Capítulo XVI

Quando Victoria entrou em casa, os olhos estavam avermelhados e a face úmida de tanto chorar. Para sua surpresa, Jason encontrava-se sentando na sala aguardando por ela.

- Você deve ser bastante desocupado para poder vir a minha casa no meio da tarde e ainda ficar aguardando meu retorno. - Victoria estava irritada com aquele vista inesperada.

- Onde você esteve a tarde toda? - Indagou Jason observando Victoria friamente.

- Não é da sua conta. - Victoria sentiu que seu coração batia desordenadamente quando encarou o olhar de Jason.

- Por acaso, eu sou seu noivo e isso é da minha conta sim. - Jason se aproximou de Victoria e viu que ela estava com os olhos irritados. - Você esteve chorando. - Ele observou com interesse.

- Eu tenho muitos motivos para chorar. - Respondeu Victoria num tom vingativo.

Jason não tinha conhecimento da doença da avó de Victoria e que aquelas visitas ao hospital a deixavam sempre chorosa e cabisbaixa. Como ela já esperava, quando voltou a encará-lo, entendeu que ele tinha confundido o motivo do choro dela como um sinal de tristeza e lamentação com relação ao eminente casamento. O olhar de Jason, antes preocupado, se tornou imediatamente frio.

- Do que se trata essa visita? - Victoria perguntou querendo terminar logo com aquilo.

- Eu não posso vir ver minha noiva, quando eu sentir saudade? - Jason respondeu zombando dela. Seus olhos eram frios.

- Não se faça de tolo. - Victoria falou em um sussurro áspero. - Isso não faz parte do nosso acordo.

- O beijo no carro também não. - Jason falou aquilo para constranger Victoria, pois ele não tinha dado a menor importância ao fato.

- Eu tinha bebido muito vinho naquele jantar. - Mentiu Victoria com o rosto vermelho igual a um camarão.

- Não se preocupe, eu já beijei mulheres demais para dar importância a isso.

Jason falou com displicência e aquilo incomodou Victoria. Pensar nele beijando outras mulheres provocou nela um sentimento inesperado: ciúmes.

- Eu trouxe alguns documentos que você precisa assinar com relação ao nosso acordo. - informou Jason. - Quando falei que estava noivo, meus advogados que redigiram isso preocupados.

- Eles tem motivo para isso. Eu espero ser muito bem recompensada por tudo que estou passando. - Victoria falou isso pensando nas contas de hospital da sua avó, que eram altíssimas.

Jason balançou a cabeça.

- Eles estão cientes do nosso acordo e querem que você assine esses documentos. Eles iam marcar uma reunião com você, mas eu preferir vir pessoalmente.

- Nossa, como você é atencioso. - Victoria zombou dele. - Eu preferia a reunião com eles. Onde eu assino?

Sem ler, Victoria assinou imediatamente para ver se ver livre daquela visita indesejável.

- Você deveria ler isso antes de assinar. - Sugeriu Jason. - Nele, eu estipulei o valor que pagarei a você pelo nosso acordo. 30 milhões de dólares. Isso é suficiente?

Victoria ficou surpresa com um valor tão alto, mas aquilo era excelente. Ela teria dinheiro para cuidar da avó para o resto da vida. Poderia montar até uma estrutura hospitalar em casa, depois da anulação do casamento. Ela sorriu bastante satisfeita.

- Agora que o restante do seu patrimônio está a salvo da sua esposa “interesseira”, você pode ir embora? - Victoria perguntou indicando a porta com um gesto de cabeça.

Para azar de Victoria, Jason não estava com pressa.

- Eu chamei um arquiteto para reformar algumas suítes do primeiro andar, para que você possa se acomodar lá. Não tem nada que você queira levar dessa casa? - Jason falava ao mesmo tempo que andava pela sala observando o ambiente. - Seria bom que você se reunisse com ele para que tudo fique de acordo com seu gosto.

- Agradeço, mas pode seguir de acordo com o que seu arquiteto sugerir. Nós temos muitos itens que são antigos aqui, herança de família, e acho que isso não combinaria com estilo da sua casa. - Victoria falou isso de forma inocente, mas Jason não interpretou assim.

- Sua família tradicional tem muitos objetos valiosos que passam de geração para geração. Como eu era pobre, não tem isso na minha família. - Jason falou num tom ácido.

- Eu não quis dizer isso…

- Os tempos mudaram. Fique sabendo que com meu dinheiro eu posso comprar “tradição” também. - Jason falou interrompendo Victoria bruscamente. - Comprei até uma noiva de família tradicional.

Como sempre, Jason distorcia qualquer comentário de Victoria. Ele sempre estava disposto a chegar a pior das conclusões. Depois do último comentário dele, Victoria perdeu qualquer interesse que tinha em se explicar e permaneceu calada.

- Nosso casamento irá acontecer em duas semanas. - Jason falou num tom frio e cortante. - Então, decida antes disso tudo que quiser levar dessa casa, inclusive empregados.

- Eu quero levar meu motorista. Ele trabalha com minha família desde que eu era criança, James. - Avisou Victoria que não aceitaria se desfazer de uma pessoa que trabalhou por tantos anos na sua casa. Ela também estava pensando nas visitas ao hospital da avó. Seria melhor ir com James, que era de sua confiança, do que com motorista de Jason.

- Tudo bem. Meu motorista passa o dia todo a minha disposição e é ideal que você tenha o seu.

Apesar de todo deboche, Jason tinha percebido que Victoria estava cansada e resolveu ir embora. Se aproximando dela, ele tomou-lhe o queixo e a obrigou a olhá-lo.

- Victoria, eu vou embora agora. Aproveite essas duas semanas. Depois do nosso casamento, eu não vou admitir que você me trate dessa forma.

Jason seguiu para porta de saída e deixou para trás uma Victoria emudecida e assustada com aquela ameaça.

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