hereditária, acabara subindo ao trono como rei. Mesmo assim, pelo que havia lido nos jornais, os cidadãos de Maraban não tinham ideia de como lidar com a proposta de democracia, e em vez disso haviam se mobilizado e aclamado seu herói popular, o príncipe que se rebelara junto com o exército contra o próprio pai, a fim de proteger o povo. Havia fotos de Saaid por toda parte; até no saguão do hotel Sopphi vira uma, ao lado de um vaso de flores, como se fosse a imagem de um santo.
Sopphi retorceu os lábios, sem jeito.
Não havia motivo para ter pensamentos amargos com relação a Saaid. Era um homem honrado, digno, e provavelmente era um excelente monarca. Não era justo ressentir-se dele por algo que ele não pudera evitar. O casamento deles fora um desastre, mas o fato era que, quando partirá seu coração, já fazia meses que vinha pedindo que se divorciassem. Todo o mundo fazia escolhas, e era preciso arcar com as consequências. Nem sempre um final feliz estava incluído.
Mas ela tinha uma vida boa, refletiu Sopphi decidida, enquanto a equipe de segurança abria caminho entre os curiosos ali agrupados para que ela fosse até a limusine que aguardava para levá-la ao aeroporto. Tinha três dias de folga pela frente, e o melhor a fazer era aproveitar, pensou, admirando o delicado buquê de flores que havia sido colocado num vaso dentro da limusine, e apenas vagamente perguntando-se de onde teriam vindo.
Quando voltasse para Londres, a primeira coisa que faria seria encontrar as irmãs, uma das quais estava grávida, e a outra ainda no colégio.
A irmã gêmea de Sopphi, Emilly, estava grávida, e Sopphi não se surpreendera ao saber que não tinha um homem a seu lado para apoiá-la.
Sopphi tinha a dolorosa consciência de que sua irmã gêmea não perdoava aqueles que a ofendiam ou magoavam, e o mais provável era que o pai do bebê que estava esperando tivesse feito exatamente isso. Sopphi sabia, melhor que ninguém, como a irmã era inflexível, pois o próprio relacionamento das gêmeas era um pouco tenso e conturbado. Na verdade, ela não conseguia deixar de sentir uma ponta de culpa toda vez que via a irmã.
Quando eram pequenas, ela e Emilly haviam sido muito próximas, mas os eventos que marcaram a adolescência das duas as tinham afastado, e elas nunca conseguiram superar isso. Sopphi não se esquecia do sofrimento que seu próprio comportamento inadequado havia causado à irmã, durante anos.
Algumas coisas eram imperdoáveis, ela sabia, e isso a entristecia.
De qualquer forma, Milly, sua irmã casula, daria toda a assistência a Emily.
Ela só não entendia por que Emily fazia tanto segredo sobre quem era o pai do bebê. Verdade que ela própria nunca contara às irmãs a humilhante verdade sobre seu casamento fracassado, mas sentia que tinha bons motivos para seu silêncio... apesar do embaraçoso fato de que ignorará totalmente a insistência de Emilly para que não se casasse com Saaid sem antes conhecê-lo melhor.
Teria sido o mais sensato a fazer, claro. Casar-se aos 18 anos com um homem que só conhecia havia poucos meses e com quem pouco conviverá fora um ato de insanidade. Imatura e idealista como a maioria das adolescentes com pouca experiência de vida, Sopphi se empolgará com a ideia de se casar com um príncipe e viver num país de cultura completamente diferente. E o que acontecerá fora que Saaid se tornará cada vez mais distante, sem falar da tendência para desaparecer durante semanas, em manobras militares, justamente quando mais precisava dele.
Sim, ela errara... mas ele também errara. Satisfeita com essa conclusão, que atribuía a ambos parcelas iguais de culpa pelo que dera errado no passado, Sopphi emergiu de seu devaneio e notou, surpresa, que a limusine estava percorrendo uma estrada deserta.
Como o trajeto para o aeroporto atravessava a cidade, ela franziu a testa, olhando confusa para aquela área seca, onde só havia areia e formações rochosas, uma região árida com um mínimo de vegetação.
Aonde eles estavam indo? Será que o motorista tinha pegado outro caminho para fugir do trânsito da cidade? Ela inclinou-se para a frente para bater na divisória de vidro do carro, mas viu o motorista olhar para ela pelo espelho retrovisor e em seguida voltar a olhar para a frente, ignorando-a. Apreensiva, bateu com mais força no vidro, gritando para que ele parasse. O que aquele sujeito estava pensando? Ela não queria perder o voo, nem perder tempo.
Ao baixar o braço, sua mão roçou no vaso de flores, e só então viu o pequeno envelope preso ao buquê. Ela o pegou, abriu-o e tirou um cartão impresso.
É com imenso prazer que a convido para desfrutar minha hospitalidade no fim de semana.
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Atualizado até capítulo 65
Comments
Rosangela Amorim
kkkkkkkk eita que ela vai ter o seu amor mas uma vez
2025-02-28
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SCEU MATO GROSSO
Começando a ler ontem10/09/2024 acabei de ler UM DESTINO...O AMOR!" DESTINO IMPROVÁVEL" , meu primeiro livro dessa autora bora ler 😉
2024-09-11
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Fatima Maria
😮😮😮😮😮😮😮EITA QUE A COISA VAI ENGROSSAR.
2024-08-20
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