Capítulo 1 – A Partida
Olá, meu nome é Mary, tenho 13 anos e estou passando por uma fase complicada da minha vida.
Minha mãe está com câncer e, recentemente, meu pai recebeu a notícia de que tem apenas mais uma semana de vida. Com isso, minha mãe decidiu me mandar para a casa da vovó, na cidade de São Pedro.
Lá é bem no interior, e quase não dá para se comunicar com as pessoas. Também não tem escolas por perto. Graças a Deus, minha mãe conseguiu instalar um aparelho para que eu tenha internet e possa continuar minhas aulas online enquanto estiver lá.
Minha vó, Dona Mily, é muito calma e gentil. Eu adoro ir à casa dela — o lugar tem uma vibe tranquila, daquelas que fazem a gente se sentir abraçada.
Atualmente moro no Rio de Janeiro e, para chegar à cidade da vovó, terei que pegar um voo de seis horas. Não sei se estou preparada… mas vamos com tudo.
Capítulo 2 – A Viagem
Hoje é o dia. Acordei cedo para me arrumar. Faltam cerca de três horas para o voo e ainda não sei se estou nervosa, ansiosa ou triste. Talvez um pouco de tudo.
Agora estou no avião. Pretendo dormir o máximo que conseguir, então volto a escrever assim que chegar em São Pedro.
Capítulo 3 – O Encontro com a Vovó
Oiê, gente! Acabei de chegar. Estou esperando a vovó vir me buscar no aeroporto.
De repente, meu telefone começa a tocar…
— Alô?
— Oi, minha netinha! Aposto que você nem sabia que a vovó tinha telefone, né?
— Sabia não! Você não fala muito com a gente… eu estava com saudades. Quando vai chegar?
— Já estou quase aí!
Quando vi minha avó depois de tanto tempo, não consegui segurar as lágrimas.
— Oi, minha flor!
— Oi, vovó...
Conversamos durante todo o caminho no carro. Quando chegamos na casa dela, me surpreendi.
— Nossa, vó! Você mudou bastante coisa aqui.
— Claro! Eu mudei tudo pra te receber. Até preparei um cantinho só seu.
Capítulo 4 – Um Novo Lar
Logo que entrei na casa, percebi nitidamente as mudanças. E, sinceramente… eu amei.
— O que achou, meu amor? — perguntou vovó, com aquele olhar carinhoso que só ela tem.
— Eu adorei, vovó!
Assim que entramos, ela me mostrou cada cômodo da casa. Eu fiquei encantada, mas o que mais me surpreendeu foi o meu novo quarto.
Antes, quando eu vinha visitar, eu dormia em um quarto pequeno, com apenas uma cama. Mas agora tudo mudou.
O novo quarto tem um guarda-roupa de duas portas, uma mesinha de estudos posicionada de frente para a janela, uma cama de casal super confortável e um banheiro só meu — com vaso, pia e box. E o melhor de tudo: da janela, dá pra ver todo o pátio. A vista é simplesmente incrível.
— Espero que goste do quarto. Mais tarde, vou te levar a um lugar que preparei com muito carinho — disse minha vó, sorrindo.
Depois de conversar um pouco mais com ela, fui desfazer minhas malas.
Guardei minhas roupas no armário, organizei os cadernos na mesa de estudos e coloquei meus produtos de autocuidado no banheiro.
Aos poucos, aquele lugar começava a se tornar o meu novo lar.
Capítulo 5 – A Primeira Noite
A noite chegou rápido, e vovó preparou meu prato preferido: arroz, strogonoff e, é claro, o meu suquinho natural de laranja. O cheirinho da comida invadiu a casa inteira e me trouxe uma sensação de conforto que eu não sentia há muito tempo.
Depois do jantar, fui direto para o meu quarto. Coloquei meu pijama, fui ao banheiro escovar os dentes e fiz meu ritual noturno de cuidados com a pele. Era como se, naquele momento, eu estivesse me cuidando de dentro para fora.
Minha primeira noite na casa de Mily foi incrível. Dormi como um bebê, afundada nos lençóis macios e com o som suave do vento batendo na janela.
