Capítulo 4

Amanhece e Miranda percebe que estava na mesma posição em que havia adormecido, ela se lembra da conversa com seu pai na noite passada, ainda com a esperança que tivesse sido somente um pesadelo, porém a medida em que ela acorda ela vai se lembrando de tudo.

São quatro e meia da manhã, ela se levanta, toma um banho, escova os dentes, troca de roupa e começa a arrumar suas coisas, que são poucas na verdade, ela não tinha muitas roupas, e o pouco que tinha era muito simples.

Como sua vida tinha mudado tanto assim em menos de três dias? Como era possível? Ela teria que se sacrificar pelo bem de seu pai, podia deixa-lo na mão, afinal ele era tudo o que ela tinha, mas essa decisão doía muito. Ela começa guardando seus pertences na mala e a cada minuto que passa ela fica mais desesperada por não saber o que a esperava. Em menos de uma hora ela já havia guardado tudo o que era necessário, ela decide ir pra cozinha preparar seu último café da manhã na casa em que ela foi tão feliz.

Carlos: Bom dia minha filha, como dormiu? – fala sentado na mesa da cozinha com um olhar vago.

Miranda: Bom dia, como o senhor acha que eu dormi? Como o senhor acha que eu estou me sentindo sabendo que eu fui negociada?

Carlos: Não fala isso minha filha, você pode não entender ainda, mas lá na frente você vai me agradecer.

Miranda: Duvido, eu nuca vou te agradecer por me forçar a me casar e gerar os filhos daquele homem.

Miranda prepara o café da manhã e eles tomam em silêncio, o relógio já marcava seis horas da manhã, eles continuavam em silêncio, não havia mais o que ser dito.

Eles ouvem uma batida na porta, Carlos vai atender e demora a voltar, quando entra está acompanhado por Lorenzo.

Miranda cruza a cozinha e vai em direção a ele, ele abre um sorriso largo, porém não dura nada, ele é atingido por uma sonora bofetada.

Carlos: MIRANDA! O que é isso?

Miranda: É isso que você merece, como você pode ser tão imundo de propor uma coisa dessa? – fala com muito ódio e trêmula.

Lorenzo fica surpreso no primeiro momento, não esperava essa reação dela, afinal qual mulher não iria gostar de se tornar sua esposa e gerar seus filhos? A sortuda iria estar garantida para o resto da vida. Lorenzo se recupera rapidamente, olha bem no fundo dos seus olhos com uma raiva crescente, porém se controla, ele faz Miranda perceber a ameaça velada em seu olhar.

Lorenzo: Bom dia princesa, pelo jeito vou ter que te ensinar boas maneiras, você vai me dar trabalho, mas eu gosto de desafios.

Miranda levanta a mão para acertar outra bofetada, porém dessa vez ele foi mais rápido e segura seu pulso com muita força e olha bem dentro dos seus olhos.

Lorenzo: Nunca mais você vai encostar um dedo em mim, está me ouvindo?

Miranda: Me solta, você está me machucando!

Lorenzo solta seu pulso e de repente muda seu tom de voz, e passa a falar calmamente.

Lorenzo: Você está pronta? Já arrumou suas coisas? Precisamos partir, eu tenho compromissos ainda hoje.

Miranda não fala nada, só consegue pensar no futuro horrível que a esperava.

Carlos: Eu vou até o quarto dela ver se ela arrumou as malas.

Lorenzo fica na cozinha olhando para ela com um misto de sensações, por um momento ele sente pena dela em ter que deixar tudo o que conhecia e tinha para trás. Ela ali parada no meio da cozinha olhando para o chão, chorando parecia tão frágil, indefesa, que ele sentiu vontade de correr e abraça-la, protegendo de qualquer perigo. Lorenzo se surpreendeu com tal sentimento pois era a primeira vez que ele sentia a necessidade de proteger alguém, ainda mais sendo ele o causador desse sofrimento.

Carlos: Aqui está, ela fez uma mala, eu achei que ela fosse levar mais coisas, mas ela só pegou o necessário.

Lorenzo: Ótimo, não se preocupe que a partir de hoje tudo o que ela precisar eu darei, não se preocupe seu Carlos, sua filha estará bem cuidada, não lhe faltará nada. É uma promessa, o senhor tem a minha palavra.

Carlos: Eu confio em você meu filho e sei que minha filha estará em boas mãos.

Lorenzo: Vamos então Miranda? Se despeça de seu pai, temos que ir.

Miranda fica paralisada no lugar, ela não consegue se mover e deixar tudo que ela conhecia para trás, seu pai então vai até ela e a abraça, beija sua testa e fala em seu ouvido o tanto que ele a amava. Miranda continua sem reação nenhuma. Ela nem mesmo consegue mover seus braços para um último abraço.

Lorenzo então sai do lugar, pega ela delicadamente pelo braço e a leva para o carro. Eles se acomodam no grande carro luxuoso de Lorenzo e partem, a última lembrança de Miranda de seu pai, é dele olhando para ela com os olhos cheios de lágrimas acenando da varanda da casa.

Durante toda a viagem de Lorenzo e Miranda ninguém falou nada. Cada um ficou imerso em seus próprios pensamentos, ouvindo uma canção triste que tocava no rádio do carro, preenchendo todo o espaço, vez por outra Lorenzo olhava para Miranda e suspirava como se estivesse com raiva, já Miranda chorava em silêncio sem parar, completamente apavorada sem saber o que esperar.

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