Era uma manhã fria em Nova York, e o arranha-céu da Colden Books pulsava com a energia frenética de uma editora de sucesso. No topo da hierarquia, Margaret Tate, uma canadense de 40 anos, reinava com mão de ferro. Alta, elegante, com cabelos castanhos impecavelmente penteados e olhos que pareciam perfurar as almas, ela era temida e respeitada. Sua presença era como um vento gelado: ninguém ousava cruzar seu caminho. Margaret, editora-chefe, construíra uma carreira invejável, mas a um custo — sua vida pessoal era um deserto, e sua humanidade, segundo os funcionários, estava em algum lugar entre um iceberg e uma máquina de calcular.
Andrew Paxton, seu assistente de 28 anos, era o oposto. Jovem, ambicioso, com um charme despretensioso e cabelos desgrenhados que ele tentava domar, Andrew suportava Margaret há três anos. Ele carregava seus cafés, organizava sua agenda e engolia seus comentários mordazes com um sorriso forçado, tudo em nome do sonho de se tornar editor. Alasca, sua terra natal, era uma memória distante, um lugar que ele trocara pela promessa de Nova York. Mas, naquela manhã, o destino estava prestes a virar sua vida de cabeça para baixo.
O ULTIMATO
Margaret estava em seu escritório, revisando manuscritos com a precisão de um cirurgião, quando a porta se abriu. Era Bob, do departamento de recursos humanos, acompanhado por dois agentes de imigração. A notícia caiu como uma bomba: o visto de Margaret expirara. Por negligência — ou arrogância —, ela ignorara as notificações. Agora, enfrentava a deportação iminente para o Canadá, o que significaria o fim de sua carreira na Colden Books.
Desesperada, mas com a frieza de quem está acostumada a resolver problemas, Margaret olhou para Andrew, que entrava com um latte fumegante. “Eu e Andrew vamos nos casar”, anunciou ela, sem hesitar, para choque de todos, especialmente do próprio Andrew. Ele ficou paralisado, o copo quase escorregando de sua mão. Casar? Com *ela*? A mulher que o fazia revisar contratos às três da manhã?
Os agentes, céticos, marcaram uma entrevista para verificar a autenticidade do noivado. Se falhassem, Margaret seria deportada, e Andrew poderia enfrentar acusações por fraude. Sem escolha, ele aceitou o jogo, mas com uma condição: uma promoção a editor. Margaret, encurralada, concordou.
A VIAJEM AO ALASCA
Para tornar a farsa convincente, Margaret precisava conhecer a família de Andrew. Assim, os dois embarcaram para Sitka, no Alasca, onde a família Paxton aguardava para celebrar o aniversário de 90 anos da avó de Andrew, Annie, carinhosamente chamada de “Vovó”. O contraste entre a metrópole e a pequena cidade insular era gritante. Sitka era um mosaico de montanhas cobertas de neve, águas cristalinas e casas de madeira, onde todos se conheciam. Margaret, com seus sapatos de salto e casaco de grife, parecia um peixe fora d’água.
A família Paxton era calorosa, excêntrica e, para o desespero de Margaret, extremamente acolhedora. Joe, o pai de Andrew, era um homem prático, dono de quase todos os negócios da cidade, mas desaprovava a escolha do filho de abandonar Sitka por Nova York. Grace, a mãe, era o coração da família, com um sorriso que desarmava qualquer um. E Annie, a avó, era uma força da natureza, com humor afiado e uma vitalidade que desafiava seus 90 anos. Havia também Gertrude, a ex-namorada de Andrew, uma loira gentil que ainda carregava uma chama por ele, para desconforto de Margaret.
A farsa do noivado começou mal. Margaret e Andrew não sabiam quase nada um sobre o outro. Durante o jantar, ela inventava respostas desajeitadas sobre sua relação, enquanto Andrew tentava manter a compostura. Mas a química forçada entre os dois começava a gerar faíscas inesperadas. Margaret, tão acostumada a controlar tudo, sentia-se vulnerável naquele ambiente familiar, onde as pessoas se abraçavam sem motivo e riam alto.
MOMENTOS DE VERDADE
A convivência forçada revelou camadas de ambos. Margaret, que parecia uma fortaleza inexpugnável, deixou escapar fragmentos de sua história: órfã desde os 16 anos, ela construíra sua vida sozinha, sem espaço para fraquezas ou conexões emocionais. Andrew, por sua vez, carregava o peso de decepcionar o pai, que queria que ele assumisse os negócios da família em Sitka. Entre tropeços — como Margaret caindo de um barco e Andrew a resgatando, ambos encharcados e rindo pela primeira vez juntos —, eles começaram a se enxergar como pessoas, não como chefe e subordinado.
Uma noite, durante uma festa na casa dos Paxton, Annie levou Margaret para um ritual na floresta, uma dança xamânica improvisada com cânticos e um tambor. Margaret, inicialmente constrangida, acabou se soltando, dançando desajeitadamente sob o céu estrelado. Andrew, observando de longe, viu nela algo novo: uma mulher que, talvez, só precisava de um motivo para baixar a guarda.
A tensão sexual cresceu. Em um momento de vulnerabilidade, eles se beijaram, um beijo que começou como parte da farsa, mas se transformou em algo real. Contudo, o peso da mentira pairava sobre eles. Margaret, pela primeira vez, questionava se valia a pena sacrificar tudo — inclusive Andrew — por sua carreira.
O CASAMENTO E A CONFISSÃO
O fim de semana culminou em um casamento surpresa, orquestrado pela família Paxton, que acreditava piamente no amor do casal. Margaret, vestida de branco, caminhou ao lado de Andrew, ambos nervosos, mas por razões diferentes. Na hora dos votos, porém, a verdade explodiu. Margaret não conseguiu seguir adiante. Diante de todos, ela confessou: o noivado era uma mentira, uma farsa para salvar seu visto. A família ficou atônita, Andrew magoado, e Margaret, com lágrimas nos olhos, anunciou que voltaria para o Canadá.
De volta a Nova York, Margaret começou a esvaziar seu escritório na Colden Books, resignada. Andrew, ainda no Alasca, percebeu que o que sentia por ela não era apenas raiva ou obrigação. Ele pegou o primeiro voo de volta, determinado a confrontá-la. No escritório, diante de colegas e de um chefe perplexo, Andrew declarou seu amor por Margaret, propondo casamento de verdade. Não por um visto, mas porque, contra todas as probabilidades, eles haviam encontrado algo real.
EPÍLOGO
Meses depois, Margaret e Andrew, agora casados, dividiam um pequeno apartamento em Nova York. Ela, readmitida na editora após regularizar sua situação, aprendera a equilibrar trabalho e vida. Andrew, promovido a editor, começava a realizar seu sonho. E, em Sitka, a família Paxton planejava a próxima visita, com Annie já exigindo bisnetos.
O que começou como uma farsa terminou como uma história de amor improvável, onde duas pessoas, tão diferentes, descobriram que às vezes o destino usa as piores ideias para criar as melhores memórias.