As gotas de chuva escorrem pela janela do meu apartamento em São Paulo, embaçando a vista da cidade e intensificando o peso que sinto na alma. A melancolia, minha velha conhecida, me envolve como uma névoa densa, obscurecendo qualquer resquício de alegria e deixando um rastro de saudade do que nunca foi. Abraço minhas pernas, sentada no chão da sala, enquanto a ansiedade me invade como uma corrente elétrica, acelerando meu coração e prendendo minha respiração.
Diagnosticada com Transtorno de Personalidade Borderline, minha vida é uma montanha-russa de emoções. Sinto tudo intensamente, e a instabilidade nos meus relacionamentos me deixa exausta. Amo com paixão, mas o medo da rejeição me corrói por dentro, me levando a comportamentos impulsivos e autodestrutivos.
A depressão é como um buraco negro que suga minha energia e vontade de viver. Dias inteiros se perdem em meio à apatia e ao desespero. Acredito não ser boa o suficiente, sentindo-me um fardo para todos ao meu redor. A culpa me consome, e a autocrítica é implacável.
Hoje, me sinto particularmente vulnerável. A solidão aperta meu peito, e a sensação de vazio é insuportável. Pego o celular e disco o número da minha terapeuta, buscando um porto seguro em meio à tempestade.
— Alô, Dra. Ana? Sou eu, Mikaelly... Desculpa ligar assim, mas... eu não estou bem — minha voz embargada denuncia o nó na garganta.
— Mikaelly, querida, que bom que ligou. O que está acontecendo? — a voz acolhedora da Dra. Ana sempre me acalma.
— Eu... eu não sei. Sinto um vazio enorme, uma tristeza que não passa. Parece que nada tem sentido — desabafo, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
— Estou aqui para te ouvir, Mikaelly. Respire fundo e me conte o que está sentindo.
E assim, por longos minutos, despejo tudo o que me aflige. Falo sobre a melancolia que me acompanha, a ansiedade que me paralisa, a depressão que me impede de ver a luz no fim do túnel. A Dra. Ana ouve atentamente, sem julgamentos, oferecendo palavras de conforto e compreensão.
— Mikaelly, sei que está sendo difícil, mas você não está sozinha. Lembre-se de tudo o que já conquistou, de todas as vezes que você superou momentos difíceis. Você é forte e capaz de lidar com isso.
— Mas, Dra. Ana, às vezes parece que não vou conseguir. Que a dor é maior do que eu — confesso, sentindo-me frágil e vulnerável.
— Eu sei, Mikaelly. Mas você tem as ferramentas para enfrentar essa dor. A terapia é um processo, e nem sempre é linear. Haverá altos e baixos, mas o importante é não desistir.
Desligo o telefone com um fio de esperança renovado. A terapia é, de fato, um farol na minha vida, me guiando em meio à escuridão. Através do autoconhecimento e do apoio profissional, aprendo a lidar com minhas emoções, a construir relacionamentos saudáveis e a ressignificar minha história. Sei que a jornada é longa e árdua, mas me esforço para acreditar na minha capacidade de superação.
No entanto, a vida prega peças. Em um dia ensolarado, recebo a notícia que abala todas as minhas estruturas: minha avó, a pessoa que sempre me amou incondicionalmente, faleceu. O mundo desaba sobre mim. A dor é lancinante, a saudade, insuportável. Sinto como se tivessem arrancado um pedaço de mim.
A melancolia se intensifica, a ansiedade me sufoca, a depressão me arrasta para o fundo do poço. A terapia parece não fazer mais efeito. Sinto-me perdida, sem rumo, sem chão. A dor da perda se soma à dor da minha condição, criando um turbilhão de emoções que me consomem por completo.
— Não consigo, Dra. Ana. É demais para mim. Não sei como vou seguir em frente — digo, em prantos, durante uma sessão particularmente difícil.
