1950 Igreja de São Francisco
Os sons dos cantos ecoavam pelos corredores da Igreja de São Francisco. Vozes fervorosas se misturavam ao som do órgão, preenchendo o ambiente com uma alegria serena. Freiras, coroinhas e até o bispo cantavam com entusiasmo, enquanto os fiéis se deixavam levar pela atmosfera sagrada. No entanto, afastado do moss, diante do altar, estava o jovem padre Pietro Luciano. Seus olhos não se fixavam em ninguém. Sua mente parecia distante, como se as vozes ao redor se tornassem cada vez mais abafadas, como um eco se perdendo no vazio. O som sutil dos ponteiros do relógio de parede invadiu seus ouvidos como um lembrete cruel da passagem do tempo. Cada segundo que se arrastava parecia empurrá-lo para mais longe daquela missa. Então, ele suspirou. Passos suaves se aproximaram, interrompendo seu silêncio interno. Uma freira de meia-idade, com expressão serena, tocou levemente seu ombro. Era irmã Rose.
“Padre Pietro, você está bem?" murmurou com gentileza, olhando para ele como quem tenta alcançar uma alma perdida. Ele piscou, como se voltasse para a realidade. Seu olhar encontrou o dela, e um leve sorriso nasceu em seus lábios.
"Ah... perdão pela minha distração, Estava refletindo sobre... o novo projeto que discutimos para melhorar a estrutura da igreja"
Disse ele com voz calma. Alguns fiéis se entreolharam, curiosos e animados com a possibilidade de novidades. Pedro respirou fundo e retomou o tom sereno que sempre usava diante da congregação.
"Como estamos chegando ao fim da missa, vou entregar algumas páginas com leituras que gostaria que levassem para casa..”
Antes que eu pudesse terminar a frase, um estrondo atravessou o ar. O som seco fez com que os corpos se enrijecerem. Seguiu-se um segundo barulho, mais alto, mais claro — um tiro. A tensão se espalhou entre os presentes. Murmúrios se ergueram como preses desesperados. “Por favor, mantenha a calma" Disse Pietro, tentando conter a agitação. Então, com violência, as portas da igreja se abriram. O vento frio de Nova Iorque invadiu o lugar sagrado, e com ele, homens vestidos de preto, rostos duros, olhares implacáveis. Cada passo deles ecoava sobre o chão de mármore como uma profanação. Por último, ele entrou. Um homem de postura impecável, beleza fria e mortal. Seu rosto angular parecia esculpido em mármore; os cabelos loiros, penteados para trás com precisão, realçavam seus intensos olhos azuis. Uma tatuagem negra serpenteava do peito até o pescoço, parcialmente exposta pelo colarinho aberto do sobretudo. Seus passos eram lentos, deliberadamente ameaçadores. Padre Pietro resuou a respiração. Seu corpo congelou. Os olhos do padre se fixaram naquela figura com uma mistura de medo e pressentimento. O homem parou diante do altar. Sem hesitar, ele ergueu a arma. Mais um tiro rasgou o ar. Um som seco, definitivo. O corpo do bispo caiu no chão, sem vida. "Bispo!" Gritou alguém, em choque. O homem guardou a arma como quem encerra um ritual. “Eu te disse que te mataria com as minhas próprias mãos" ele disse com frieza, sua voz soando quase elegante. E então se virou para a igreja inteira: "O nome é Elliot Vittorio Romano. Não se esqueçam. Vocês ainda vão ouvir muito sobre mim." O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Padre Pietro se ajoelhou ao lado do corpo do bispo, tocando-lhe o rosto com reverência. Suas mãos tremiam. Quando levantou os olhos, eles estavam cheios de uma dor que queimava — e um ódio silencioso que nunca havia sentido antes. Seus olhos encontraram os de Elliot. Por um segundo, nada foi dito. Apenas aquele olhar atravessando o tempo e o espaço — duas almas que nunca deveriam ter se cruzado. Elliot apenas sustentou o olhar com frieza, depois se virou e caminhou calmamente em direção à saída, deixando para trás o eco de seus passos... e o rastro do pecado dentro da casa de Deus.