Na manhã seguinte, acordei com um leve toque na porta. Era minha avó, sorrindo como sempre, com uma bandeja nas mãos.
Ela me trouxe uma xícara de café quentinho e uma frutinha cortada com todo o carinho.
— Obrigada, vovó.
— De nada, minha amada.
Capítulo 6 – Novos Costumes, Novos Encontros
Assim que terminei o café, coloquei um look de academia para fazer uma cardio leve de 3 km pela manhã. À tarde eu planejava fazer um treino leve também, já que acabei de chegar aqui e não estou com muitos halteres para treinar.
A corrida foi ótima. O ar fresco da cidade me fez tão bem. Quando voltei, decidi sair com minha vó para a pequena feirinha de uma cidade próxima a São Pedro. Pelas minhas pesquisas, os preços eram bons e tinha bastante coisa confesso que achei que não teria muita variedade por ser área rural.
Coloquei um vestido rosa com pequenas flores vermelhas espalhadas. O vestido era longo, fluido, e mais justo na parte de cima, valorizando bem o busto.
Quando chegamos à feira, vi várias idosas fazendo propaganda de um novo lar de idosos que estão construindo na cidade da minha avó. Me aproximei e uma das mulheres me deu um oi, elogiou meu vestido e me entregou um panfleto. Ela disse que eu parecia muito querida e pediu meu número.
Fiquei surpresa por ela ter celular, não é muito comum aqui.
Cinco minutos depois de eu me despedir, recebi uma mensagem:
— Oie Mali, esqueci de perguntar quantos anos você tem? Eu tenho 55. Ainda sou nova, mas sei que cedo ou tarde vou acabar naquele novo asilo… por acaso é meu filho mais velho que está planejando tudo.
Respondi:
— Oie Cláudia! Eu tenho 13 anos, mas daqui a 1 mês faço aniversário. Que legal que seu filho esteja fazendo isso, vai ajudar muita gente! Ah, e meu nome é Mary kkkk…
Logo depois ela mandou:
— Ah bom, Maly. Eu tenho um netinho, ele é bem calminho… vocês se parecem e alguma coisa me diz que vocês vão acabar juntos. Agora vou indo porque tenho que jantar.
Depois disso, continuei as compras com a vovó e, no total, gastei R$200,00. Tenho esse dinheiro porque antes de eu vir para cá minha mãe me deu R$5.000,00 para gastar comigo mesma, para eu não ficar pedindo nada para a vó.
Quando chegamos em casa e guardamos tudo, fui direto para o meu quarto. Liguei a câmera e comecei a gravar:
— Oiii gente! Eu sou a Maryan, mais conhecida como Mary, e no vídeo de hoje vou mostrar minhas comprinhas. Sei que esse é meu primeiro vídeo e prometo que no próximo eu me apresento melhor pra vocês. Então chega de enrolação e vamos mostrar as comprinhas!
Mostrei tudo:
— De maquiagem, comprei a nova coleção de gloss da Franciny Elkh. Peguei o gloss de chocolate, o Chocotile, e o de sabor mel, o Lip Honey. Também comprei o corretivo da Fran e uma bruma fixadora.
De autocuidado, comprei dois hidratantes da Creamy e uma loção corporal de frutas vermelhas.
De roupas peguei um conjunto rosa de academia e uma saia prata com um cropped preto com brilhos para usar no meu aniversário. Também comprei um tapete de yoga e dois halteres de 5kg.
— E foi isso, gente… espero que tenham gostado! Até o próximo vídeo!
Capítulo 7 – Beck
Depois de terminar meu vídeo, editei tudo rapidinho e, quando percebi, já eram 8h da noite. Eu tinha esquecido completamente do meu treino, mas fiquei tranquila… no dia seguinte eu treinaria com meus novos halteres.
Fui até a cozinha procurar algo para comer. Minha avó tinha feito sopinha, mas como eu não pedi jantar, ela não preparou nada além disso. Resolvi fazer um ovo mexido e meu suco natural de laranja favorito, desde pequena minha mãe fazia pra mim.
Depois de comer, fui para a sala ver algo na TV. Ainda bem que no ano passado minha mãe deu uma televisão nova para a Dona Mily. Não é a mais atual, mas tem 50 polegadas, Netflix, Prime Video e YouTube , o suficiente pra mim.
