Capítulo 4

- Como assim não terei controle sobre o meu próprio corpo ? - perguntei assustada a minha irmã.

Senti que ela estava hesitando em me contar sobre isso.Talvez ela tivesse recebido ordens do meu pai para que escondesse tudo isso de mim.Após um longo tempo sem dizer nada, Luna suspirou e me respondeu.

- No dia de sua ascensão, um instinto assassino tomará conta de você.Você vai querer resistir mas não vai conseguir.Essa é uma característica certa de todos os aspectos da Lua.

- Por que ? - perguntei horrorizada.

- Eu não sei te responder. - ela disse enquanto vinha me abraçar.

- Eu não quero lutar contra a minha melhor amiga Luna. - eu disse deixando as lágrimas que haviam inundado os meus olhos rolarem pelo meu rosto.

- Como eu queria estar no seu lugar para que você não passasse por isso Leona. - ela comentou secando as minhas lágrimas. - Mas tenho certeza de que a amizade de vocês é mais forte do que qualquer destino.Sei que vocês darão um jeito em tudo isso. - Luna falou em seguida.

Não pude deixar de sorrir ao ouvir as suas palavras.Me coloquei de pé, sequei as minhas lágrimas e fui ajudar a minha irmã com o jantar.De nada iria adiantar ficar chorando por uma coisa que ainda nem aconteceu.Eu e Aurora ainda temos um pouco de tempo antes de mudar o nosso destino.

Pouco tempo depois, o jantar já estava pronto.Era ensopado de legumes e alguns pães.Colocamos tudo na mesa, nos sentamos e começamos a nos servir.Ficamos conversando sobre coisas aleatórias até que uma dúvida veio em minha mente e deixei uma careta se formar em minha face.

- O que foi ? - perguntou Luna ao ver a minha expressão.

- É que eu tenho mais uma dúvida. - eu respondi.

- Sobre as antigas escrituras ? - ela perguntou.

- Sim. - respondi imediatamente.

- Pode me perguntar sobre qualquer coisa.Não hesite. - ela disse sorrindo.

- Antes de mim, existiram outros aspectos ? - perguntei.

- Infelizmente não. - ela respondeu enquanto olhando para o outro lado.

- E como o nosso povo pode ter tanta certeza de que eu sou um ? - perguntei confusa.

- Porque você nasceu com as características de um aspecto descrito nas antigas escrituras. - ela respondeu.

- Mas como ficaram sabendo sobre os aspectos ? - perguntei ainda mais confusa.

- Nossos ancestrais tiveram um revelação que mostrava o combate.Mas nunca virão se eram homens ou mulheres e nem qual lado iria vencer. - ela respondeu.

- E se tudo isso não passar do fruto da imaginação de um ancestral nosso Luna ? - perguntei.

- Impossível ser.Olhe para você e para a sua amiga.Você são a prova viva de que as escrituras estão corretas. - respondeu Luna.

- Desculpe irmã.Isso não faz sentido nenhum para mim. - eu falei enquanto me levantava e saí da cozinha.

- Leona. - ouvi Luna me chamar e parei na sala.

- Eu sei que é difícil de acreditar em apenas palavras que foram escritas a vários anos atrás.Mas eu tenho certeza de que no fundo, você sabe que é verdade. - ela disse atrás de mim.

- E é isso que me assusta.Fui privada desde pequena a não formar laços com outras pessoas para que eu me apegasse a elas.Eu não posso formar uma família antes desse combate e talvez nem possa formar depois porquê tem a possibilidade de eu acabar morta. - falei com as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. - Isso é injusto Luna.

Minha irmã não disse nada.Apenas me abraçou e ficou afagando o meu cabelo.Senti uma paz inexplicável tomar conta de mim naquele momento e parei de chorar quase que imediatamente.Olhei para a minha irmã e ela secou cuidadosamente as lágrimas que ainda estavam em minha face.

- O que aconteceu ? - perguntou a minha mãe assim que entrou na tenda ao lado de nosso pai.

- A sua amiga Solari fez alguma coisa com você Leona ? - perguntou meu pai em seguida.

- Não pai.Não aconteceu nada. - eu respondi. - Vou tomar um pouco de ar fresco. - eu falei e passei ao lado dos dois para sair da nossa tenda.

Era uma vida cheia de privações e eu tinha que arrumar uma forma de mudar esse destino que impuseram a mim.Mas o primeiro movimento a se fazer, é conversar com a Aurora sobre o que a minha irmã me contou.

~ Aurora ~

Assim que entramos na nossa tenda, vi meu pai sentado em uma cadeira e em seu colo estava a sua segunda esposa.Fiz de conta que não vi aquela cena e fui direto para a cozinha onde estava a minha mãe.

- O que houve querida ? - perguntou ela assim que me viu.

- Nada não. - eu respondi.

- E qual o motivo dessa cara emburrada ? - ela perguntou enquanto tocava com a ponta do dedo o meu nariz.

- Enquanto você está aqui cozinha, a Azurah está no colo do meu pai.É injusto. - eu falei.

- Ele é meu marido, mas acima disso é o líder da nossa tribo.Ele decide quem vai servir a comida e quem vai lhe servir para lhe proporcionar prazer. - disse a minha mãe revirando os olhos.

- Não sei como a senhora aguenta. - eu comentei.

- Nem eu mesma sei. - ela confessou e rimos por conta disso.

- Precisa de ajuda ? - perguntei.

- Não.Já finalizei tudo por aqui.Vá chamar o seu irmã para jantar enquanto eu preparo a mesa. - ela pediu.

Saí da cozinha indo na direção do quarto do meu irmão.Assim que passei pelo pano que tampa a entrada, ele jogou uma pequena almofada em mim

- Ei. - eu disse em protesto.

- Eu avisei que todas as vezes que você entrasse aqui sem me avisar, levaria uma almofada na cara. - ele me lembrou.

- Desculpe então. - eu pedi.

- Tudo bem.Veio falar alguma coisa ? - ele perguntou.

- A mamãe está chamando para comer. - eu falei.

Shieda deu um pulo da cama onde estava deitado e veio na minha direção.Ele jogou um de seus braços por cima do meu ombro e me conduziu até a nossa pequena sala de jantar.Nos sentamos e jantamos tranquilamente enquanto ignoravamos a troca de carinho entre meu pai e a sua segunda esposa.

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