Aposto que já ouviu, leu e assistiu muitas estórias sobre adoção de crianças traumas, maus tratos e a ausência dos pais fazem parte do cotidiano de delas que somente querem ser amadas.
Vitor Holf foi na contra mão disso tudo, os sinais estavam na minha cara todo tempo e não consegui ver até pagar um alto preço por isso, essa é a minha estória.
Dezembro de uma noite chuvosa de 1986 nasci entre gritos da minha mãe e pressa da equipe médica em me tirar de seu ventre, não era para ter nascido naquele noite mas o acidente de carro adiantou o meu nascimento e a morte da minha mãe.
Arthur Polari meu pai me chamou de Sara pois acreditava que iria se curar da perda de Rosália Polari sua esposa.
Ele foi um bom pai, carinhoso e cuidadoso, tive o que precisava e quando adulta o retribui com uma vida confortável, passando no exame da OAB me tornei uma advogada.
Tive alguns namorados até conhecer Teodoro Muniz advogado que trabalha comigo na Socius Advocacia, me apaixonei logo de cara pelo homem pardo, alto, de cabelos preto enrolados, boca carnuda, olhos de cor caremelo, seus músculos não se esconde mesmo vestindo terno.
Namoramos,noivamos e nos casamos em 3 anos, compramos a nossa casa no Condado de Durval, abrimos o nosso próprio escritório de advocacia o chamamos de Sarate Advocacia, Sara e Teodoro essa foi a junção dos nomes. Tudo indo muito bem até eu decidir ser mãe:
-Quero ter um filho! Disse isso numa linda manhã de sábado.
-Por que? Disse ele sem entender que já estou com quase trinta anos e que a maternidade em mim se aflora a cada dia.
-Temos uma vida confortável pra que um filho?
-Eu quero ser mãe, não sei porque ainda não engravidei com todos esses anos que estamos juntos,vamos consultar um médico.
-Eu não vou, estou muito bem assim. Disse ele saindo do nosso quarto.
Mesmo contra a sua vontade fui em uma consulta com a ginecologista Elisabeth Mordje, realizei vários exames e os resultados foram dentro dos valores de referência estabelecidos, isso significa que não havia nada que me impedia de ser mãe. Teodoro e eu conversamos novamente até me contar que ele era estéril pois havia tido fimose grave quando criança impedindo de ter filhos pelo resto de sua vida. Ele chorou dizendo que apenas não contou no começo do nosso relacionamento porque não queria me perder. Confesso que me senti traída naquele momento e por algumas semanas tive que digerir toda aquela situação o amava e quero ficar com ele mesmo com toda adversidade.
Fizemos terapia de casal e fomos aconselhados a adotar uma criança, no primeiro momento Teodoro não aceitou, mas com insistência fomos visitar o Orfanato Angeles. A princípio dissemos ter interesse por um bebê que fosse pardo ou negro. E entre cadastro e visita da assistente social, fomos aprovados para a adoção de um bebê chamada de Lucy pelas colaboradoras do orfanato.
Em uma tarde de chuva fui no orfanato sozinha tratar das papeladas da adoção já que sou advogada os trametes foram um pouco mais rápido. Enquanto aguardo na sala de espera, me levanto olhando a janela está chovendo muito e um som de trovão me assusta:
-Você está com medo? Uma voz infantil me pergunta.
Olho para trás e lá está um garotinho branco, seus cabelos pretos e lisos quase escondendo os seus olhos também pretos, vestindo o uniforme azul do orfanato ele sorrir segurando a minha mão, reparo que em seu braço direito à uma queimadura grande para um garoto tão novo:
-Agora está melhor? Ele diz me olhando nos olhos,sua mão está quente.
-Sim, como se chama? Pergunto ainda segurando a sua mão.
-Vitor. Ele responde olhando para a janela tentando ver o que há lá fora.
-Um lindo nome Vitor. Digo limpando o vidro para ele poder ver melhor a paisagem.
-O que aconteceu com seu braço? Pergunto passando a mão na cicatriz.
-Fogo, muito fogo, minha família se foi. Ele diz chorando.
