Eu fui devota, vivendo em um velho convento. Suas paredes exalavam tamanha frieza e solidão em seus corredores, mas quando o conheci, comecei a sentir o calor que queimava em minha pele. O que fazia com que eu arrepiasse até o último fio de cabelo. Embora eu me escondesse atrás de minha manta, você sabia o que eu guardava em meu coração, e você sentia o mesmo. Mas neguei você, neguei o que sentia, pois tinha uma obrigação. Eu estava vivendo para servi, não poderia me render a você.
No entanto, você perdeu o que é mais valioso para os homens, e eu me vi desolada. A tristeza e a angústia me consumiram. Eu o amava tanto, mas neguei seu amor. Agora tudo está frio.
Me desculpe, meu Deus, mas não posso me perdoar. Não posso perdoar você por ter colocado em meu caminho. Assim me rendi ao meu desespero. Havia amargura em mim. Eu clamava ao Senhor, mas ele não fez nada por mim. Perdi minha fé.
Fiz um pacto com o diabo. Ele me prometeu meu amor de volta. Paguei com minha alma, e ele o trouxe de volta. Eu estava feliz, alegre, e pude sentir seu calor novamente. Pensei que viveria o bastante com meu amor. Ele era tão feliz, animado, meigo e carinhoso, tão cheio de vida.
Mas depois de seis dias, eu já não o reconhecia. Não era o mesmo. Não sorria. Sempre desanimado. As moscas pairavam sobre sua cabeça, como se não houvesse nada em sua casca. Ele me assustava quando parava ao lado de nossa cama para me olhar, com aqueles olhos fundos, e neles não havia nada.
Só aí pude entender que isso era apenas uma tortura, por ter abandonado Deus. A pessoa que estava ao meu lado não era quem eu amava. Então peguei uma faca de cozinha e tirei sua vida pela segunda vez.
No fim, pude ver em seus olhos cheios de aflição e terror que o demônio estava em mim. E meu demônio não o quis deixar ir da primeira vez. Porém, essa será diferente. Amém.