— Mikaelly, eu sei que a dor é imensa, mas você precisa se permitir sentir. Não reprima suas emoções, chore, grite, se revolte. Mas não se entregue à escuridão.
— Mas como, Dra. Ana? Como seguir em frente quando tudo parece perdido?
— Busque apoio nas pessoas que te amam, Mikaelly. Converse com seus amigos, seus familiares. Permita-se ser amparada. E lembre-se: você não está sozinha. Eu estou aqui para você.
As palavras da Dra. Ana me confortam, mas a dor ainda é muito forte. Decido seguir seu conselho e me aproximar das pessoas que me amam. Busco o abraço dos meus pais, o carinho dos meus amigos. Compartilho minhas angústias, minhas tristezas, meus medos. E, aos poucos, sinto que a dor começa a diminuir.
Ainda assim, a tragédia me transforma. A morte da minha avó me faz questionar o sentido da vida, a fragilidade da existência, a importância de valorizar cada momento. Decido, então, transformar a minha dor em força. Transformar a minha tristeza em esperança. Transformar a minha perda em aprendizado.
Começo a me dedicar a causas sociais, a ajudar pessoas que sofrem. Encontro na solidariedade um propósito, um sentido para a minha vida. Descubro que, ao aliviar a dor do outro, alivio a minha própria dor. Ao oferecer esperança ao outro, renovo a minha própria esperança.
A jornada ainda é longa, e sei que haverá muitos obstáculos no caminho. Mas agora, Mikaelly, tenho algo a mais: a certeza de que não estou sozinha. Tenho a terapia, tenho os amigos, tenho a família. E, acima de tudo, tenho a mim mesma. Tenho a minha força, a minha resiliência, a minha capacidade de amar e de ser amada.
E, mesmo em meio à melancolia, à ansiedade, à depressão e ao Transtorno de Personalidade Borderline, sei que sou capaz de superar qualquer desafio. Afinal, a vida é uma batalha constante, mas estou disposta a lutar. E, mesmo que a chuva continue a cair lá fora, sei que o sol voltará a brilhar em meu coração.
A tragédia me ensinou que a vida é um presente precioso, e que devemos aproveitá-la ao máximo. Que devemos valorizar cada momento, cada pessoa, cada sorriso. Que devemos amar intensamente, perdoar rapidamente e agradecer sempre.
E, mesmo que a dor da perda nunca desapareça por completo, sei que posso transformar essa dor em algo positivo. Posso transformar essa dor em amor. Posso transformar essa dor em esperança. Posso transformar essa dor em vida.
E assim, sigo em frente, um dia de cada vez, aprendendo a lidar com as minhas emoções, a construir relacionamentos saudáveis e a ressignificar a minha história. Aprendendo a ser feliz, apesar de tudo. Aprendendo a viver, apesar da dor. Aprendendo a amar, apesar da perda.
Porque a vida é uma jornada, e cada um de nós tem o poder de escolher o seu próprio caminho. E eu escolho seguir em frente, com fé, esperança e amor. Escolho viver, apesar de tudo. Escolho ser feliz, apesar da dor. Escolho amar, apesar da perda
Poesia da Alma em Sombra
Na vastidão do peito, um eco vazio,
A melancolia veste o dia em frio.
A alma suspira, em canções de outono,
Enquanto a esperança se torna abandono.
A depressão, um véu que tudo cobre,
Apagando as cores, silenciando o nobre.
Em cada lágrima, um verso não dito,
Um coração quebrado, um espírito aflito.
A luz se esvai, a sombra se estende,
Em cada passo, a dor se aprende.
Mas mesmo na escuridão mais profunda,
Há uma faísca, uma força que não se afunda.
Pois a alma, resiliente, busca o amanhecer,
E na poesia encontra forças para renascer.
Em cada verso, um grito de esperança,
Acreditando que a luz sempre alcança.
Assim mikaelly 4. "Resiliência em Meio à Tempestade: A História de Mikaelly"