Depois de pesquisar um pouco, comecei a assistir O Verão que Mudou Minha Vida. Interessante até demais.
Quando deu 22h, fui para o meu quarto, tomei um banho relaxante, coloquei meu pijama e dormi.
No dia seguinte acordei com minha avó batendo na porta, me chamando para tomar café.
Levantei, vesti um top preto e uma saia tule branca, arrumei a cama e fiz minha skincare com os produtos novos. Passei uma make básica e finalizei com a bruma muito potente, por sinal.
O café da manhã foi banana com mel e um café preto sem açúcar. Uns 20 minutos depois, vovó me chamou para ir com ela na casa de uma amiga.
No carro, ela comentou:
— Essa amiga tem um neto da sua idade. Acho que vocês podem ser amigos.
A viagem foi curta, uns 500 metros. A casa dela era linda, enorme, com três andares num tom bege claro. A da minha avó já era linda também, lilás, com dois andares, mas essa era… magnífica.
Quando entrei, fui recebida por uma faxineira. Assim que cheguei à sala, vi um menino de cabelo escuro, olhos azul-marinho e pele bem clara. Ele parecia uma versão masculina minha, só que com olhos azuis em vez de verdes.
Eu tenho cabelo escuro ondulado, olhos verde-musgo e 1,63m. Ele devia ter uns 1,66m.
— Oie, eu sou Maryan, mas todos me chamam de Mary.
— Oi! Eu sou o Beck. Quantos anos você tem?
— Tenho 13, mas faço 14 em breve. E você?
— Tenho 14, mas faço 15 daqui a um mês também.
— Que legal! Eu sou nova aqui e não tenho nenhum amigo ainda… será que a gente poderia…?
— Claro que podemos ser amigos. Por mais que eu more aqui há alguns anos, também não tenho muitos. Na verdade, só tenho dois: o Leon e a Sarah.
— Você não mora com seus pais?
— Não… Meu pai vive ocupado e minha mãe está muito doente. Acho que ela não vai aguentar muito tempo. E você, mora com quem?
Engoli seco.
— Moro com minha avó. Me mudei há uns quatro dias. Minha mãe também está muito doente e… também não tem muito tempo de vida. E… meu pai tem só mais três dias. Eu já me conformei… acho. Me despedi dele, mas não sei se realmente estou preparada pra perder ele de vez.
Beck abaixou o olhar.
— Nossa… que triste, Mary. Se você precisar de ajuda, ou só de companhia… pode me chamar. Estou aqui.
Antes que eu pudesse responder, vovó me chamou:
— Vem, meu amor. Vamos pra casa.
— Já vou, vovó.
Antes de ir embora, decidi pegar o número do meu novo amigo.
— Tchau, Beck. Qualquer coisa, só me dar um toque.
— Pode deixar, My. Se não se importar, vou te chamar assim.
— Tudo bem, Bk…
Sorri sem querer.
Um novo capítulo começava.
Capítulo 8- o encontro
Fiquei tão animada que abri um bloco de notas novo no celular e comecei a anotar várias ideias de vídeos que quero gravar algum dia.
Quando percebi, já era meio-dia. Minha avó me chamou para almoçar e disse que tinha preparado algo especial, já que eu agora tinha virado “fit”.
Chegando na cozinha, encontrei um prato colorido e cheio de salada — alface, tomate, cenoura, beterraba, batata — acompanhado de arroz integral bem soltinho. Estava uma delícia.
Depois de comer, mandei mensagem para BK, o apelido que dei para Beck:
— Oie, aqui é a Mary, ou MY. Tudo bem? Se você não tiver compromisso amanhã, vamos nos encontrar pra conversar um pouco…
— Oie, MY! Estou bem, e você? Claro! Só preciso terminar de editar um vídeo da escola.
— Então combinado: amanhã às 15h eu passo aí na frente da casa da sua avó.
Contei para dona Mily, que ficou toda animada. Ela e a amiga Clau estavam certas de que eu e BK viraríamos amigos rápido.