Me comovo e o abraço ele também me abraça ficamos alguns minutos assim, até entrar a colaboradora que fica surpresa ao vê-lo ali comigo:
-Vitor o que está fazendo aqui, sabe que não pode ficar na sala de espera. Ela o repreende.
Antes dele dizer algo digo:
-A culpa foi minha, eu o vi no corredor e pedi para que ele entrace nesta sala. Minto olhando para a colaboradora e para aquele menino que me olha sem entender porque estou o defendendo daquela situação.
Vitor sai da sala nos deixando a sós, nos sentamos a colaboradora me trás os papéis da adoção, estou curiosa em saber mais sobre aquele garoto:
-O que aconteceu com ele? Pergunto.
-Ele quem? Ela responde confusa.
-O Vitor. Digo a instigando.
-Há o Vitor Holf, ele está aqui à uma semana, sua família sua família morreu em um incêndio, seu braço queimado é a sua lembrança dolorosa daquele dia. Diz respirando fundo.
-É como ele tem se comportado? Pergunto curiosa.
-Bom, ele é um ótimo garoto, educado, inteligente e atensioso, tem superado muita coisa. Ela diz olhando para mim.
-Trouxe a documentação para assinar a logo mais estará com a sua filha em seus braços.
-Preciso de mais um dia, meu esposo não veio hoje e queremos assinar juntos. Minto na verdade aquele olhar triste daquele garoto me deixou na dúvida.
-Tudo bem, assinamos na próxima semana então. Ela diz desapontada.
Volto para casa e penso naquele olhar triste e como aquela criança está processando toda aquela dor. Explico a situação para Teodoro que deixa a decisão em minhas mãos. Antes do término da semana ligo para o orfanato dizendo que quero adotar o Vitor Holf.
Semanas se passaram até finalmente sair os papéis da adoção do Vitor.
Durante essas semanas fui visitá-lo algumas vezes, conversamos sobre sua comida favorita, seus hobies e um pouco sobre sua família que ele sempre mudava de assunto quando eu tentava saber um pouco mais deles.
O dia de levar Vitor para a sua nova casa finalmente chegou, sinto que me tornei a sua mãe desde do dia em que nos conhecemos. Seu quarto o decorei de azul com alguns pôsteres de animes que ele disse que gosta. Teodoro se esforçou para ensiná-lo a jogar futebol, foi em vão Vitor gostava de desenhos e livros, sua paixão pela leitura o fazia ler dos livros por semana, o que me deixava admirada uma criança da sua idade com gostos tão peculiares.
Cinco anos se passaram quando descobri a traição de Teodoro com uma garota 10 anos mais jovem que ele conheceu na academia, a separação foi como um luto para mim, passei semanas sofrendo, chorando escondida para o nosso filho não me vê assim, Teodoro saiu do apartamento indo morar com o seu novo amor. Vitor permaneceu morando comigo por sua própria escolha.
No aniversário de 16 anos de Vitor propus que ele convidace alguns colegas para comemorar em casa, ele disse que não queria mais ninguém além de nós dois, naquela época só achava que Vitor era introvertido, por isso a falta de seus amigos em casa hoje sei que realmente significa aquela total falta de outras pessoas em sua vida:
-Seu pai te enviou um presente. Digo-lhe entregando um pacote.
-Ele não é meu pai. Diz ele olhando para mim.
-O seu bolo de aniversário, faz um pedido. Digo lhe dando um pequeno bolo com uma vela.
-Apartir de hoje não vou mais te chamar de mãe. Diz ele me servindo uma taça de vinho.
-Por que? Amo quando você me chama de mãe. Digo bebendo o vinho que está na taça.
-Você será apenas Sara. Disse ele passando a sua mão no meu rosto e passando os seus dedos nos meus lábios.
Vitor agora é um jovem com quase um metrô e oitenta, seus cabelos agora um pouco mais grandes ainda esconde seus olhos pretos, se tornando ainda mais bonito.
Minhas vistas começam a escurecer, a minha última memória foi ele me pegando no colo.
Acordo em minha cama com uma camisola preta que não me lembro de tela colocado, minha calcinha está molhada e a minha cabeça dói.
Vitor bate na porta me chamando.
(Continua)