mulheres não apertam as mãos como um homem.

fui atrás da Lily, estava sem paciência e precisava urgente de um banho.desci as escadas e encontrei a Mary.

-boa noite Mary, você viu a Lily?

- o que você fez com o Maycon?

ela estava gritando comigo, porquê?

- o quê?

- ele passou chorando e disse que você quase quebrou o braço dele!

- primeiro não foi o braço, foi o punho. segundo ele entendeu errado e tomou liberdades comigo.

- liberdades? o Maycon jamais se interessaria por você! uma... estrangeira qualquer magra feito um palito!

olha, olha vejam só, a Mary tá afim do Maycon?

- é a verdade.

- você que se ofereceu. o Maycon não se interessa por morenas, que tipo de vadia é você?!

é...ela é arriada pelo Maycon. toda mulher com ciúmes chama a outra de vadia ou rapariga ou puta. pensando bem o Maycon não é feio. ele é alto, ruivo e forte. é compreensivo seu ciúmes.

- olha Mary, eu não tenho interesse pelo Maycon, ele é todo seu. apenas diga a ele que não mexa comigo.

- todo meu?

Mary estava muito vermelha, e visualmente irritada. ela.nao queria admitir que gostava dele, e pela sua reação, eles não pareciam ter uma relação, acho que ele não dava muita bola pra ela.

- Mrs Campbell ficará sabendo disso, nessa casa ela não admite agressões!

e saiu pelo.corredor bufando de ódio. ótimo, consegui uma inimiga no lugar onde eu não podia ter nenhuma.

sai atrás dela feito uma bala, se Mrs Campbell souber desse incidente eu tô na rua!. pra onde eu vou?

encontrei ela ainda no corredor, puxei o braço dela.

- Mary , espere, você entendeu errado!

sem aviso nenhum senti meu rosto queimar e um estralo alto, parecia um tapa. e foi...bem na minha cara!

- você ..... você....sua vadia miserável!

Mary estava muito vermelha e tremendo, com o rosto molhado de lágrimas. seu rosto estava tomado pela raiva.

meu rosto estava formigando e eu estava meia desorientada pelo tapa e pelo susto.

- Porra Mary, ficou maluca?? tapa da "misera"...

só depois que falei foi que percebi que falei em português.

- o que? o que você falou?

bem, pelo menos falar em português distraiu a Mary um pouco, mas a vontade de revidar era muito grande. eita Senhor Jesus me segura!!!

- o que está acontecendo aqui?

era Lily, graças a Deus.

- Mary o que aconteceu, por que está chorando? Erica o que aconteceu com o seu rosto?

Lily estava nos olhando sem entender nada. olhei pra Mary e soube que ela estava com medo. acho que ela não queria que Lily soubesse da tapa na cara que ela me deu.

- tá tudo certo, Lily. não se preocupe, foi só um mal entendido. Mary foi apenas um mal entendido, certo?

ela continuo me olhando com raiva, pelo visto ela não estava nem aí que Mrs Campbell soubesse que ela me agrediu.

- certo. apenas um mal entendido.

Graças...!!! suei muito agora.

- Mary por que você estava chorando?

- não é da sua conta Lily.

deu meia volta e saiu pelo corredor. aquilo foi...sei lá...nunca tinha levado um tapa na cara, doía muito, "cê é loco cachoeira" meu rosto estava formigando...toda a cena na verdade foi estranha. que amor doentio era aquele?

- Erica o que aconteceu?

- esquece Lily. nao vale a pena.- é melhor mudar de assunto. nunca sofri tanto pra ter um banho, fala sério! - Lily querida como posso tomar um banho nessa casa?

no dia seguinte...

o sol estava alto, estava terminando de limpar o meu terceiro quarto da ala azul. pelo o que eu entendi o lorde Woodward só estava trazendo três convidados, pelo menos um era mulher, logo teria um ou dois homens, então porque "caraí" eu precisava limpar os quatro quartos?

enfim....passei metade da manhã pensando no que aconteceu ontem, a Mary tem problemas, ontem ela perdeu totalmente o controle, será que devo me preocupar com ela? tava na cara que ela nutria um amor doentio e possessivo em relação ao Maycon. tudo bem, o cara era bonito, ele me fazia lembrar o ator Simon Woods, bonito mas, não era pra tanto. ela deve ter algum distúrbio. vou prestar mais atenção na Mary a partir de hoje.

um batida na porta.

olhei pra cima, porque naquele momento eu estava de quatro encerando o chão. era o Maycon.

- posso falar com você?

ele estava um pouco vermelho, parecia envergonhado.

- sim?

ele estava remexendo um pano nas mãos, ele estava constrangido.

- queria pedir perdão, acredito que meu comportamento ontem foi lamentável.

- Maycon você apenas entendeu errado.

- Lily me disse que você não é escocesa e que na América os costumes são diferentes dos nossos.

- ela disse o que era?

- ela não entrou em detalhes.

Graças a Deus!

- então..... me perdoe.

me levantei e fui até ele. ele ficou mais vermelho do que já estava.

- Maycon me perdoe se machuquei sua mão. não foi minha intenção. só quero que você saiba que é normal cumprimentar com um sorriso de onde eu venho. mas esse comportamento não vai se repetir. amigos?

ofereci minha mão para um aperto. ele olhou pra mim

- Erica .as mulheres não apertam as mãos como um homem.

- não? então como fecham acordos?

- fechar acordos? não entendi..

- tanto faz, amigos?

retirei minha mão

- amigos.

comecei a sorrir mas lembrei de toda a confusão e fechei a boca na mesma hora, nada de sorrisos e nem mostrar simpatia.

ele fez uma leve reverência e saiu. agora eu entendi porque Mary disse que eu me ofereci. até certo ponto ela tinha razão, mas foi o flerte mais inocente que eu já tinha feito.

comecei a entender aquela época. em suma as mulheres quase não tinham liberdades. não podiam dizer o que pensavam nem ser elas mesmas. existiam regras rígidas sobre o comportamento das pessoas independente da posição, afinal eram apenas empregados em um final de mundo no campo, mas os padrões eram seguidos a risca.

nunca parei pra pensar sobre as liberdades de fala, roupas e até modo de agir que eu tinha em 2020. agora eu estou dando muito valor a essas pequenas coisas.

terminei o quarto e sair, já estava escuro, acho que já devem estar jantando, estava tudo silencioso e deserto. desci as escadas principais e fui até a biblioteca. era enorme. aquele cômodo era surpreendente.

comecei me forçar a lembrar sobre aquele dia com o Pedro. naquele tempo quase não tinham livros e estava bem deteriorada. ele falava sobre a sua coleção, do lado direito tinha um sarcófago, ele era demais, no lado esquerdo tinha uns vasos, algumas peças de metais e....tinha mais coisas mas... tinham umas pedras estranhas em cima da mesa e.... outras peças. não lembrava de quase nada, parece que quanto mais eu ficava naquela casa mais eu me distanciava da realidade. Pedro falou do antigo dono da casa, não lembro de quase nada, eu devia ter prestado mais atenção aquelas histórias do Pedro. droga!! se arrependimento matasse...

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