Voltei pro meu quarto, coloquei meu look novo de academia e fiz meu treino de abdômen, braços e costas, um dos meus preferidos. Depois de uma hora, já estava exausta. Tomei um banho rápido para tirar o suor, coloquei um pijama confortável e deitei. Dormi até 15h20.
Quando acordei, coloquei uma bermuda preta e uma regata cropped branca. Preparei um latte para mim e para dona Mily, cortei algumas frutas e levei tudo para o jardim.
— Vovó, vem aqui fora! Preparei um café da tarde pra gente!
— Já estou indo, meu amor.
Quando ela apareceu, estava escondendo algo atrás das costas. Era uma flor delicada, rosa bebê, tão linda que parecia até de filme. Ela me entregou com um vasinho e pediu que eu colocasse no meu quarto e cuidasse dela com carinho.
Guardei a flor, reguei um pouco e voltei para o jardim.
Sentamos para conversar. Fazia tempo que não tínhamos um momento só nosso.
— E aí, dona Mary… o que achou do Beck?
— Achei ele bem legal! Temos muita coisa em comum.
— Vocês são almas gêmeas, igualzinhos!
— Kkkkk, vovó não para, né?
— Claro que não! Mas me conta… o que está achando de São Pedro?
Conversamos sobre a cidade, sobre minha adaptação e, inevitavelmente, sobre minha mãe.
Meu peito apertou.
— Ainda não consegui falar com ela. Não estou pronta para me despedir…
— Meu amor, você é forte. E eu vou cuidar de você até não precisar mais de mim.
Fiquei emocionada. Conversamos por mais meia hora, comemos as frutas e depois perguntei se havia algum lugar por perto para relaxar.
— Tem uma cachoeira aqui perto. Só descer a rua e dobrar à esquerda. Mas toma cuidado, e não volte tarde.
Fui caminhando até lá. Quando cheguei, vi BK sentado na beira da cachoeira, jogando pedrinhas na água. Sentei ao lado dele.
— Oie, BK. O que faz aqui?
— Oie, MY. Só pensando um pouco… E você?
— Vim relaxar e refletir sobre minha vida.
E ali ficamos, sentados lado a lado, jogando pedras no rio, dividindo o silêncio e, pela primeira vez, sentindo que talvez não estivéssemos tão sozinhos nesse mundo.
Capítulo 9- vizualizações
Assim que cheguei em casa, meu celular vibrou. Recebi uma notificação e abri sem pensar duas vezes. Quando entrei nas redes sociais, quase deixei o celular cair, mais de mil pessoas tinham começado a me seguir, e o vídeo onde eu contava um pouco da minha história já estava com mais de 10 mil visualizações.
Minha barriga chegou a gelar de tanta animação.
Na hora abri a câmera, e comecei a gravar outro vídeo.
Mesmo tendo várias ideias anotadas no bloco de notas, nenhuma combinava com o meu humor. Então pensei:
— E se eu fizesse um vlog noturno?
Apertei no botão para gravar :
— Oie, gente! Aqui é a Mary. No vídeo de hoje, vou mostrar pra vocês como é a minha rotina da noite. Agora são exatamente 18h, e enquanto não tenho muitas atividades para fazer , vou ficar um pouco à toa mesmo.
O tempo passou rápido, como sempre. Quando olhei o relógio, já eram 19h. Peguei o celular de novo.
— Gente, já passou uma hora e agora vou preparar minha janta. Acho que vou fazer uma pra minha avó também, porque ela sempre gosta de algo quentinho.
Enquanto caminhava até a cozinha, uma ideia surgiu do nada e brilhou na minha cabeça:
Um tour pela casa.
Ia ficar perfeito!
Liguei a câmera de novo assim que entrei na cozinha.
— Então, gente… acabei de descer aqui e a janta de hoje vai ser arroz integral com frango e cenoura. Parece simples, mas confiem, fica uma delícia! Para minha vó, vou preparar uma sopinha de legumes, porque ela ama sopa...
Meia hora depois, o cheiro já estava incrível. Terminei os pratos, arrumei tudo bonitinho e voltei para o vídeo.
— Gente, ficou pronta a janta e meu Deus! Está muito boa! Sério, eu amei!
E sorri para a câmera ...