Um Amor Fora do Script

Um Amor Fora do Script

Que tal mais um suco?

Capítulo 1

A noite estava quente, típica do outono. O bar estava lotado, preenchido pelo burburinho das conversas e pelo riso alto dos clientes já embriagados. O cheiro de álcool misturava-se ao aroma de comida recém-preparada. Entre tantas pessoas que se divertiam sem restrições, uma mulher destoava do ambiente. Sentada sozinha em uma mesa discreta, ela mantinha-se alheia à agitação ao seu redor, segurando um copo de suco de morango.

Loren Blake, presidente do grupo Gold, percebeu a presença daquela mulher imediatamente. Diferente das demais, ela parecia deslocada ali. Seu traje social, impecavelmente alinhado, e os cabelos negros presos em um coque rigoroso transmitiam uma imagem de controle e seriedade. Sua pele era tão clara que deixava transparecer as finas veias azuladas sob a superfície.

Intrigado, ele se aproximou sem pressa e sentou-se ao lado dela, deixando um sorriso sutil brincar em seus lábios.

— Um whisky, por favor. — Ele fez um sinal para o garçom e então olhou para a mulher ao seu lado. — E mais um para a senhorita.

Ela ergueu os olhos, analisando-o de cima a baixo. Pele bronzeada, cabelos castanhos ligeiramente bagunçados e olhos escuros intensos.

“Nada mal”, pensou.

Mas manteve a postura reservada.

— Desculpe, senhor, mas não posso beber.

Loren arqueou uma sobrancelha, intrigado.

— Está a trabalho? Não precisa ser tão rígida. Me acompanhe em uma bebida.

— Agradeço, mas já estou com uma.

Ele então percebeu a fileira de copos vazios ao lado dela. Oito, para ser mais exato.

— Parece que você gosta de suco de morango. — Loren brincou, apontando para os copos. — Já que é sua bebida preferida, vou pedir mais dois para nós.

— Não é uma escolha. — A resposta dela veio rápida, carregada de algo que ele não soube identificar de imediato.

Ele a observou por alguns segundos antes de arriscar:

— Quer ir para um lugar mais reservado?

A mulher soltou um breve riso nasalado e inclinou levemente a cabeça.

— Olha, você é gato, simpático, educado… Mas não vai rolar, ok?

— Você é bem direta. Se tem tantos pontos positivos, por que não?

O silêncio se prolongou por um instante antes de ela soltar um suspiro e encará-lo.

— Porque eu estou grávida.

A palavra pareceu pairar no ar, densa e pesada. Loren a fitou, absorvendo a revelação.

Ela abaixou o olhar, e, antes que percebesse, lágrimas escaparam de seus olhos. Rapidamente, tentou enxugá-las com as costas da mão.

— Desculpe. — A voz dela saiu embargada. — Efeitos da gravidez.

Ele continuou observando-a, agora com mais atenção.

— Entendo por que o suco. Mas não entendo por que está aqui, sozinha, nesse bar.

Ela não respondeu de imediato.

— Façamos o seguinte. — Ele se ajeitou na cadeira. — Acredito que você precise mais de alguém para conversar do que de um suco de morango. Eu também estou aqui tentando aliviar uma dor. Que tal sermos ouvintes um do outro? Dois desconhecidos, duas histórias, sem qualquer tipo de relação.

A proposta o surpreendeu tanto quanto a ela. Ainda assim, Nina — o nome que ele descobriu ao longo da conversa — aceitou.

Poucos minutos depois, estavam em um canto mais reservado do bar. Loren falava sobre sua vida com uma naturalidade desconcertante, enquanto Nina se distraía com pedaços generosos de pizza.

— Minha família tem me pressionado para ter um herdeiro. — Ele passou a mão pelos cabelos, visivelmente cansado. — Mas eu descobri que sou estéril. Contei para minha noiva… E hoje ela terminou comigo.

Ele fez uma pausa antes de continuar:

— Perdi minha noiva e, provavelmente, decepcionei minha família.

Nina mastigou devagar, refletindo sobre o que acabara de ouvir.

— Você pode adotar. Ou recorrer a uma inseminação artificial. Hoje há tantas formas de ter filhos. Mas, sinceramente? Acho que essa mulher não te amava de verdade. Ela gostava do status de ser sua noiva.

Ele soltou um riso amargo.

— Não é tão simples.

— Nada é.

Ele a encarou por um momento e depois gesticulou para que ela continuasse.

— Sua vez.

Nina pousou o pedaço de pizza no prato e respirou fundo antes de começar.

— Descobri que estava grávida há poucos meses. Hoje fui dar a notícia para o pai do meu filho… E descobri que ele é casado.

Loren não esboçou reação. Apenas ouviu.

— A esposa dele disse que não ia me bater porque eu estou grávida. Ele, por sua vez, mandou que eu abortasse. Ou seja, fui humilhada e ainda levei o título de destruidora de lares.

Loren inclinou a cabeça para o lado.

— E você vai abortar?

— Não. Meu filho não merece aquele traste como pai. A Globo está perdendo um grande ator.

— Se eu fosse você, procuraria um advogado e entraria com um pedido de reconhecimento de paternidade.

Ela soltou uma risada curta.

— Eu sou advogada.

— Melhor ainda.

— Mas eu não quero que aquele homem tenha qualquer direito sobre meu filho. Prefiro ser mãe solo a permitir que ele tenha qualquer influência na vida do meu bebê.

Loren ficou em silêncio por um tempo. Então, observou Nina comer o décimo pedaço de pizza.

Ele pensou em sua ex-noiva. Em como gostaria de ter momentos simples como aquele com ela. Mas, se estivessem juntos, ele nunca teria pisado em uma pizzaria.

Um carro parou na frente do bar, e Nina pegou sua bolsa.

— Meu táxi chegou. Acho que nos despedimos aqui. Obrigada, Loren.

— Posso dizer o mesmo.

Ela sorriu e saiu, deixando para trás o aroma de morango e uma conversa que, de alguma forma, aliviou um pouco o peso daquela noite.

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Comments

Yumiko

Yumiko

To amando ler ❤❤❤

2020-05-05

3

Anonymous

Anonymous

muito bom,já no primeiro capítulo já chamou minha atenção 👏👏👏

2020-05-05

2

✿❀ ~ 𝖓𝖆𝖎𝖗𝖊 ~ ❀✿

✿❀ ~ 𝖓𝖆𝖎𝖗𝖊 ~ ❀✿

Eu tô adorando, talento em.

2020-04-29

4

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