O Efeito Borboleta
O Efeito Borboleta
O relacionamento de Sofia e Lucas era como um daqueles romances de cinema que fazem a gente suspirar: cheio de risadas bobas, jantares à luz de velas improvisados e a certeza silenciosa de que haviam encontrado um ao outro. Ela, uma designer com o sorriso mais contagiante que ele já tinha visto; ele, um engenheiro com um jeito calmo que equilibrava a intensidade dela.
Eles estavam juntos há um ano e meio, e Sofia já pensava em planejar uma viagem para celebrar o aniversário. Estava tão absorta em pesquisar pacotes turísticos que mal notou a frieza sutil que havia se instalado nas conversas de Lucas. Ele respondia com monossílabos, cancelava encontros com desculpas vagas sobre o trabalho e o olhar dele parecia distante, focado em algo que não era ela.
A bomba explodiu em uma quinta-feira chuvosa. Sofia foi à casa dele sem avisar, querendo surpreendê-lo com seu prato favorito. A surpresa, no entanto, foi dela.
Lucas não estava sozinho. Sentada no sofá, com uma familiaridade que a atingiu como um soco no estômago, estava Isabela. A ex-namorada de Lucas, o fantasma que Sofia sempre soube que existia, mas que Lucas havia garantido que estava enterrado no passado. Isabela estava mais bonita do que Sofia se lembrava, com o cabelo loiro caindo-lhe sobre um ombro e uma taça de vinho na mão.
O silêncio na sala era denso, quebrado apenas pelo som da chuva.
"Sofia, o que você está fazendo aqui?", Lucas perguntou, parecendo pego em flagrante, o que de fato estava.
Sofia não respondeu. Seus olhos foram de Lucas para Isabela e voltaram, processando a cena: o vinho, o conforto, a maneira como Lucas não conseguia olhá-la nos olhos.
"Eu...", começou Isabela, com uma voz aveludada, "nós só estávamos conversando."
"Não, Isabela," Lucas suspirou, esfregando a nuca. Ele se virou para Sofia, a dor nos olhos era genuína, mas o dano já estava feito. "Eu sinto muito. Eu tentei, de verdade. Mas a Isa voltou e... nós temos uma história. É complicado. Eu sei que o que eu estou fazendo é horrível com você, e você não merecia."
A traição não era só o beijo ou o toque. Era o reconhecimento de que, para Lucas, ela tinha sido apenas um intervalo. Ela havia sido o rebote de uma história que ele nunca havia realmente encerrado. Seu amor, sua dedicação, todos os planos, eram pedaços de um sonho que ele estava desmontando para reconstruir o antigo.
Sofia sentiu as lágrimas chegarem, mas se recusou a chorar na frente dos dois.
"Não é complicado, Lucas," ela disse, sua voz surpreendentemente firme. "É covarde. E é nojento." Ela colocou o pote de comida que segurava sobre a mesa de centro, como uma oferenda final e descartada. "Fico feliz que você tenha descoberto o que realmente queria antes que eu planejasse o resto da minha vida com você."
Ela deu as costas, o som da porta batendo atrás de si sendo o ponto final mais dramático que ela poderia ter escrito para a história deles.
O Recomeço
Os meses seguintes foram preenchidos com sorvete, filmes tristes e a cura lenta de um coração que se sentiu trocado por uma memória. Mas Sofia era resiliente. Ela usou a dor como combustível, dedicando-se ao trabalho, aceitando o projeto de design mais ambicioso de sua carreira.
Um ano depois, ela estava em uma galeria de arte com amigos. Olhou ao redor, riu de uma piada interna e sentiu uma paz que há muito não experimentava. De repente, viu Lucas.
Ele estava do outro lado da sala, sozinho, parecendo mais magro e com uma expressão cansada. Ele a viu também.
Seus olhares se cruzaram, e Sofia não sentiu raiva ou dor; sentiu apenas uma estranha indiferença, como se estivesse olhando para um ator em um filme que ela já havia assistido.
Ele caminhou até ela. "Sofia. Você está ótima."
"Obrigada, Lucas. Você também," ela mentiu gentilmente.
"Eu..." Ele hesitou. "As coisas com a Isabela não deram certo. A gente tentou, mas... a Isa não era mais quem eu lembrava. E eu não era quem ela queria que eu fosse."
Sofia sorriu, um sorriso pequeno, mas sincero. Não era triunfo, era a constatação de uma verdade.
"Sinto muito que você tenha tido que quebrar o meu coração para descobrir isso," ela disse, sem rancor, mas com clareza absoluta. "Mas, honestamente, sou grata. Você me trocou pelo seu passado, e ao fazer isso, você me libertou para o meu futuro."
Ela deu um passo para trás, acenando para seus amigos. "Preciso ir agora. Tenha uma boa noite, Lucas."
Enquanto se afastava, Sofia notou que Lucas a observava, um olhar de arrependimento nos olhos, entendendo que ele não só havia perdido a garota por quem estava, mas também a chance de ter a garota que ela estava se tornando. E, pela primeira vez, Sofia percebeu que a ex-namorada não era um fantasma, mas sim um presente, pois havia mostrado a ela que merecia um amor que a escolhesse primeiro, e não um que a usasse como uma ponte de volta para o passado.
Ela nunca mais olhou para trás.